CAPÍTULO 57 - CONVERGÊNCIAS

384 42 30
                                    





ANTES DO DIA CAMINHAR, OS PÉS DE OGUM O LEVARAM PARA FORA DE ILÊ-IFÉ, NÃO QUIS SE DESPEDIR DE NINGUÉM, AFINAL TODOS JÁ SABIAM DE SUA VONTADE DE RETORNAR AO SEU REINO, PORTANTO NÃO FICOU SABENDO DOS FATOS QUE SE DESENROLARAM AS MARGENS DO RIO SAGRADO ESINMIRIM, NÃO PORQUE TALVEZ NÃO APRECIASSE O SOFRIMENTO ALHEIO, MAS PORQUE TINHA O SEU PENSAMENTO FOCADO NO HORIZONTE VERDE E ELE ERA UM HOMEM DE AÇÃO, NÃO SUPORTAVA ESSE TIPO DE INTERFERÊNCIA SOBRENATURAL NA VIDA, EMBORA JÁ TENHA SE VALIDO DELA EM ALGUMAS OCASIÕES. DEPOIS DA REUNIÃO COM ORANMYAM E TODA A REALEZA EM QUE SEU AMIGO OGYAN INTERFERIU, EVITANDO MAIORES CONSTRANGIMENTOS, ELE AINDA PERMANECEU UM POUCO ENTRE SEUS PARES, MAS, DEPOIS SAIU DISCRETAMENTE, NO QUE FOI SEGUIDO PELO GUERREIRO DE BRANCO.

_ Ogum, espere! – pediu Ogyan. Ogum voltou-se e o esperou impaciente. – Meu amigo, o que está acontecendo com você? Venho notando a algum tempo que andas pensativo, irritadiço! Quer conversar sobre isso eu amigo?

Ogum o olhou, mas não lhe veio palavras a boca com que pudesse responder, baixou seus olhos por instantes e depois o encarou, seus olhos tinham uma insistência furiosa, como uma angústia fantasma. Ogyan franziu suas sobrancelhas esperando, visivelmente preocupado.

Pousou sua mão nos ombros do homem e sorriu confiante.

_ Pode deixar, a hora que precisares não esqueça de que sou vosso amigo. Haja o que houver, lembre-se de que os problemas não são maiores do que sua honra e do que você! Vá em paz meu amigo, espero que o que lhe aflige não passe de um pedregulho que arranha seu pé!

Ogum assentiu e respondeu lacônico:

_ Também espero meu amigo. Obrigado, por se importar! – virou-se e seguiu seu caminho de volta.

_ Que Babá Obatalá, o senhor do Branco acalme vosso coração meu amigo! – Mas Ogyan temia que nem o manto branco primordial do Irunmolé que cultuava pudesse esfriar o que via nos olhos de Ogum.

-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x

Oyá acordou sobressaltada. Sua respiração ofegante cheirava a medo, que se espalhava pelo corpo. A imagem do cadáver de seu pai brilhou como um relâmpago no fundo atordoado de sua mente, era tão vívida e colorida, que sentiu até o cheiro de carne podre. Aos poucos acalmou-se, porém, os pesadelos dos últimos três dias a faziam ansiar pela liberdade que voar lhe trazia. Quase podia sentir a força do vento lhe açoitando entre as nuvens.

Lembrava triste que foi naquele dia em que a morte lhe visitou pela segunda vez, de que sua vida desmoronou. Sua dor esfriou seus ossos, quando compreendeu que tudo o que sucedeu em sua vida, teve início naquele triste momento. Cerrou suas mandíbulas. Instintivamente estendeu sua mão para o seu lado direito, encontrando-o vazio de calor e vida, procurando por Xangô. Tinham um acordo, só encontrarem-se fora do palácio, para não levantar suspeitas. Suas mãos abraçaram seus ombros, afastando as imagens daquele pesadelo. Deitou-se, porém o sono demorou a encontrá-la.

A manhã havia vencido por instantes a noite relutante. Os primeiros raios de sol encontraram sua pele de ébano, espantando a escuridão, afastando seus temores. Oyá despertou para o calor do dia e novamente a imagem atordoante do corpo de seu pai insinuou-se devagar. Ajoelhou-se, rezando como ele e seu padrinho Ifagbayn lhe haviam ensinado: primeiro ao Criador, Olodumarê, depois para o novo dia que nascia, para o seu Ori (cabeça interior) e por último para o seu pai; pediu-lhe proteção e sua bênção, bem como sua compreensão para o passo que iria dar na noite do dia seguinte em direção a sua felicidade. Estendeu sua reza para seus amigos e para seu filho Logum.

Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora