CAPITULO 6 - O CONSELHO DOS ANCIÕES

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DEPOIS DOS ACONTECIMENTOS QUE CULMINARAM NA DESTRUIÇÃO DA CASA DE OLODURECÊ E NA MORTE DE SUA ESPOSA, os habitantes de Jebba temeram por suas vidas e pediram que o Conselho dos Anciãos se reunisse, pois o acontecimento foi presenciado por muitos. O medo do desconhecido e as superstições milenares onde se apoiam queriam que o que quer que tivesse causado esse problema fosse eliminado e pudessem voltar a sua vida antiga e normal.

A tempestade com seu vento forte, chuvas e raios arruinaram muitas das casas da tribo, deixando muitas famílias expostas ao ar livre e os desabrigados tentaram ao máximo reconstruí-las e seguir em frente, mas o local da casa de Olodurecê ficou intocável, pois muitos temeram a má sorte que poderia advir do contato com um local tido como amaldiçoado.

Oyá ficou desacordada por quase dois dias. Foi levada à casa de seu padrinho Ifagbayn nos braços de seu pai. A chuva caia cada vez mais forte, alagando as partes mais baixas próximas ao rio. Olodurecê mais tarde, depois de enterrar sua esposa junto com o Babalawô e de fazer suas homenagens, voltou às ruínas de sua residência, no centro do quarto, existia uma área compacta chamuscada. Ifagbayn se lançou a descarregar o ambiente das energias resultantes do contato com a Iyá Mi, soprando pós desconhecidos por Olodurecê, que se manteve calado e pensativo. Estava em choque, abalado pela situação, recusando-se a pensar no destino trágico de Iyalonni. Queria lembrar-se dela como no dia do seu casamento: linda, sorridente, bem diferente da mulher que ele a fez se tornar quando trouxe sua filha para seu lar.

Se aproximando do pequeno buraco no chão feito pela energia do raio, notou uma superfície negra, reluzente, espirais de fumaça subiam enquanto esfriava pela chuva que caia dentro da casa pelo rasgo feito pelo pássaro no teto de capim. Curioso, chamou a atenção de Ifagbayn para o fato. O Babalawô assentiu e com uma ferramenta que encontrou no lado de fora cavou com atenção ao redor e forçou empurrando para cima aquele objeto. Junto com a terra calcinada veio à superfície um Edun-Ará, a pedra sagrada do trovão.

- Babá! Olhe o tamanho disso. É linda! Sempre ouvi falar da existência de pedras como essas, mas nunca vi uma pessoalmente. - Olodurecê tentou pegar na pedra, mas foi impedido com um gesto firme por Ifagbayn.

- Não toque nela ainda meu amigo! Ela ainda está quente e é preciso sacralizá-la, pois ela pertence aos deuses.

Olodurecê ficou de cócoras. Colocou a mão no rosto e chorou, suas lágrimas se misturando a água da chuva, amargas ... Ifagbayn colocou a mão em sua cabeça e ficou triste por seu amigo que tinha perdido tanta coisa e em breve iria perder mais ainda, pois o povo da tribo estava com muito medo do que acontecera e iriam pedir a expulsão ou a morte do nobre caçador e de sua filha.

Deixou o caçador chorar suas dores e depois recolheu a pedra enrolando-a num tecido. Saíram da casa e foram na chuva para sua casa ver como estava a sua afilhada.

As pessoas se movimentavam tentando salvar seus pertences, proteger seus animais e ficar em suas casas. Passaram pela casas e alguns olharam os dois passarem apressados pela lama, numa mistura de medo, raiva e pena.

Na casa do Babalawô, seu ajudante Imojé aplicava um pano úmido no corpo da menina por causa de sua febre que não baixava. Estava lá também uma mulher chamada Ikinni, que ajudou a lavar a menina e preparava comida para eles. A fumaça estava em todo ambiente, mas o cheiro da madeira e do ensopado de legumes os encheu de fome. Oyá respirava suavemente. Olodurecê se aproximou de sua filha e acariciou seu rosto suavemente, ela estremeceu de leve e ressonou o nome dele baixinho.

Ifagbayn se pôs a preparar a pedra sagrada com ervas, sementes, pós de várias cores e água fresca. Esfregou tudo pela superfície triangular dela e a colocou junto a seu oráculo.

Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora