INTERLÚDIO VIII (parte 2 de 2)

311 36 4
                                    



TODO SER É DOTADO DE CAMADAS INTERIORES, E SEU FILHO REVIROU CADA UMA DELAS ATÉ ENCONTRAR A MAIS ESCONDIDA DE TODAS, O ÌPÕNRÍ, ONDE SE LOCALIZA O "EU" MAIS ELEVADO. É UMA REFERÊNCIA DA LIGAÇÃO DA MATÉRIA PRIMORDIAL QUE LIGA O DOBLE PERFEITO DE CADA ALMA QUE EXISTE AO ORUN, ONDE TODA FORMA DE CONSCIÊNCIA EVOLUI DE UMA FONTE PRIMÁRIA QUE EXISTE EM PURIFICAR O QUE É IMPURO, SEM ISSO, TORNA-SE INÓCUO O CRESCIMENTO ESPIRITUAL QUE BUSCA ALINHAR A CONSCIÊNCIA HUMANA COM A CONSCIÊNCIA ETERNA TRANSCENDENTE DA QUAL TODA VIDA EVOLUI.

AS SEIS CRIANÇAS ESTAVAM DESMAIADAS, DEPOIS QUE CADA UMA DAS IYÁ MI AS TROUXERAM PARA ODUÁ QUE AS FIZERAM PASSAR PELO ESCRUTÍNIO QUE REALIZOU EM NWITU. O MENINO JAZIA ENCOSTADO EM UMA ÁRVORE COM O OLHAR PERDIDO, ABOBALHADO, A PROTUBERÂNCIA QUE O LIGAVA A EXU HAVIA SUMIDO, AS OUTRAS CRIANÇAS ASSISTIRAM IMPOTENTES UMA APÓS OUTRA, A INVASÃO DO FERRÃO DE SEU ATERRORIZANTE FILHO NO ORÍ DE CADA UM DELES, PROCURANDO PELO SEU ÌPÕNRÍ E ELAS GRITARAM DE DOR E TERROR.

_ Grande Mãe! – A voz saiu de uma mancha que oscilava vibrando no ar, mudando de cor, vermelho e preto entrelaçavam-se em energias densas, aumentou até que o borrão atingisse a forma de um gigante e sua compleição forte estava marcada por cortes e pinturas arcanas que brilhavam em sua pele. Do cimo de sua cabeça grande, saía um metal avermelhado no centro dela, afiada como uma faca, olhos bicolores tinham a luz das eras, longas tranças enfeitadas com búzios disfarçavam o estranho objeto que ele usava para cortar a matéria densa que separava as dimensões, seus braços grossos e rígidos faziam parelha com seu peito avantajado, estava nu, apenas um saiote de mariwô (palha de dendê) espesso e desfiado cobria seu sexo, por cima dele possuía um cinto feito de couro rodeado de pequenas cabaças coloridas onde utilizava objetos, pós e elementos mágicos diversos, suas coxas musculosas eram rígidas como aço, segurava ameaçadoramente em sua mão direita um porrete grosso e cheio de esculturas e desenhos de mais de um metro, chamado Ogó, usado tanto quanto arma, quanto para quebrar os caminhos entre as dimensões, quando espalhava a força vital do axé por todos os elos físicos e espirituais.

_ Exu! Quanta honra em lhe ver! Faz tanto tempo desde que nos vimos pela última vez que meu coração chora de tristeza até hoje. Sempre fostes tão imprevisível, que não consigo entender porque só agora nos encontramos.

_ Talvez Oduá, porque enquanto você e Obatalá brigavam por migalhas, eu assumi integralmente o meu lugar nesse jogo, me distanciando de cada um, mas sabendo que sem mim, nenhum de vocês e nada do que qualquer um queira realizar, poderá dar certo! Simples assim, pois a energia precisa de direcionamento e quem é o responsável por isso "Mãe"? Responda! – perguntou cínico.

Oduá cerrou seus punhos. Sempre fora assim e ainda mais: ele tinha a primazia sobre tudo, se ninguém o agradar, ele impedirá quaisquer plano ou desejo dele se realizar. Precisava lidar com ele com astúcia, com o rei da esperteza.

_ É lógico que é você filho! – sorriu falsa, forçando-se a controlar.

Exu olhou-a fixamente e então, caminhando entre os intervalos de tempo beijou cada uma das cinco Iyá Mi, que se assustaram com sua ousadia.

_ Senhora, o que ordenar, faremos! – falaram olhando com escárnio e ódio para ele.

Exu gargalhou, dobrando-se no chão, apontando para cada uma delas. Oduá estremeceu de ódio e inesperadamente gargalhou também, deixando suas filhas atônitas, sem ação.

_ Pois bem "Mãe"! Saibas que seu avanço demorou a ser percebido pelos Irunmolés, graças a mim apenas, nada me escapa! Eu soube de sua volta a muito tempo, mas aguardei para que se revelasse, eu a vi já a algum tempo presidindo uma reunião à noite, entre as árvores, onde o sacrifício da vez fora um oxó escravo de Babá Orunmilá. Porém... assumo que escondi seus passos do Grande Pai, pois achei que seria interessante ver pessoalmente a cara dele e de todos os Irunmolés quando chegásseis no Orun Marê. Mascarar os caminhos é uma atribuição minha, sei também que muito do que pensas tem um fundo de verdade, - nisso parou, esperando a reação da mulher, que sorriu satisfeita por pouco tempo. - Porém, não acredito em nada disso, nem de um lado e nem do outro. Seu desejo é tão egoísta quanto o Dele. Sabes bem, que se tudo acabar como você ardentemente deseja, Eu ainda existirei! Portanto, acabe como acabar, Eu permanecerei. Mesmo cada um de vocês encerrando o poder de criar e destruir tudo, poder sem foco e sem movimento se consome na inutilidade. Eu sou o Caos! Sou o Inverso, sou a opção criada por Olodumarê para vocês dois.

Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora