Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)

CAPÍTULO 29 - ANDANDO SOBRE O DESTINO

O DESTINO ESTA SEMPRE EM DESALINHO COM NOSSA VONTADE, por mais que nos esforcemos em aceitá-lo, ele tem seu próprio caminho e nunca parece satisfeito, uma faca de dois gumes que carrega a fatalidade escondida entre seus braços, escolher e ser escolhido é só uma perspectiva ou se fores forte uma prerrogativa, nada dura para sempre, mas o tempo é cíclico e volta sobre si para reclamar o que lhe é devido. Nada escapa dele.

Depois de conseguir que Exu lhe desse o segredo das marcas do destino (Odús) Oxum começou a consultar algumas pessoas quando seu pai saia. Sua mãe sempre fora indulgente com ela e achava que sua filha saia-se bem, apenas a advertia para que seu pai não ficasse com raiva, mas a ajudava discretamente. Orunmilá era uma pessoa importante e viajava muito, sempre acompanhado por Exu, seu companheiro, histórias sobre um pacto entre o famoso Babalawô e o mais humano dos Irunmolés eram tecidas. A ligação entre os dois era inequívoca e nem ela ousava duvidar.

Sentira a força do axé de Exu quando deitara-se com ele, nunca sentira semelhante sensação com outra pessoa, ela tocara o destino através dele e isso a extasiou. Mesmo depois de conseguir o que queria dele, ela o procurou novamente e deitou-se com luxúria, repetindo as sensações excruciantes que seu corpo sentira. Precisava ter cuidado, para não se atrapalhar e pegar barriga, mas, para evitar isso, sabia do uso de remédios que limpavam a barriga, pois ela os usou sempre depois dos encontros com o homem. Não sabia que poderia nascer do sexo com um Irunmolé como Exu e temia descobrir.

Seu pai acorreu numa viagem repentina para Abeokutá e deixou suas recomendações para ela e sua mãe, poucos dias depois arrumou tudo que precisava, entre seus apetrechos mágicos, alimentos e água e partiu.

Oxum continuou atendendo seus clientes, sentia-se segura agora, pois os búzios pareciam ter sido feitos para que suas mãos os lessem. Mais e mais pessoas acorriam a sua mesa de jogo e ela ganhava fama e dinheiro, o destino era facilmente entendível para ela e seus ebós (oferendas) tinham uma resposta sempre positiva, era uma especialista nos problemas femininos, amores, fertilidade, feitiços, ninguém a superava.

Numa tarde pouco depois da partida de seu pai, chegou em sua cidade o séquito de Oxossi, o Alaketu, Rei da cidade de Ketu. Ele hospedou-se na casa do coletor de impostos e mandou um mensageiro para falar com Orunmilá.

Oxum viu nessa chegada uma oportunidade rara e preparou-se. Não disse que seu pai não estava, muito pelo contrário, marcou o encontro para a manhã seguinte, depois da refeição matinal, dormiu tensa e acordou muito cedo, fez suas preces, pediu a bênção de sua mãe e em jejum saiu com um pote médio de barro para pegar água fresca no rio e preparar um amaci fresco (banho de ervas). Não vestiu-se com apuro como costumava fazer, apenas besuntou-se com mel e pó amarelo de Osun, cobriu-se com um tecido branco e seguiu seu caminho.

O rio estava calmo, pedras conversavam com a água, que lhe fazia cócegas, o murmúrio do rio era uma cacofonia, onde os peixes, a água, as pedras rolavam e se abraçavam num beijo ardente.

Ela entrou na água até que seus tornozelos ficassem cobertos por ela. Saudou-a e mergulhou o pote enchendo-o, deixou-o na margem e retirou o tecido que a cobria. Deixou-o no mato, com o pote ao lado e então entrou nua na água.

A sensação era sempre a mesma: reconhecimento. Oxum nadou naquela placenta que fertilizava a terra e nutria-se dela. Todos os seus problemas, todas as suas dúvidas sumiam ante o contato úmido que a abraçava integralmente, cessou de respirar e deixou-se ficar imóvel sendo acariciada por todo seu corpo.

Notou uma movimentação súbita na água e então foi arrancada de seu lar. O mundo tinha a forma do rosto de um homem. O homem mais bonito que já vira. Ele estava desesperado e então seu ouvido captou as palavras desesperadas dele: - Senhora está bem? Responda por favor!