INTERLÚDIO III

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A MORTE E O MORRER SÃO DISTINTOS. QUANDO O SER MORRE, O CORPO É PREPARADO POR BANHOS E OFERENDAS. ESSES RITUAIS SÃO NECESSÁRIOS PARA QUE O ORI INÚ (CABEÇA INDIVIDUAL) SE DESPRENDA E TENHA O ESPÍRITO ENCAMINHADO PARA SEU LUGAR DE REPOUSO E RECONDICIONAMENTO.

VIDA É FEITA DE CONCESSÕES, OBSTÁCULOS, RELACIONAMENTOS, DE PESOS E MEDIDAS.

TODA A RELIGIÃO TRADICIONAL IORUBÁ É PERSONIFICADA NO CORPO LITERÁRIO DOS SIGNOS DO DESTINO, OS ODÚ DE IFÁ, ONDE SE CONCEITUAM EM TRÊS, OS PILARES FILOSÓFICOS DA VIDA: ORÍ (CABEÇA ESPIRITUAL OU INTERIOR), EBÓ (SACRIFÍCIO OU OFERENDA) E ÌWÀPÈLÈ (BOM CARÁTER). CONCEITOS ESSES MUITO RELACIONADOS E COMPLEMENTARES ENTRE SI.

Diante de tais conceitos sobrenaturais, pode o homem, em sua poeira insignificante e instantânea ter algum papel reservado nesse universo metafísico, onde sua forma de agir não pode ser discordante de seu Orí e ainda assim espremido por duas poderosas forças ancestrais que nasceram e estão desde a Criação em eterna oposição no caldo de vida do universo, que é o corpo do Primevo: uma benevolente para com os seres humanos, chamada Íbo (Divindades) e outra hostil, os Ajoguns (guerreiros opositores ao homem) em sua eterna aliança com as Àjé (Feiticeiras) aplacadas indistintamente tanto pela humanidade quanto pelas divindades, às quais ele deve oferecer Ebó (sacrifícios ou oferendas) incessantemente para chegar a boa sorte na vida e para poder sobreviver? Para as primeiras buscando continuar gozando de seu apoio e bênçãos, bem como também aos Ajogun e às Àjé com o objetivo de não encontrar sua oposição quando estiver prestes a realizar algum projeto importante. Equilíbrio é a meta para a vida.

Em outras palavras, o homem importa em tal sistema?

Antes de tudo somos energia, axé encarnado, partículas ínfimas do Primevo, sopros do Deus Único, Olodumaré.

Orí (Cabeça espiritual) é a partícula pessoal dele que carregamos, sendo a divindade personificada e pessoal que governa a vida humana e se comunica, em prol do indivíduo, com todas as outras demais divindades e outros seres, numa troca constante e inter-relacionada, ele é a essência primordial da boa e má sorte e a mais preponderante força responsável pelo que possa ser o sucesso ou o fracasso humano.

O Ebó (sacrifício ou oferenda) é o único meio de comunicação simbólica e ritual entre todas as forças que regem o universo, as divindades, além do próprio homem.

O que responde a essas perguntas é a palavra e o conceito de Ìwàpèlè (Bom caráter), que em certo grau, liberta o homem dessa estrutura de universo extremamente rígida e hierárquica e, de qualquer forma, dá a ele um conjunto de princípios com os quais regulam sua vida pessoal, com o intuito de evitar colisões com esses poderes sobrenaturais e com seus companheiros humanos também. Ìwà (caráter) é, portanto, a essência de ser, boa ou má. O ìwà de um ser humano pode ser usado para caracterizar sua vida, especialmente em termos éticos.

O conceito Yorùbá de existência transcende o tempo do indivíduo na Terra. Vai além de sua época de vida física e inclui as memórias e lembranças que o homem deixa após sua morte física. Numa sociedade que eleva os mortos a condição de Ancestrais e que armazena homenagens a eles em sua transmissão verbal, a única recompensa durável para o homem de bom caráter reside nos poemas, nas máscaras e nas cerimônias anuais que serão feitas em sua homenagem após morte. Sua eternidade, embora muitos mortos transcenderam o culto e tornam Eborás ou como são popularmente chamados os Orixás, mantenedores da Criação, devido a suas vidas ou mesmo ao momento de transferência de axé entre os planos no momento de sua morte.

Em essência, os Oruns são estágios de consciências, cada um deles oferecem aos espiritos humanos o local de aragem e descanso que cada um merece.

Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora