Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)

CAPÍTULO 15 - RESTOS

A ESTADIA DE IFAGBAYN SE ESTENDEU ATÉ MAIS DOIS DIAS, Oyá permaneceu distante de todos por uma noite e um dia inteiro na floresta, queria estar sozinha, isolada com seus pensamentos e respeitando sua opinião deixaram-na em paz, quando voltou estava modificada, de semblante fechado, triste.

Durante o período em que se isolou na floresta, Aroni falou com Osanyn que iria fazer companhia a ela, mas o médico o impediu, pois sabia que naquele momento o que Oyá menos queria era companhia. Ele mesmo também estava seu coração despedaçado, pois com a morte de Olodurecê, uma parte dele se fora. Com a prática com que sempre se impôs e levara sua vida solitária, voltou a suas atividades, pois tinham que reconstruir sua casa e a da órfã. Aroni e ele então lançaram-se à tarefa de reconstruir tudo que os Ajoguns destruíram. Primeiro, limparam a área ao redor da cabana queimada do falecido caçador e de sua filha, a cortar madeira e escavar o chão onde fincá-las. No fim daquele primeiro dia, o esqueleto da construção estava levantado. Aroni e seu javali carregaram o barro com o qual começariam a fechar espaços dos dois cômodos. Ifagbayn descarregou o ambiente com seus pós e adurás (preces) aos Irunmolés, além de cozinhar para todos, não era o melhor tempero, mas era o que eles tinham para o momento, o velho pegou frutas nas redondezas para complementar a alimentação.

Aroni e Osanyn trabalhavam calados e o silêncio era ensurdecedor, só quebrado pelo som da natureza luxuriante ao seu redor. Só se reuniam para comer e dormir. O homúnculo era sólido e parecia não se cansar nunca. A noite ainda saia para sua vigília pela floresta, o Babalawô se surpreendeu ao vê-lo montar naquele animal gigante, portando sua lança e partir pela noite. O médico e ele então conversavam sobre os mistérios da adivinhação e principalmente das ervas, que o Babalawô considerava uma arte mágica fina. Suas conclusões foram que ambos sabiam muito e nada ao mesmo tempo sobre os ofícios de cada um, mas quando era sobre suas áreas, eram imbatíveis nelas. O conhecimento de Ifagbayn sobre os poderes das plantas era vasto, mas não arranhava os de Osanyn. O conhecimento de Osanyn sobre o oráculo do Ifá era vasto, mas não arranhavam os de Ifagbayn.

Dessas conversas nasceu uma admiração mútua entre ambos e o respeito se instalou confortável, pois já tinham visto muito na vida. Com fogo ardendo sentavam-se e conversavam até tarde.

- Que Olorun tenha compaixão de minha afilhada meu caro! Pois sinto que ela será muito cobrada por sua consciência. A entendo um pouco, sei que é jovem e como todo jovem tem o impulso, a vontade antes do pensamento que leva a ações precipitadas. Não é por menos que seus dons são os ventos! ... Ele não pode ser contido, mas, como você bem sabe, ela é também alegre, generosa, sagaz e temo que o que aconteceu a tenha endurecido. Gostaria de ajudá-la mais, fazer-lhe companhia ou até mesmo levá-la para minha casa ... mas não posso ir contra o que o Conselho designou e decidiu. Além do mais sinto que minha hora esta chegando, preciso retornar para casa e além do mais estou velho, tenho pouco tempo a mais no Aiyê, minha missão está praticamente cumprida.

Osanyn o olhou sério e falou: - Entendo o que me fala Babalawô! Mas se tem uma coisa que aprendi sobre Oyá é que ela é antes de tudo uma mulher forte, tem caráter, se algo a abate, ela reage e enfrenta tudo de cabeça erguida. Lembro que o orgulho com o qual aprendia sobre seus dons a cada dia, a fez ficar mais madura, confiante e agora infelizmente com a morte de seu pai, ela contará cada vez mais consigo mesma, o que penso que será de grande valia para ela.

Ifagbayn olhou fixamente para seu interlocutor e ficou pensativo um instante. Queria muito acreditar que ela ficaria bem, mas então lembrou-se de suas antigas previsões sobre sua afilhada e relutantemente concordou, balançando sua cabeça silenciosamente, pois viesse o que fosse, ela sempre seria forte e enfrentaria a tudo com sua inteligência e intuição. Ela aprendia rápido.