CAPITULO I - FRUTO E MORTE

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O BÚFALO FÊMEA ERA BRANCA, GRANDE, COMO GRANDES ERAM SEUS CHIFRES QUE DAVAM UMA VOLTA COMPLETA APONTANDO PONTIAGUDOS PARA SUA FRENTE. O animal resfolegava, enquanto corria desesperada por entre os arbustos secos. Não chovia a um ciclo. Seu peso ficava mais evidente devido ao barulho de sua corrida, de seu tamanho, provavelmente ela estava perdida de sua manada, estava acuada, perdida.

Ansiosa, diminuiu um pouco seu galope para olhar para trás e não sentiu mais nenhum de seus perseguidores no momento, mas isso não a fazia se sentir mais segura.

Tokolé sentia a tensão percorrer seu corpo e seu medo irracional fluía como se fosse parte de si, seus olhos muito abertos, estavam muito atentos, ampliados, a raiva cega misturada com o medo estava muito forte, fazendo-a enxergar as coisas a sua frente com outra cor.

Movimentos imperceptíveis na paisagem eram capturados por seus olhos, enquanto ela corria tão acelerada quanto as batidas do seu coração, sem muitos detalhes, cheio de manchas. Impulsionava-se à frente, já cansada. Sentia a noite, a escuridão absoluta era uma ameaça. Precisava de abrigo.

Forçou-se a empurrar mais ainda seus fortes músculos. A dor da mordida da hiena queimava seu flanco esquerdo, uma lembrança latejante, mas também lembrava-se vagamente que a ferira de morte, a pisara muitas vezes, e que seu peso e seus chifres fizeram o resto, rasgando a carne inimiga, motivo que sempre lhe dera orgulho, eram os maiores da manada, angariando o respeito e seu lugar como Rainha no grupo. Sentia falta do calor e da proteção dos seus, mas, por causa de seu orgulho e de uma simples distração, custou-lhe o que vivia agora ao separar-se do bando em busca da tão escassa comida, evitando ficar junto ao rebanho, caiu na armadilha da fome dos outros, igual a sua.

Seu sangue quente manchava seu flanco e logo ela teria outras companhias atraídos pelo seu cheiro ferroso e adocicado, caçando-a. Hienas eram covardes, mas sentia-as em seu encalço. Seu cansaço começava a cobrar seu tributo, uma ameaça de tontura, suores frios. Mas não podia parar e descansar nesse momento solitário. A sua frente só existiam grama e arbustos secos até onde sua visão alcançava, nenhum lugar onde poderia esconder-se ou repousar, a vegetação rasteira mal chegava ao meio de sua pata, seu tamanho era um entrave. Se a pegassem, estaria morta e não existia somente ela para proteger, carregava seu herdeiro no ventre.

Sentia o cheiro de água em algum lugar mais a frente e embora estivesse realmente extenuada e com sede, precisava parar. Uma dor mais forte a apavorou, pois começou a sentir as dores e contrações de sua barriga. Sua cria escolhia uma hora ruim para nascer. Nesse momento foi tomada pelo terror, eriçando seu pelo lustroso, pois sabia que se não encontrasse um lugar seguro ou uma forma de voltar a sua manada ela estaria morta e seu filhote também.

Na noite cada vez mais escura, ela tentou camuflar seu cheiro ao caminhar inutilmente contra o vento ao máximo, se orientando, tentou chegar até a água, pois sua sede estava insuportável, quem sabe teria uma chance de fuga? Não conseguia pensar claramente.

Mas não existia uma direção confiável, era uma área que ela não conhecia, estava escuro, com fome, sede e prestes a parir.

Forçada a parar por instantes, sente novamente a tontura, seu ventre reclamando, seu sangue misturado a sua água escorria livremente por entre suas pernas, manchando o chão, espalhando no ar seu cheiro agridoce. Cheiro de maternidade. Tentou se forçar a comer algumas folhas e galhos secos para se fortalecer, e notou que a luz da Lua estava encoberta por nuvens escuras e o ar esfriava rapidamente, ela sai em direção de onde estava se formando uma tempestade. A segurança de sua cria era tudo o que importava agora, seu filhote seria uma grande aquisição à manada, se conseguisse escapar e dependesse dela e de seu Rei, seria uma cria excepcional.

Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora