CAPÍTULO 35 - PALHA E FOGO

727 68 31
                                    


A CRENÇA NÃO É UMA COISA DETERMINADA SIMPLESMENTE PARA OS SEUS MOMENTOS FELIZES E OS DIAS MAIS BRILHANTES. O que é isso que você pode chamar de crença, o que é isso que você pode chamar de fé, se você não continuar com ela depois do fracasso, dos obstáculos? Qualquer um, independente de onde for e de onde vier pode acreditar em alguém ou em alguma coisa que sempre terá sucesso ou sorte. Mas o fracasso ... ah sim, isso é difícil de se acreditar, certa e verdadeiramente. Difícil o bastante para ter valor, creio. Os obstáculos servem para medir o nível de teu caráter e até onde você poderá ser impulsionado para ir. Tudo é determinado pelo Orí (cabeça interna individual) e pelo bom caráter e seus frutos servem tanto para o bem quanto para o mal, embora postos em lados contrários, tem o mesmo peso na aventura telúrica, cósmica e individual de cada criatura.

As palhas de ráfia tinham um nome diferente de onde ele vinha, seu povo do Dahomé a chamavam de Azé. O homem a tinha finamente trançada por sua pele, pintada nas cores preta, vermelha e no tom cru de sua fibra, formando riscos, triângulos e muitos outros desenhos estranhos ao olhar leigo, cobrindo-o inteiramente, como uma espécie de armadura. Subia pelos pés, pernas, por seu corpo magro e de músculos fortes, seus braços e formavam uma máscara que deixava de fora apenas seus olhos vivos e inteligentes, sua boca cheia e bem desenhada e seu nariz, tinha seus cabelos traçados com o mesmo elemento que lhe cobria o corpo e caiam sobre seus ombros como mais um enfeite, por cima de tudo vestes brancas e pretas amarradas terminavam sua aparência, cobrindo seu sexo e nádegas e partes de sua estranha roupa de palha. Completavam sua figura estranha, colares grossos de laguidibá (cola de chifre de búfalo ) e um brajá (colar feito de búzios) que estavam cruzados sobre seu peito.

Caminhava pelos reinos do Império Iorubá desde que se acostumara com sua sina e encontrava-se naqueles ermos depois de sair da cidade de Irá e tratar um surto de varíola, que tinha começado depois que Ajoguns passaram por lá arrebatando dezenas de pessoas rapidamente. A doença sempre o atraíra inexoravelmente e ele como estava por perto da cidade naquela ocasião ofereceu seus serviços para o administrador dela, que mesmo aterrado com aquele homem mascarado e coberto de palha, aceitou pois sua família começou a adoecer e seu primogênito estava muito mal, as portas da morte. O homem de palha postou-se no mercado e colheu ervas, macerando-as num pilão grande retirando de uma cabaça grande que trazia atada a suas costas sementes e pós de várias cores e misturou-as as ervas. Por fim, na frente de todos, fez suas preces e de suas mãos brotou uma fumaça azulada, faíscas brotaram e de repente uma chama vermelha espraiou-se calma e soprou na palma da mão esquerda para a direita como o Sol para a Lua e quando a chama crepitava ele emborcou suas mãos na boca do pilão transferindo o calor para a pasta que estava pilada dentro dele recitando seus adurás (preces).

Como um milagre essa pasta foi dada a cada um da cidade que deveria colocar em água fresca e lavar os doentes com o amaci (banho) que fosse produzido. De casa em casa o sopro do calor da vida foi revivido e as pessoas que estavam doentes recuperaram-se. No fim do décimo dia em que estava em Irá, o homem foi chamado para falar com o administrador de Irá.

Ao chegar a casa espaçosa ele entrou e com todo respeito do mundo seus habitantes dobraram-se no chão saudando-o, por último o rapazinho veio ainda fraco e ajoelhou-se. A tudo o estranho curandeiro assistia surpreso, quando o rapaz aproximou-se e o abraçou ele o afastou constrangido.

_ Não lhe causo nojo menino? - Perguntou com os braços retos no ombro do rapaz.

_ E porque deveria ter nojo daquele que meu pai disse que salvou minha vida?

_ Sou amaldiçoado é só o que precisa saber!

Nisso o pai do rapaz aproximou-se e abraçando o menino, indagou ao curandeiro:

Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora