CAPITULO 10 - DOMANDO O VENTO

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OYÁ ACORDOU DE UM SONO AGITADO TÃO LOGO O PAI LEVANTOU-SE TAMBÉM PARA DAR INÍCIO AS SUAS ATIVIDADES COTIDIANAS. Aos poucos abriu os olhos preguiçosa, sentiu uma pontada forte conhecida na barriga, uma indisposição lhe cobria como um cobertor. Sabia o que isso representava. Suas regras estavam para vir, pensou em pedir ao Babá Osanyn um remédio para a dor forte que sempre vinha quando de sua menstruação, sentia vergonha ainda quando pensava nesse assunto, mas entendia que se existia alguém que a poderia ajudar era ele.

Já se passaram quase três meses desde que se estabeleceram ao lado da cabana dele e de Aroni. Sentia o tempo correndo como um riacho calmo. Não os conhecia bem ainda, estava convivendo com seus vizinhos um pouco de cada vez, mas reconhecia que o anão era muito engraçado, sempre fazendo-a rir com suas tramoias, que muitas vezes deixavam o alto Osanyn enfurecido. Ela sabia que ele não era mal, não tinha uma ideia definida sobre ele, mas sabia, ou melhor sentia, que ele não se sentia bem frente a ela. Achava que deveria ser só timidez, seu pai lhe advertira, pois comentara com ele sobre isso, mas ela ainda não sabia dizer, ela sentia uma reserva da parte dele. Só que aos poucos recuperava um pouco sua vida, tinha um lar.

Levantou-se, espreguiçou-se um pouco, ajoelhou-se e conforme aprendeu com seus pais e seu padrinho, louvou ao Criador, ao dia que nascia e ao seu Ori (Cabeça interna) e em seguida correu a um riacho próximo a cabana para sua higiene pessoal matutina. Aos poucos, conforme lavava o rosto e a água fria e cristalina tirava os últimos resquícios de seu sono, pôde admirar o dia ensolarado e a mata fechada em seu redor, ajeitou seu cabelo prendendo-o com uma tira de tecido e tomou um banho rápido e depois trocou a roupa. Voltou e pôs-se a preparar o desjejum da manhã: algumas frutas que colheu junto com Aroni ontem, leite fresco de uma cabra que Osanyn criava e que dera filhote a pouco e um pirão de farinha de inhame (Amalá) que era servida em folhas grandes.

Depois de tudo pronto, ela se apressou a chamar seu pai e seus vizinhos. Depois que todos se saudaram, agradeceram a Olorum (Deus) a comida e enfim comeram.

Oyá por ser a mais nova, comeu por último e depois que todos estavam satisfeitos recolheu o que foi utilizado. Em seguida pôs-se a preparar o almoço. Teriam uma caça, que seu pai tinha matado ontem e limpado assim que chegara, colocou mais lenha até que o fogo avivou-se novamente e temperou a carne com ervas, gengibre, pimenta e untou-a com azeite de dendê e pasta de karité, para em seguida assá-la na brasa, pilou um creme apimentado com gengibre que acompanharia a carne, junto com tubérculos cozidos, pois todos sairiam para suas funções e depois que tudo estivesse pronto ela teria a tarde para treinar seus dons conforme lhe dizia sempre Babá Osanyn.

Aroni cada vez mais se tornava seu mestre, ele lhe mostrava coisas que a maravilhavam e a aterrorizavam também. Ela já tentara de todas as formas ficar invisível como ele tinha lhe mostrado, mas não tinha conseguido, algo a bloqueava e ela não entendia como algo para ele era tão fácil e para ela não.

Também não entendia o porque dos banhos muitas vezes repugnantes que ela tomava e que lhe deixavam tão bem ou cansada depois de tomá-los e as oferendas que Babá Osanyn lhe prescrevia a faziam se sentir cada vez melhor.

Mas Aroni rapidamente se tornou mais que seu professor, ela o considerava um amigo. Na verdade não entendia o que ele falava, era humana e não entendia a linguagem dos pássaros, que ele falava, mas quando olhava em seus olhos sentia uma segurança e um carinho imenso emanado dele que não conseguia entender, davam-se perfeitamente bem e a cada vez mais, Oyá tornava-se forte em corpo, mente e espírito, com todos os cuidados que eles lhe dedicavam, mesmo quando os dois a forçavam além do limite cada vez mais.

Muitas vezes se sentia extenuada depois de um dia de exercícios e treinamento, uma dor de cabeça persistia por traz dos seus olhos, devido ao esforço mental em direcionar seus dons, mas sentia que os músculos dos braços e das pernas tornavam-se cada vez mais rijos. Ela já conseguia correr sem se cansar por grandes distancias dentro da floresta e por vezes conseguia subir rápido em árvores e pular passando de galho em galho. A vista de cima da copa das árvores era esplêndida. Um outro mundo se abria diante dela e nesse momento ela se sentia livre e gritava a plenos pulmões de cima das folhagens, espantando os animais próximos.

Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora