CAPÍTULO 41 - UM ACORDO

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AS DISTÂNCIAS ENCURTAM CONSIDERAVELMENTE SE ANDAMOS COM UMA COMPANHIA AGRADÁVEL. A AMIZADE E O COMPANHEIRISMO FAZIAM COM QUE OS PESOS, O CANSAÇO E A ANSIEDADE DA SAÍDA, DO CAMINHO E DA CHEGADA FOSSEM SUPORTÁVEIS. XANGÔ NÃO TINHA ISSO COM OMULU. O HOMEM ERA ASSUSTADOR NAQUELA ARMADURA DE PALHA DE RAFIA, ALÉM DISSO SEU ESTADO SORUMBÁTICO, SEU MUTISMO E SUAS DORES E FEBRE ESPORÁDICAS ATRASARAM MUITO ELES.

Por mais que o jovem príncipe quisesse, a presença dele o incomodava. Não era homem dado a amenidades, seu caráter era forte, mas muitas vezes ficava comovido com as dificuldades enfrentadas pelo homem. Além de que, Omulu era um feiticeiro poderoso, conforme viu, quando pelos caminhos o observou usando seus dons de cura.

Por mais que tentasse compreender como ele os usava, não conseguia imitá-lo. Pôs-se a observá-lo atentamente para ver se ele usava algum componente mágico, mas aos poucos percebeu que o homem tinha esse dom dentro dele e de alguma forma esse axé transbordava. Intuía que esse dom tinha a ver com sua história singular e com sua maldição.

Um fato que o estarreceu foi quando ao passar por uma aldeia, ele ficou furioso com um sujeito que bateu em sua esposa grávida. A mulher teve um princípio de aborto e Omulu a cuidou com desvelo e solicitude, nesse momento era outra pessoa que estava ali. Sua delicadeza no trato com os doentes era comovente. Mas, sua fúria abateu-se sobre o homem, o agressor o enfrentou bradando que ela era usa esposa e que a mesma só o tinha dado filhas mulheres, fato que o oráculo confirmou novamente e o homem revoltou-se batendo na sua esposa.

Xangô aproximou-se para intervir, mas o olhar que Omulu lhe lançou por trás da máscara foi sentido como uma séria ameaça, que Xangô recuou amedrontado.

O homem partiu para cima do curandeiro e feiticeiro, mas Omulu escapou de seu golpe facilmente. Xangô arregalou os olhos surpreso com a agilidade dele e compreendeu que ele possuía boas técnicas de combate. Para cada grito de raiva do homem, o silêncio frio de Omulu era a resposta.

Aquele combate já estava demorando mais do que deveria. Xangô recostou-se num troco seco junto com alguns dos moradores do lugar que gritavam incentivando a luta. Xangô estava calado analisando. Percebia que Omulu estava se cansando, pois via-o exitar. Não foi o único que percebeu, pois o homem armou-se de um galho e bateu-o no chão, levantando poeira. Omulu estacou e levou suas mãos aos olhos e foi derrubado por uma rasteira do homem que lançou-se em cima dele, desferindo vários golpes com seus punhos, rasgando a máscara dele. O homem retirou sua mão gritando de dor.

Todos levantaram-se sem entender o que estava acontecendo. O homem ajoelhou-se urrando de dor. Todos recuaram quando pústulas irromperam de sua pele, correndo da sua mão, pelo braço, tomando seu corpo inteiro. O cheiro de pus tomou conta do ar e os outros homens ajoelharam-se pedindo misericórdia a Omulu.

_ O que fizeste com ele? - Perguntou Xangô. Não ousava se aproximar do pobre infeliz. Tinha horror a doença e vira com seus próprios olhos que Omulu tanto curava, quanto provocava a moléstia.

- Apenas dei a ele algo com o que se preocupar: a morte! – Respondeu tampando com sua mão o local da máscara avariado pelos golpes do homem. Virou-se para o infeliz e levantou-a na frente dele. Xangô escutou o som do ar sendo sugado e viu que um vapor amarelado partia do homem chorando no chão e entrava na boca de Omulu que cambaleou por instantes. Colocou a máscara de volta que estava inexplicavelmente consertada e falou para os outros.

_ Levantem-se, pois não sou nenhum Deus para que se ajoelhem perante a mim! – Disse isso e retirou cinco búzios e algumas pérolas de um colar seu e o entrou a esposa grávida do homem que chegou correndo para ver o que estava acontecendo e ficou horrorizada com o que viu.

Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora