CAPÍTULO 14 - O ESPÍRITO DO SANGUE

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A FERROADA DA MISERICÓRDIA ESTRAGA O ESPÍRITO DO ORGULHO E DA BRAVURA. Evitando que o medo sobrepujasse sua determinação, o treinamento de Oyá foi intensificado. A jovem passava agora, dias fora de casa, onde a ordem era ser testada a exaustão de todas as formas possíveis. As táticas de defesa e ataque chegaram a um nível que beirava a tortura. Mas, para surpresa de todos, Oyá se aferrou com orgulho e não deixou abater-se uma única vez. A cada dia ela se sentia mais confiante, mesmo diante de tanta informação com que era bombardeada.

Osanyn agora era como uma segunda sombra sua, com suas duras críticas, sempre observando seu potencial, avaliando e a levando mais além. Seu espírito foi forjado diante das palavras secas e precisas do médico que a fazia beber um líquido negro, amargo e espesso todas as manhãs. Oyá sentia-se cada dia mais forte e disposta, sempre depois de tomá-lo, cada vez mais progredia calada e obstinada. O médico assentia para si satisfeito diante de cada obstáculo que sua pupila vencia.

Aroni e Olodurecê seu pai, usavam de suas artes e a instigavam a tomar conhecimento dos mistérios da floresta, introduzindo-a em sua magia. Oyá sabia rastrear pegadas de animais como qualquer caçador experiente, andar em silêncio absoluto, tornar-se invisível nas folhas e troncos, com camuflagens diversas usando a sombra fria, imitava o canto e o falar de vários pássaros e animais, tinha uma mira que raramente errava uma flecha ou uma lança e usava seu dom com os ventos em seu máximo, agora criando pequenos ciclones, lufadas fortes de vento e aos poucos conseguia acessar as tempestades e o raio, mas esses feitos tomavam muita energia dela, que necessitava descansar bem mais do que o que normalmente fazia. Sem que eles soubessem conseguiu aos poucos manipular o fogo, mas só o já existente, ela não conseguia criar chamas e o seu vento conseguia direcioná-lo como arma. Seu pai e Osanyn lhe mostraram os fundamentos do trato com os Ajáá (Espíritos da floresta), a mata fechada era uma das moradas conhecidas dos mortos, local onde existia uma grande confluência deles, dentro dela muitos locais eram usados como cemitério, principalmente na árvore Iroko, onde os cadáveres eram colocados por entre seus espaços côncavos. Essa árvore era também uma das passagens conhecidas para o Orun (Dimensão espiritual).

Mais seis meses se passaram e o clima começou a esquentar durante o dia. As chuvas rarearam e a caça começou a escassear. Ao mesmo tempo começaram a chegar notícias alarmantes de vários lugares, Edô, Ibadan até mesmo de lugares distantes dos quais ela nunca ouvira falar como Dahomé. Calamidades, doenças, fome e guerras estavam começando a se espalhar como uma praga por todos os cantos do Aiyê.

Aroni tinha cada vez mais caçadores desavisados e que não respeitavam as leis da floresta para punir, pois conforme a caça sumia, os caçadores entravam mais fundo na em busca dela. Estranhamente eles nunca entraram em contato com ela, seu pai e seus amigos.

O médico saia cada vez mais amiúde em suas diligências para socorrer as aldeias com seus remédios, seu pai ia junto com ele e foi assim que ela teve notícias de sua terra natal Jebba, que foi acometida recentemente por um surto mortal de varíola.

Yeyê Lekê e Ifagbayn seu padrinho, apareceram junto com uma comitiva de mais três homens em busca dos famosos remédios fabricados por Osanyn, pois a morte se espalhava rapidamente entre os seus. Chegaram numa tarde em que estavam descansando após terminarem suas atividades diárias. Oyá reconheceu seu padrinho de longe, mesmo ele estando mais velho e abatido devido ao esforço da viagem e do peso dos anos, gritou surpresa e extasiada correndo ao seu encontro, onde o abraçou feliz; pediu sua bênção e logo em seguida cumprimentou a todos que foram recebidos com alegria por seu pai e desconfiança pelos outros.

Depois de descansar e comer junto com seus quatro companheiros de viagem a Conselheira de Jebba relatou o motivo de sua estada ali, pois só ela conhecia o caminho até o lar de Osanyn.

Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora