INTERLÚDIO VIII (parte 1 de 2)

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AS GRANDES MÃES ESTÃO EM TODOS OS ELEMENTOS, BEM COMO NO ÚTERO DO PLANETA, AS ÁGUAS VERDES OU AZUIS. A BASE ESTRUTURAL DA VIDA QUE EM NATURAL OPOSIÇÃO PRESIDE A MORTE.

ODUÁ ERA O EXEMPLO QUE PERMITIA CADA UMA DE EXISTIR, ERAM O REFLEXO DE SUA MÃE. AS VENERÁVEIS ANCIÃS SÃO REPRESENTAÇÕES DO CAOS FURIOSO, MAS QUE ALENTA O SOPRO VITAL, SEM A MULHER NADA VIVE.

AS IYÁMI SÃO FORÇAS SINGULARES E ANGULARES, ARCANAS, MATRIARCAS, CANALIZANDO O PODER SOBRENATURAL FEMININO, POIS DEPENDENDO DE SUA COR, ELAS DESEMPENHAM UM TIPO DE FUNÇÃO, MAS TODAS SÃO GERADORAS DE VIDA, FILHAS PREDILETAS DE ODUÁ, A ABISSAL, O ÚTERO É SUA REPRESENTAÇÃO NO CORPO DAS MULHERES.

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A cada membrana espiritual que rasgavam, voando no fogo e no vento cósmico, tão rápidas quanto o brilho da luz da morte e nascimento das estrelas, mais distanciavam-se do Aiyê e do plano físico. A estrutura física dos planos existenciais era parecido com um formigueiro, centros onde as dimensões se sustentavam e entre eles várias rotas e atalhos que os ligavam para o fluxo de informações e de ida e volta, dos espíritos que viviam sua eternidade neles. Cada um dos Oruns pelos quais passaram, testemunhavam a estupidez da vida conhecida. Esse estado de consciência a que chamamos vida, é um eterno combate selvagem e violento entre irmãos, existente antes de que o tempo fosse criado e ainda hoje sentido. Tudo nasceu da inveja e disputa entre os próprios construtores, se havia um plano inicial, ele foi deturpado antes da Criação.

Imersas em seus pensamentos conjuntos, mal perceberam quando logo após banharem-se no fogo de uma estrela anã, onde tocaram os elementos pulsantes do Início, emergiram brilhantes e cobertas pelas chamas. Deram um salto em mais um rasgo inter-realidades e em sua linha ascendente surgiu adiante o Orun Rere, seu próximo passo em direção a casa do Primevo, Olodumaré. Agora faltava pouco. As distâncias percorridas eram cada vez mais longas, pois os últimos Oruns eram distantes devido ao direcionamento de sua natureza cada vez mais refinada e estreita.

O planeta era menor do que a Lua que orbitava a Terra do Aiyê, anéis brancos o rodeavam, como destroços de cristais, quando passaram próximo a eles, notaram que eram as lágrimas de Oxumarê, a cobra infinita, tocaram-nas e sentiram as pontas de seus dedos congelarem devido ao frio intenso, as superfícies das estruturas eram multifacetadas, como diamantes lapidados e refletiam milhares de Iya Mi e Oduá. As nuvens brancas cerradas escondiam um mundo calmo. Um zumbido cresceu ao redor delas, perceberam que necessitavam refinar sua massa energética, pois a simples presença delas ali em toda sua plenitude poderia desencadear cataclismos sem fim. Expulsaram de si energias que reverberaram pelos cristais, que tilintaram, muitos derreteram e caíram como gotículas entre as nuvens altas, numa chuva salgada.

Sentiram a gravidade baixa com uma bolha expandida e o ar rarefeito e frio do planeta as beijou.

Rios prateados e uma vegetação diferente de tudo o que já viram se estendia a sua frente, o que mais impressionava era o verde claro, o amarelo em tons de dourado e o branco gelo de algumas árvores dali, misturadas as espécies que conheciam do Aiyê e que se multiplicavam pelos Oruns, que nada mais eram do que cópias, com maior ou menor amenidades, dependendo de seus habitantes.

A natureza do Orun Rere se acercou das seis Mães Primordias. Era para aquele pequeno orbe que se encaminhavam os poucos humanos comprovadamente que foram bons durante a vida, foi criado como um dos melhores locais onde os espíritos bons de coração, ligados a família, a amizade verdadeira, a ajudar o próximo acima de suas necessidades, eram designados a conviver, composta de clãs, parentes e amigos. Comunidades inteiras viviam ali, num local sereno e extremamente prazeroso. Bastava deixar-se envolver pelo cheiro agridoce do ar para entender.

Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora