CAPÍTULO 54 - PLANOS E CONSELHOS

468 54 29
                                    


O TEMPO PASSA DE FORMA DIFERENTE PARA OS AMANTES. NADA DO QUE HOUVE OU HAVERÁ É LEVADO EM CONSIDERAÇÃO, NÃO EXISTE OUTRO SENÃO, SÓ EXISTE A AFIRMAÇÃO DO HOJE, DO DESEJO EXPOSTO PELA CARNE NA CARNE NUA E DA FELICIDADE QUE ELE PROPORCIONA QUANDO É COMPARTILHADO E SACIADO POR ALMAS AFINS.

MESMO QUE A VIDA SIGA ERRATICAMENTE, QUANDO ESSE SENTIMENTO SE INSINUA NA ALMA, SORRATEIRAMENTE OU NÃO, DEIXA-NOS DESATENTOS, POIS A VORAGEM EM CONSUMÁ-LO É A PRERROGATIVA QUE IMPULSIONA CADA FIBRA DO PENSAMENTO, ALIAS O COTIDIANO TORNA-SE MAIS APRAZÍVEL, É COMO MOLHAR OS PÉS NA ÁGUA FRESCA DE UM REGATO, DEPOIS DE UM DIA EXTENUANTE DE TRABALHO OU DE UM CALOR INTENSO. MATAR A SEDE NESSE LÍQUIDO QUE ESCORRE VIDA É O ÁPICE DO SER HUMANO.

ATRAVÉS DOS OLHOS DO SER AMADO, QUE O ENCANTO DO CORAÇÃO SE INSTALA E É ATRAVÉS DELE QUE OS SENTIDOS SE AGUÇAM E O MEL ESCORRE DE DENTRO DE NÓS NUM PULSO ELÉTRICO QUE CONSOME TODO O NOSSO AR, ALIAS RESPIRAMOS PELO HÁLITO DO OUTRO E SORRIMOS PELOS LÁBIOS ALHEIOS. NÃO IMPORTA O EU QUANDO PENSAMOS NO OUTRO E EM NÓS, NÃO EXISTE COR MAIS BONITA QUE AQUELA ENXERGADA PELO SER AMADO, NEM CHEIRO MAIS EXCITANTE DO QUE O QUE ASPIRAMOS DO CORPO QUE DESEJAMOS.

NADA ULTRAPASSA O ENLEVO ESPIRITUAL QUANTO O AMOR, POIS ATÉ AS DIVINDADES AMAM E TEM NECESSIDADES DE CONSUMÁ-LO.

Depois daquele dia em que se amaram no rio, não existia um único dia em que não desfrutassem da presença de cada um. Tentavam ser o mais cautelosos possível, realizavam as tarefas a que se propunham e que esperavam deles, porém, a febre no pensamento só achava lenitivo quando estavam um dentro do outro, nos lugares mais distantes, longe dos olhares dos outros.

Nesses momentos o tempo parava diante do gozo que ambos proporcionavam a si, nada mais além existia fora do corpo de cada um, da boca de Oyá que ora se oferecia e ora atacava aos lábios grossos de Xangô. Com o passar do tempo, esses encontros assíduos ainda eram selvagens e luxuriosos. Tinham seus arranjos e Oyá quando o encontrava em locais pré-estabelecidos, descia dos céus e o carregava em seus ventos quentes para paragens e locais ermos para então se permitir a viver sem medo de represálias.

Naquela tarde especifica, Oyá repousava relaxada, deitada no peito musculoso de seu amado e suspirou. Xangô acariciou sua cabeça e puxou-a para si, abraçando-a calorosamente, deu um beijo terno em sua testa, olhou seus olhos, ela lhe sorriu enviesada, contornando com seus dedos o mamilo dele, via que o caminho percorrido arrepiava-se e sentiu seu coração bater apressado, seu olhar baixou e ela suspirou novamente. Xangô franziu suas sobrancelhas grossas e perguntou-lhe:

_ O que há Iansã? Sei que algo a aflige, pois conheço esses olhos acobreados e quando eles ficam nublados percebo que algo lhe preocupa. Conte-me tudo meu amor! Estou aqui!

Oyá apoiou-se em seu braço esquerdo e olhou para ele. Como o amava! Nunca sentira ou imaginara que existisse algo parecido com o que lhe devorava o coração, ele era como um membro arrancado de si, doía, latejava, ardia, mas mesmo assim queria senti-lo. Desejava essa ardência.

Respirou fundo e contou-lhe o que estava represado dentro de si: Temia a volta de Ogum, sabia que ele não lhe deixaria ir embora, que seu marido lhe amava, mas ela não e que não queria magoá-lo, mas sabia que o magoaria e por isso temia a reação dele, principalmente quando ele descobrisse que ela se enamorara de seu sobrinho Xangô. Só conseguia pensar em uma coisa – fugir! Sair do caminho de Ogum, pois não queria confrontá-lo.

Xangô escutou tudo de rosto fechado e esperou que as palavras dela parassem. Respirou fundo e estreitou-a em seus braços fortes, sentiu a resposta física de seu corpo, seu coração bateu rápido e por fim controlou-se e voltou seus olhos castanhos para ela.

Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora