CAPÍTULO 56 - A DERROTA DOS IGBÔS

386 41 24
                                    



O IMPÉRIO IORUBÁ SE DESTACOU COM TRÊS MODELOS DISTINTOS E ÚNICOS: 1º) MESMO SEM UM SISTEMA DE ESCRITA, TINHA UMA CONSTITUIÇÃO EXTREMAMENTE DESENVOLVIDA QUE REGIA O HOMEM FORTEMENTE; 2º) OS IORUBÁS DESENVOLVERAM UM FORTE E DISCIPLINADO SISTEMA MILITAR, O QUE ACARRETOU NA CRIAÇÃO DAS FUNDIÇÕES E NA PRODUÇÃO DO FERRO PARA ARMAS EM LARGA ESCALA, BEM COMO IMPLEMENTOS AGRÍCOLAS PARA AUMENTAR A PRODUÇÃO DE ALIMENTOS; E EM 3º) UM SISTEMA PRÁTICO DE ADMINISTRAÇÃO, ONDE SE ADOTOU UM SISTEMA DE GABINETE DO GOVERNO, MUITO ANTES DOS MODERNOS ESTADOS EUROPEUS QUE VIRIAM A EXISTIR FUTURAMENTE. ERA ATRAVÉS DESSE NÍVEL DE ORGANIZAÇÃO QUE DESDE O OBALUFÉ (IMPERADOR), AOS DEMAIS CHEFES EM TODOS OS NÍVEIS, TÊM SEUS PAPEIS E RESPONSABILIDADES CLARAMENTE ENUNCIADOS E CUMPRIDAS COM SEPARAÇÃO DE PODERES E INSUMOS PARA FREIOS E CONTRAPESOS.

E ESSA ESTRUTURA DE COMANDO MILITAR QUE LEVOU AO SUCESSO DAS BATALHAS TRAVADAS E PRESERVOU A INTEGRIDADE TERRITORIAL DO POVO IORUBANO, ESTENDENDO SEUS LIMITES TERRITORIAIS MUITO ALÉM DO ESPERADO, NO SEU AUGE, O IMPÉRIO ABRAÇOU NUPE, DAHOMEY, ABOME, WEME E PARTES DO TOGO.

-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X

As sombras moviam-se silenciosas na noite imóvel e quente. A indolência tomava conta da população que dormia. Uma paz invisível se espalhava como fumaça venenosa.

Os Mascarados Igbôs esperaram dez dias para decidir sobre o início da invasão, espionaram o local de longe nesse período e viram quando os exércitos saíram da cidade, deixando-a levar sua vida normalmente. Um após um, despediram-se do Rei, que em seguida, montou em seu cavalo branco e comandou seus homens com destino ignorado. Exultaram com aquelas cenas. Esperaram mais uns dois dias de certeza para então o Obá de Igbô, ao receber as novidades decidir junto com o Conselho de Anciãos e sua realeza que iriam iniciar o maior saque à cidade. O ciclo vicioso requeria mais ambição e audácia. Eram muitos e precisavam urgentemente de mais alimentos e escravos.

Ao moverem-se tão silenciosos como um caramujo, estavam preparados para tudo, inclusive matar ou morrer. As roupas de rafia que usavam eram volumosas, calorentas, pois cobriam os corpos dos cento e quinze homens igbôs que entraram sem maiores problemas na capital do reino. Suas máscaras de madeira eram bizarras, coloridas e exibiam olhares esbugalhados, ameaçadores, dentes afiados e feições tanto humanas quanto animais, suas roupas possuíam feitiço em suas confecções, passavam por um processo onde as características das máscaras eram injetadas na roupa como um todo, dando a quem as usava habilidades especiais, entre elas a da invisibilidade, força e agilidades sobre-humanas. Não foram vistos pelos sentinelas que conversavam e aos poucos esgueiravam-se entrando pelos portões de Ilê-Ifé, movendo-se tão rápido quanto uma piscadela.

Dividiram-se assim que adentraram para melhor atacarem os poucos guardas que estavam de vigia. Enquanto um grupo encaminhou-se direto para o mercado, o outro derrubava os guardas nas portas de entrada, soprando sobre eles um pó negro que ao aspirarem os faziam cair num sono profundo. O silêncio era sua única companhia. Estavam dentro da capital do Império! Estranharam a imobilidade nas ruas, além da mudez, a completa escuridão na maioria das simples moradias, lembrava um cadáver. As tochas de azeite de dendê espalhadas pelo ambiente, iluminavam parcamente as ruelas da entrada até o centro e o entorno até o pátio da praça principal a uns quatrocentos metros e da grande área do mercado. Ao longo do caminho enormes fardos de capim seco de quase três metros de altura eram avistados, não entenderam o porque disso e então escutaram o som de vacas e outros animais, sorriram intimamente, pois o espólio que levariam era enorme, fora os escravos que capturariam e seriam usados no plantio e manejo dos animais, além de carregarem riquezas e alimentos diversos para Ilê-Igbô. Fartura abençoada. Aquele povo que invadiu as suas terras a tanto tempo atrás receberia a lição final, pois depois que eles expulsaram os Igbôs, a fome e a miséria os perseguia.

Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora