Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)

CAPÍTULO 63 - CONFRONTOS

FAMÍLIA É O BEM MAIS PRECIOSO, DEFENDIDO COM TODA DEFERÊNCIA PELOS IORUBÁS E SUA TRADIÇÃO, É ATRAVÉS DA DESCENDÊNCIA QUE SE TEM A IDEIA DE UMA IMORTALIDADE ANCESTRAL, MAIS PRÓXIMA DA DIVINA, QUE REGULARIZA A VIDA COTIDIANA.

AS RELAÇÕES FAMILIARES SÃO DE RESPEITO E HIERARQUIA, TENDO O MAIS VELHO COMO O RECEPTÁCULO DE SABEDORIA E ELO DE LIGAÇÃO ENTRE O PASSADO, QUE NÃO VIVEMOS, MAS QUE ELE PERCORREU E O FUTURO, QUE TERÁ SUA CONTINUAÇÃO ATRAVÉS DA SUA CARNE E SANGUE MULTIPLICADA.

ASSIM NO AIYÊ COMO NO ORUN OS PRECEITOS SÃO IMUTÁVEIS, A MENOS QUE UMA DAS PARTES ODEIE A OUTRA. O ÓDIO É O ADUBO QUE ENVENENA QUALQUER TERRENO FÉRTIL.

A CARNE PODRE E TEMPERADA QUE A LONGO PRAZO ACOLHE O VERME QUE IRÁ SACIAR-SE DE SUAS ENTRANHAS.

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NO ORUN

Oduá caminhava à frente das duzentas Irunmolés, do alto como aves de rapina sobrevoando uma presa, as Iyá Mi seguiam-na, como sua escolta. À frente de todas, surgia como uma pérola reluzente a aldeia pintada de efun (pó branco), onde a maioria dos Irunmolés morava, alguns por causa de seus domínios, moravam em seus elementos, mas era ali que a maioria deles levava a sua vida em comunidade, no meio da praça uma fonte cristalina, como um espelho d'água, onde os dezesseis príncipes do Destino, os Odús estavam cristalizados em estátuas em seu redor, como guardiões e de onde Ifá, o inventor do oráculo emanava suas vibrações para os babalawôs, conforme seus pedidos, via e respondia a todos.

A limpeza do ambiente era impressionante. O cheiro de resinas e folhas com perfumes suaves chegavam suavemente pelo ar, a Grande Mãe inspirou profundamente aquele cheiro conhecido por apaziguar os estados mais agitados da natureza, principalmente a dela, mas que para ela era apenas um odor agradável.

Sabia que seu irmão a esperava. Aos poucos, conforme ela e suas filhas passavam, do interior das casas saiam os cúmplices da existência provida por Obatalá. Estavam ali, os primevos elementais do ar, como Aàjà, dono do tornado, Oye, do vento; do fogo, como Abanignele (a consciência viva da chama), Agayu (o fogo do centro da terra) e Àmòká (do Sol); das águas doces e salgadas, como o anfíbio gigante Olokun, em sua forma humana, para surpresa de Iemanjá e suas irmãs, já que o solitário Rei dos oceanos vivia recluso; das florestas, como os Odés (caçadores); da Terra, Èdàn; da adivinhação, Ifá; entre outros, a grande maioria dos quatrocentos Irunmolés masculinos estava presente naquele momento histórico, muitos não encontravam-se presentes, mas estavam a caminho, pois sentiram no éter a vinda de Oduá. Divergiam entre si nas vestimentas, com tons que passavam por várias tonalidades, porém, todos traziam algum emblema branco representando a ordem dos Funfuns, presidida por Obatalá.

Oduá os olhou devagar, sem intimidar-se com a presença deles. Ao adentrar a praça, os homens inclinaram-se em respeito perante ela. surpreendeu-se com a inesperada recepção e assentiu devagar, sorrindo benevolente, sua barriga enorme apontava sua direção e os olhos de todos a seguiam espantados, esperando respostas que ficariam solúveis no ar, por fim, a Deusa chegou a frente do palácio simples onde Obatalá residia e esperou.

A multidão atrás estava em suspenso e só respirou quando o próprio Obatalá saiu caminhando devagar, apoiando-se em seu opaxorô (cajado), o simbolo de seu poder e status como Rei dos Irunmolés, o objeto era branco e dividido com nove metades de cabaça de tamanhos diferentes, recheado de enfeites de correntes de búzios brancos e okotôs (concha espiralada), cada uma daquelas partes representava uma das dimensões espirituais. Ele parou, estreitando seus olhos pequenos e mirou bem a sua irmã gêmea, seguida pelos Irunmolés masculinos e femininos e sentiu um frio percorrer sua espinha naquela tarde quente.