CAPÍTULO 55 - A FUGA

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A SOMBRA MOVIA-SE SORRATEIRA POR ENTRE A ESCURIDÃO SEMI CERRADA DO FIM DA NOITE, UMA MANCHA ESCURA NO CINZA QUE CORRIA ATENTAMENTE ATRAVÉS DO RELEVO ACIDENTADO POR RAÍZES, PEDRAS E ÁRVORES ERA UMA MULHER. NINGUÉM A RECONHECERIA AGORA, ESTAVA SUJA, VESTIDA POR TRAPOS E TUFOS DE RÁFIA TRANÇADOS EM SEUS BRAÇOS E PERNAS, EM VOLTA DE SEUS SEIOS AMARRARA UM TECIDO NEGRO, APERTANDO-O BEM, POIS NÃO QUERIA LEVANTAR SUSPEITAS, COM SEU GÊNERO. SEU PENSAMENTO ESTAVA FINCADO EM SEU DESTINO CADA VEZ MAIS PRÓXIMO: ILÊ IFÉ.

O TEMPO ARRASTA-NOS POR CAMINHOS PEDREGOSOS, MUITAS VEZES SOMOS VÍTIMAS DE NOSSOS PRÓPRIOS JULGAMENTOS. POR MAIS QUE ELA TIVESSE FEITO SUA ESCOLHA, NÃO IMAGINAVA QUE O PREÇO PUDESSE SER TÃO ALTO. CONFORME CAMINHAVA PELO TERRENO IRREGULAR E ULTRAPASSAVA OS OBSTÁCULOS DO CAMINHO INEXISTENTE PARA PODER CAMINHAR E EVITASSE OS PERIGOS POR TRAZ DO MANTO DE VEGETAÇÃO ESPESSA, ELA TEMIA QUE PUDESSE SER TARDE DEMAIS.

LEVOU UMA DE SUAS MÃOS A CABEÇA E SENTIU SUA PELE COBERTA POR UMA CAMADA GORDUROSA DE SUOR, ESTAVA CARECA AGORA POR OPÇÃO, POIS ASSIM NÃO SERIA INTERPELADA E PODERIA SER CONFUNDIDA COM ALGUM MENDIGO. SABIA QUE SUA FUGA JÁ DEVERIA TER SIDO NOTADA A ALGUM TEMPO E QUE ESTARIAM PROCURANDO RECAPTURÁ-LA, MAS A IMPERATRIZ MOREMI FORA CRIADA NAS ARTES DA GUERRA E CAÇA, ESSENCIAIS PARA A SOBREVIVÊNCIA NA SELVA, ARTES NATURAIS PARA OS AFRICANOS, PRINCIPALMENTE PARA A MULHER QUE ERA A ESPOSA DE ORANMYAN.

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O tempo se condensava em vapores dentro de seus pensamentos. Desde que se deixara ser capturada a mais de seis meses por causa de seu sacrifício para descobrir como os Igbôs estavam arrasando aos poucos com Ilé Ifé e reduzindo-os à miséria, Moremi escondeu sua identidade real, pois não queria medidas desesperadas diante desse fato. Tornando-se útil e submissa, foi aceita entre o povo opressor, tornando-se útil e aos poucos esqueceram-se que ela veio de Ifé.

A sua chegada a tribo dos Igbôs foi mais demorada do que ela supunha, mas isso devia-se ao fato de que seus captores faziam voltas pela floresta a fim de enganar seu senso de direção, eles só não contavam com a inteligência espacial da mulher, que sabia utilizar-se das estrelas para se orientar. Quando chegou ao seu novo lar, sua aparência física chamou a atenção de muitos homens e logo uma disputa pela sua posse começou. Atenta e aparentando fragilidade ela procurou fingir ter medo. Seus olhos tentavam abarcar ao máximo os detalhes do lugar e das pessoas que sorriam apontando divertido=se para o que acontecia consigo.

_ Parem com isso desgraçados! – Uma voz trovejante e gutural ecoou e imediatamente todos os homens pararam sua justa e ajoelharam-se submissos à voz imperiosa que falava.

_ Por que essa briga? – Moremi olhou para de onde vinha a voz e reconheceu pelo Adê (coroa) branca na cabeça do homem, que ele deveria ser o Obá. Seus olhos se encontraram por instantes e Moremi viu na face do homem a surpresa e o desejo. Partilharam entre todos o espólio do ataque e Moremi ficou a sós com o Obá dos Igbôs.

_ Qual o seu nome mulher?

_ Kayá Babá! – Ajoelhou-se diante dele, mentindo seu nome e o homem balançou sua cabeça afirmativamente apreciando-a.

Sendo uma mulher bonita, o Obá dos Igbôs tornou-a uma de suas esposas. A tudo isso ela submeteu-se a espera de uma oportunidade para conhecer o segredo desse povo e um descuido da guarda para escapar.

Os Igbôs eram um povo pobre, suas casas eram taperas de barro e com telhados e paredes de palha, famílias levavam uma vida de escassez e apertos, a agricultura era quase inexistente e viviam como coletores e caçadores, junte a isso o ódio ao terem sido forçados para o interior da floresta quando Oduduwá conquistou aquelas terras a anos esquecidos.

Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora