CAPITULO 2 - OLODURECÊ

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O DIA PROMETIA CHUVA. O Sol aparecia tímido. As nuvens corriam devagar como montanhas acima de todos, volumosas e cinzentas, fato de que a longa seca iria acabar.

A vida começava cedo sempre, pois ninguém ficava sem comer. O que impulsionava qualquer um para frente ou o deixava para trás para morrer naquele lugar era a fome. Desde muito cedo aprendia-se a escolher entre a vida e a morte.

Olodurecê era um homem rijo. Sua idade transparecia só na cor de seus cabelos, que estavam ficando cada vez mais brancos e em alguns traços vincados ao redor de seus olhos, possuía uma musculatura rija, bem distribuída em seus 1,85m de altura. Herança da sua família materna que existia a muito no Orum que ele lembrava como uma mulher alta e forte se comparada com as mulheres da tribo. Ele era considerado por todos como o melhor caçador da aldeia de Tapa, local de difícil acesso, pois era uma ilha situada estrategicamente nas brumas que cercavam o grande e caudaloso rio Niger, seu acesso difícil era uma barreira natural contra possíveis invasores, Olodurecê era um dos 8 chefes anciãos, dentre eles o mais experiente do Conselho da Tribo e muito respeitado por sua inteligência, julgamento e conhecimento da magia dos Mestres Odés (Caçadores), além de ser quem treinava os mais jovens na arte da caça, essencial à sobrevivência de todos. A caça e a agricultura eram o que matava a fome da sua aldeia.

Tinha o centro de sua cabeça raspado, seu cabelo era trabalhado com waji (anil) misturado ao azeite de dendê, as bordas tinham tranças muito bem feitas, enfeitadas por búzios brancos e pequenos. Era considerado um homem de posses, ele levava atravessado em seu tronco três colares de cores diferentes: um preto e azul, um vermelho e um branco e verde; em sua cintura, um tecido cinza era amarrado numa forma de triangulo, o que lhe dava mais liberdade para caminhar e correr. Terminavam seus pertences um cinto de couro enfeitado com palha de ráfia trançada, feito por ele, com cabaças de vários tamanhos e formatos amarradas em seu redor, onde eram guardados poções e pós para curas diversas e feitiços contra os maus espíritos que povoavam toda a floresta.

Antes do sol nascer, ele saiu com mais três amigos para caçar e trazer algo para a tribo que estava passando necessidades, as mulheres iriam trazer água e fazer os serviço da lida diária no cultivo de alguns vegetais, que cresciam mirrados.

Depois de uma refeição frugal, despediu-se de sua amada esposa Iyalorin. Sua única tristeza era a falta de filhos para passar sua descendência ao mundo, ela lhe deu uma trouxa com alguns mantimentos e um embornal de couro com água.

Pegou seus apetrechos de caça, conferindo-os devagar: suas duas facas, sentiu seus gumes para ver se estavam afiados, seu arco e uma provisão de flechas, sua guarnição de comida, todos arrumados num tecido grosso que amarrou e atou atravessado ao corpo. Na véspera, fez sua devoção aos antepassados e aos deuses, para terem sucesso na empreitada. Antes de sair, olhou o tempo, estremeceu e pediu agô (licença) espantando qualquer possível mau-agouro. Reuniu-se com seus companheiros e amigos Olombi e Kwé e juntos com mais cinco outros Odés (Caçadores) seguirem em direção aos barcos que os levaria a outra margem, à floresta e de lá talvez às pradarias.

O rio estava mais baixo do que estavam habituados, força da seca que estava corroendo e levando a vida de muitos amigos e companheiros e animais devido a fome. A caça se tornara mais escassa também, o que os levavam a percorrer longas jornadas em busca de alimento.

A viagem foi feita em silêncio, pois os grandes Odés, os Mestres Caçadores são invisíveis e silenciosos. Ao adentrarem na floresta sentiram o estranho silêncio e o vento parado, decidiram dividir-se, pois assim conseguiram abater mais pássaros e pequenos macacos, quem sabe alguma caça maior.

Com as horas se adiantando eles escolheram uma clareira onde puderam fazer uma fogueira e levantar uma base onde pudessem se movimentar melhor e descansar. Pediram permissão aos espíritos da mata e então assaram uma das caças; depois de comerem, descansaram um pouco, em turnos e depois que estavam todos descansados e alimentados conversaram:

Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora