CAPITULO 16 - SOCIEDADE GELEDÉ

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CAMINHANDO PELOS OBSTÁCULOS NATURAIS DA SELVA OYÁ PENSOU EM DESISTIR DE SEU INTENTO, dormir ao ar livre não era uma de suas virtudes, mesmo tendo sido treinada por um grande Odé (Caçador), seu falecido pai Olodurecê, pois estivera sempre acostumada ao conforto de um lar junto de sua família e recentemente dos amigos que ela e seu pai fizeram. A floresta por si só já era um desafio sólido e cheio de perigos, além dos predadores naturais a mata fechada era um local de grande fluxo de espíritos e outras entidades sobrenaturais. A confiança que ela tinha em si e em seus dons era reforçada quando ela tocava o cabo de madeira do iruexim (espanador ritual feito de pelo de búfalo) dado por Babá Alapalá quando do enterro de seu pai.

Caminhou dois dias seguidos adentrando a vegetação fechada, descansando pouco. Sabia que a trilha que Osanyn e Aroni tinham ensinado ficava difusa em muitos trechos, mas ela parecia não se importar mais com isso, num impulso tomada pela intuição, rumou mais para o Leste, se encaminhado para as terras onde sabia existir uma sociedade de amazonas chamada Geledés. O pouco que sabia era que as mulheres que a formavam eram chefiadas por Obá, uma guerreira que rivalizava em força e destreza a muitos homens, viviam da caça e tinham o controle sobre forças sobrenaturais que sempre a deixaram curiosa. Curiosidade era uma das forças motrizes dela e devido a essa busca de novas experiências Oyá conseguia sempre se sair bem em relação a aquisição de conhecimento, os quais absorvia rapidamente e transformava em seu domínio.

Dormia muitas vezes nas copas das árvores gigantes, pois o chão oferecia mais perigo que às alturas. Vez ou outra via grandes predadores como tigres desgarrados da área de savana, pequenos roedores, aves de rapina e macacos, símios e uma vez viu de perto, pois estava no ar, uma família de gorilas e achou-os singulares, nunca tinha visto símios de tão grande porte. Ao término do segundo dia de caminhada, ela avistou vestígios da presença de seres humanos em alguns lugares, mas não saberia precisar se eram as Geledés ou caçadores. Resolveu ficar por perto escondida e averiguar.

A comida que trouxe, um pouco de carne seca acabou e ela precisou caçar para melhor se alimentar, afinal frutas e os pequenos vermes que habitavam as cascas das árvores não eram uma alimentação suficiente para ela. Flechou um roedor pequeno o qual preparou num fogo quando a a noite chegou mais fria. Escondeu sua trouxa no alto de um tronco oco seco grande que fora abraçado por outra planta, o lugar lhe pareceu seguro e poderia repousar a noite e se proteger. Antes, usou seu vento, criando um redemoinho dentro dele e limpou o lugar para evitar insetos e répteis peçonhentos. Ela observou o fogo se extinguir e resolveu dormir pois estava cansada.

A fumaça subia em espirais quando ela escutou o som de passos. Apurando o ouvido colocou-se em alerta. Içou-se devagar usando seus braços e segurou seu arco e flechas e se posicionou a espreita para ter uma melhor visão do entorno.

Esperou e notou ao longe o som de vozes abafadas. Não conseguia entender o que falavam, mas as vozes eram femininas. Ela ficou ansiosa pensando que tinha encontrado as amazonas, controlando-se ela forçou-se a controlar o máximo sua respiração. Sua pulsação agora latejava em suas têmporas. Suor escorria de sua testa. Tentou apagar o fogo usando o vento mas não conseguiu exatamente o que queria, pois o cheiro da fumaça se espalhou e qualquer pessoa conseguiria reconhecer que alguém estivera ali e que estava por perto, pois a brasa daria a ideia de quanto tempo teria passado alguém ali.

O tempo se arrastava como o suor que caia de si. Mesmo com toda sua atenção ela não conseguiu notar a lança que era apontada direto para seu pescoço, somente quando a lâmina a tocou e ela se assustou com a mulher enorme que estava quase que pregada na madeira. Oyá só enxergou seus dentes muito brancos e seus olhos. Sem poder reagir ela então largou suas armas e a mulher a cutucou com sua lança, enquanto sombras se adiantavam e pegaram seu arco e flecha que caíram no chão.

Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora