CAPÍTULO 20 - A FILHA PRÓDIGA

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PAI E FILHA FRENTE A FRENTE, GUNRÊ E OYÁ SE RECONHECERAM DE IMEDIATO, não foi preciso nenhum sinal, gesto. O sangue filial era um poderoso elo, mesmo Oyá sendo um prodígio, quase um milagre, seu pai não ficava atrás, era um búfalo albino gigante, um ente espiritual que protegia a floresta. O axé mútuo era factível com o de Oyá.

Eles se aproximaram devagar um do outro, se olhando fixo. Inspiraram fortemente o cheiro um do outro e Gunrê sentiu o perfume de sua rainha a muito desaparecida, como nuvens imagens de sua Tokolé riscaram sua mente e ele olhou atentamente aquela que era como uma cópia dele e gostou do que viu, pois ela seria uma futura rainha formidável para seu bando. Se comunicava através de gestos e de mugidos fortes que Oyá entendeu como se sempre fora um búfalo.

Em pouco tempo estava acostumada a vida como animal e seguiu seu pai com o bando de vinte búfalos pelo mundo afora, que a aceitaram sem reservas. As paisagens mudaram da floresta para a savana a pântanos e ela se deslumbrou em como o mundo era vasto e desconhecido. Cada vez mais se ajustava a nova vida e esquecia como era ser humana, alias, quando lembrava disso, era como se sua outra vida nunca tivesse existido. O bando lhe respeitava como filha de Gunrê, sabia que seus dons seriam úteis quando surgisse a oportunidade e quando ela surgiu, nunca foi tão fácil invocar o vento e o raio para afugentar os perigos que cercavam todos eles em qualquer lugar. Caçadores, leões, hienas só para citar alguns deles foram todos escorraçados por ela quando se atreviam a chegar perto de sua família. Oyá estava plenamente cônscia e em perfeita harmonia com seus dons.

Gunrê cada vez mais se orgulhava de tê-la como parte de seu bando e a vida transcorria calma e eles só tinham que existir.

Chegou o período das chuvas e eles prosseguiam sua caminhada pela savana, rios enchiam e a vida se tornava difícil para todos, caçadores adentravam floresta adentro e muitas vezes chegavam à área da savana. Cada vez mais caçadores eram avistados próximo de onde eles estavam.

Oyá e o pai se afastavam as vezes para espionar os arredores e ver se estavam seguros. Gunrê por seu tamanho não era tão ágil como ela, mesmo com seu tamanho, Oyá era leve quando corria, mas tão letal quanto seu pai. Ela viu uma briga entre ele e três leoas e viu o estado que uma delas ficou depois que ele a perfurou com seus chifres, matando-a, as outras fugiram.

Quando tempestades elétricas açoitavam Oyá os protegia, direcionando os raios para que caiam em locais onde não possam atingi-los. Um salvaguardava o outro e os dois protegiam o bando de tudo e de todos. O tempo mudou e eles se reaproximaram das florestas próximas a Irê. Oyá não sentiu a presença de suas antigas companheiras Geledés, momentaneamente pensou em Obá e esperou que tudo estivesse bem com ela e suas irmãs. Seguiu em frente junto a sua nova família. Não olhou para trás.

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O grupo de homens saiu do nada. Brotaram do chão tomando de assalto o bando de búfalos de surpresa. Cavaram trincheiras e pequenos túneis onde poderiam esperar que as presas aparecessem. Não acreditaram na sorte quando no final da tarde avistaram um bando de búfalos indo em sua direção sendo calmamente liderados por um búfalo branco enorme. Logo atrás vinham os outros, os caçadores contaram vinte e um deles, entre machos e fêmeas, mas dois se destacavam: um macho, que deveria ser o líder da manada e uma fêmea, imponente como ele e alva como um floco de algodão, pelo porte eles deveriam ser pai e filha. Se posicionaram com seus arcos e flechas retesados, mirando nos dois animais maiores.

O ataque foi rápido e sete dardos acertaram Gunrê. O bando ficou em polvorosa e desorientados e desesperados correram para trás. Oyá viu seu pai cambaleando e percebe que caíram numa armadilha bem preparada, imediatamente os açoitou com um chicote de vento, mas os homens estavam bem protegidos pelas trincheiras no chão, mas pelo menos ela fez com que os outros pudessem fugir. Seu pai olhou firmemente para ela e virou-se decidido para atacar os caçadores, ele sangrava onde foi atingido pelas flechas e Oyá se pôs ao seu lado.

Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora