CAPÍTULO 25 - O COMEÇO DO FIM DA DINASTIA DA TERRA

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ILÊ-IFÉ ERA O LOCAL DE FUNDAÇÃO DO MUNDO E DE ONDE ELE EXPANDIU-SE, a ida de Irê para a capital do império Iorubá foi relativamente rápida e calma, Ogum apressou-se junto com seus homens conseguindo cobrir essa imensa distancia em quase três dias, pois temia pela segurança de sua esposa e da preciosa carga que ela deveria entregar em Ejigbô, sua cabeça febrilmente voltava dela para o que o esperava quando chegasse na cidade de sua família, sempre tivera uma relação difícil com seu pai, embora o amor e o respeito filial existissem. A insegurança era um sentimento do qual não gostava, sempre usava sua força e estratégia para resolver os problemas que surgissem e estar em suspenso à mercê do destino e de forças em que ele não podia intervir era frustrante.

Ao chegar nas imediações da enorme muralha que fazia a defesa da cidade, ele notou que já era esperado, pois um destacamento armado do exército, que estava vigiando uma das dezessete entradas da capital do Império o saudou entusiasmado, sua fama de guerreiro brilhante o precedia, não era a toa que seu nome era sinônimo de guerra. O porque de tão inesperada convocação por parte de seu pai ainda era um mistério para ele, mas via, conforme entrava montado junto com seus soldados por aquelas ruas, que a cidade se encontrava imersa numa agitação incomum, uma ansiedade, como um arrepio de antecipação tomava conta de tudo e de todos, reconheceu pelas roupas, homens do exército de alguns de seus irmãos, apressou-se em disparada em direção ao palácio, sua impaciência era tamanha que pulou da garupa do seu cavalo ainda em movimento numa acrobacia perfeita e se equilibrou na entrada principal, homens se adiantaram e seguraram seu cavalo para tratá-lo nos estábulos enquanto os outros abriam caminho para a entrada do Onirê.

A casa de seu pai era impressionante, mesmo depois de tanto tempo distante, era a maior construção do lugar, erigido no centro da cidade, rivalizando em tamanho com o mercado ao lado dele, as duas maiores realizações da importância do Rei. Os cheiros do mercado eram marcantes: animais, escravos, frutas, alimentos, tecidos e especiarias diversas eram vendidas ali. Não encarava mais o palácio como seu lar, mas sua família morava ali e aquele lugar era parte de sua história, sua origem. Lembrou-se de sua infância, sorriu ante a imagem de sua mãe e de seus inúmeros irmãos e irmãs. As brincadeiras e jogos. Um tempo distante que estava cada vez mais longe.

Ao percorrer o corredor logo após o espaçoso salão de entrada, ornamentado com colunas, tecidos de várias estampas e texturas, pele de animais e algumas máscaras, foi escutando o som surdo que chegava abafado da área interna, próxima a um dos jardins internos, uma ladainha baixa era entoada pelas esposas de seu pai e de alguns sacerdotes. Reconheceu a Rainha Iyá Okun, chamada a Dona do Mar, a primeira esposa de Oduduwá e sua mãe e de Isédelé, sua irmã. Em redor dela, as outras estão contritas: Ósààrá, "a de muitos filhos", uma senhora baixinha de seios e quadris grandes e muito engraçada; Omìtótó, uma das favoritas de seu pai, mãe de Ajíbogun, o Obá (Rei) de Obokun, uma mulher ainda bonita e extremamente ciumenta; Ojùmmu, a diplomata que mediou e resolveu muitos dos conflitos entre Oduduwá e Oxalá, o Rei de Igbô, era inteligente e dona de uma erudição que a tornava importante para as decisões do reino; Lakanje, a mais bela e sensual de todas, sua antiga paixão, a mãe de Oranmyan, do qual ele tinha uma paternidade conjunta com Oduduwá, ainda hoje era linda, lembrando sua Oyá; Omonide, de compleição forte foi a fundadora de Abeokutá; Ogunfunminirê, uma guerreira fundadora da cidade de Lagos; Yèyémòólú, a mais velha de todas e que supervisiona toda a alimentação do Oni (Rei), era excelente cozinheira e fazia por merecer esse cargo; Àtìbà, a mulher magra que não teve filhos e Ogido, sempre discreta e calada.

Vendo-as ali em harmonia, ele entende que o que quer que esteja acontecendo com seu pai é sério. Mulheres unidas em torno do bem-estar de seu marido é algo impossível de se imaginar. Dirige-se a sua mãe que quando o vê levanta-se, as outras esposas baixam suas vistas em respeito. Ogum antes de ser um guerreiro e um Rei é filho. Deita-se no chão em submissão e respeito a sua mãe, que o olha enternecida, abençoando-o.

Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora