CAPÍTULO 21 - O CASAMENTO REAL

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A JORNADA DE VOLTA A IRÊ DUROU TRÊS DIAS A CAVALO. Oyá nunca tinha visto um animal como aquele de perto, ele estranhou-a à princípio, sentiu seu cheiro e relinchou assustado. Ogun o segurou acalmando-o, até que ela se aproximasse sem problemas dele. Por fim, quando estava acostumado com ela, colocou-a em na garupa dele e segurou as rédeas guiando-o. Comiam quando paravam para descansar e o Onirê tentava quebrar o silêncio desconfiado dela puxando assuntos diversos. Oyá era avessa ao contato humano, mas respondia ao que era perguntado e como ele já sabia que podia se transformar num búfalo, contou aos poucos sua história, sempre com medo da reação do homem musculoso à frente, mas ele estranhamente a olhava maravilhado e embevecido. O brilho no olhar dele a constrangia, pois nunca tinha sido cortejada por nenhum outro homem. Tudo era novo para ela.

Caçaram juntos um dia e ela conseguiu atingir uma presa mais rápido do que ele com o arco e flecha, o que o surpreendeu. Chegaram na sua cidade no fim da tarde do terceiro dia. O povo saldou o seu Rei, como de costume, por onde ele passava: Ogun ye!. Olhavam curiosos, a bela moça que vinha na montaria real. Em pouco tempo todos estavam se perguntando: Quem é ela? Seria uma Princesa? Seria uma escrava, um espólio de guerra? O burburinho em torno da bela amazona crescia como um rastilho de fogo em palha seca.

Alheio a tudo e a todos, impassível Ogun chegou ao prédio do palácio acompanhado pelo zum-zum-zum da fofoca. Entregou o cavalo aos cuidados dos cavalariços que acorreram à sua chegada e pegou Oyá em seus braços fortes a pondo gentilmente no chão. Ela olhou assustada para aquele lugar imenso, muito maior do que tudo que vira em sua vida tentou sorrir, mas não conseguiu. Ogun sentiu uma ternura enorme por aquela criatura tão frágil diante dele e segurou sua mão encorajando-a a segui-lo.

Mal entraram, suas quatro outras esposas que estavam agrupadas à frente do palácio correram para ele tentando atrair sua atenção e olhavam hostilmente para a moça malvestida que o Rei trazia junto a si. Elas nunca tiveram tal condescendência por parte dele.

- Ogun ye!. Repetiram todas, saudando-o ao mesmo tempo. Sorriram, todas dentes e mesuras. Tentaram em vão tocá-lo, mas ele não as consentiu. Levantou sua mão com um gesto de desprezo cortando o assunto como o aço rasga uma folha de papel e falou autoritário de um jeito que não aceitava recusas:

- Muito bem, minhas esposas. Esta que trago é Oyá, uma mulher de valor e de dons especiais que farei minha consorte. Quero-a limpa, bem vestida, alimentada e enfeitada com as melhores jóias para ser apresentada à cidade daqui a pouco. Se por acaso, algo não sair de acordo com o que ordenei, todas vocês sentirão a minha ira. Agora irei aos meus aposentos, me porei limpo e quando sair espero que ela esteja pronta conforme meus desejos. Fui claro?

Perguntou abrindo seus olhos e erguendo a voz. As mulheres estremeceram e assentiram. Ele saiu pisando forte sendo seguido por alguns criados.

As quatro mulheres se viraram para olhar atentamente a estranha. Oyá não titubeou e as encarou fixamente, a cada uma delas. Estavam bem vestidas com roupas de cores diferentes. A mais baixinha usava um axó (vestido) lilás e usava seu cabelo estruturado em tranças grossas como um coque, era gordinha e tinha seios fartos. As mais novas eram magras como ela, porém de estatura mediana, seios pequenos e pontudos, ancas estreitas e cintura fina e usavam além dos axós azuis uma faixa de tecido verde e amarelo e pareciam gêmeas, ou coisa parecida, devido a extraordinária semelhança entre elas. A que era a mais velha se vestia de branco e era a mais bonita de todas, seus olhos eram finos e possuía bochechas grandes e o rosto rechonchudo. Apresentaram-se na seguinte ordem: Osidewá, Kesia e Adanna eram as irmãs e Ajanni.

Oyá sabia reconhecer quando não era bem vista ou bem vinda e entre mulheres sempre sentira essa dificuldade, mas estava mudada e se a promessa do Rei fosse mantida, ela manteria a sua e encontraria um lugar no meio daquelas mulheres.

Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora