CAPÍTULO 48 - O FESTIVAL (Parte 3/3)

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REGRESSAR DE QUALQUER LUGAR MUITAS VEZES É MAIS DIFÍCIL DO QUE PARTIR. A SENSAÇÃO DE EXÍLIO É PIOR QUANDO SE VOLTA AO LAR, COMO UM RIACHO ENVENENADO QUE NUNCA SACIARÁ A SEDE. PODEMOS MENTIR A NÓS MESMOS, QUE A AVENTURA E INDEFINIÇÃO SÃO PERIGOSOS, MAS É O ESFORÇO DESPRENDIDO D QUALQUER DEMANDA QUE NOS AFASTA DA MEDIOCRIDADE.

Como explicar a si mesmo que o regresso é necessário, mesmo depois de sentir a liberdade do desfiladeiro? Existem pessoas que não conseguem passar pelo desastre incólumes, enquanto outras não conseguem sequer dar um passo a frente e admitir a mudança, enquanto outras ficam estáticas a beira da morte, enraizadas no medo.

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Quando o tornado diminuiu de intensidade transformando-se numa brisa suave, um cício fresco, Oyá e Xangô emergiram para o mundo como esculturas negras, esplêndidos e divinos em sua nudez, tomando de assombro os remanescentes que estavam a espera deles. Sussurros e interjeições os acompanharam naquela volta ao mundo "real". Oyá senta falta do aconchego que o útero de chamas lhe proporcionava, pois lá ela sentia-se livre, pertencente ao elemento. Lembrou-se de sua comunhão com Xangô e desejou que o tempo lá dentro tivesse parado, sentia a quentura que a pele dele produzia na sua, da pressão que seus lábios exerceram nos dela, da língua morna que a explorara, das mãos e braços hirtos e fortes e sentiu a pressão em seu ventre crescer. Forçou-se a olhar para frente, pois seu filho Logun corria sorrindo em direção a eles.

_ MÃE!!

Logum precipitou-se correndo, colidindo com eles, abraçando-a desajeitado, Xangô o olhou desconcertado e pediu:

_ Filho, Não se preocupe, ela está bem! Poderia pegar algo para cobrir-nos?

Logum olhou de um para o outro, vendo-os nus e franzindo as sobrancelhas assentiu. Saiu rápido.

_ Oyá! Xangô! – Era a voz grave de Ogum, que vinha ansioso em direção a eles.

Fumaça subia em tentáculos translúcidos dos seus corpos, que voltavam a temperatura ambiente. O Onirê parou surpreso ao vê-los nus, mas escondeu seu ciúme por hora onde não podia incomodá-lo, era o melhor a fazer e buscou forças e paciência. Sorriu para ambos e colocou uma mão nos ombros do jovem.

_ Agradeço pelo ato de coragem e bravura meu sobrinho, além de salvar minha esposa, salvou minha cidade de um desastre que com certeza seria catastrófico. Sois um herói!

Nisso, Logum chegou com dois tecidos estampados e os entregou a Xangô, que desceu Oyá devagar de seus braços e amarrou um deles em volta da rainha, sob o olhar vigilante dos dois. Com o outro, enrolou em sua cintura e agradeceu ao pequeno, que abraçou Oyá fortemente.

_ Tive tanto medo mãe!

_ Acabou meu filho, não há mais o que temer. Estou bem, não se preocupe!

Ogum aproximou-se de Oyá e falou:

_ Minha esposa, o que aconteceu?

_ Não sei exatamente. Apenas não levei em consideração a natureza única do axé de Babá Omulu meu marido, reconheço que foi um descuido meu, o qual tentei minimizar ao máximo os danos. Olhando em redor vejo que consegui.

Xangô sentindo a mudança do clima entre eles, interveio falando:

_ Foi uma decisão inteligente, limitar o tornado e expandi-lo em direção aos céus, se ele tivesse se espalhado exponencialmente, arrasaria a cidade. Parabéns Rainha, tens um controle admirável dos elementos, bem como de sua habilidade. Mais um motivo para comemorar-nos! – Falou sorrindo.

Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora