CAPÍTULO 30 - O LAÇO DO RAIO

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A DESARMONIA QUANDO SE INSTALA EM QUALQUER LUGAR FORMA SOMBRAS POR ONDE NENHUMA RÉSTIA DE LUZ PODE ENTRAR. A partir da morte de Osidewá, Ajanni assumiu o controle da vida doméstica no palácio. Késia e Adanna pareciam que estavam em perfeita consonância com ela, a seguiam como cães adestrados. Oyá a tudo assistiu calada, pois qualquer menção sua em falar, de objetar sobre a injustiça a que estava sendo submetida era rechaçada por todos, como se ela fosse um animal peçonhento ou tivesse alguma doença contagiosa e mortal. As pessoas são cruéis e ela já tinha passado por situações parecidas. Parou de esbravejar e deixou-se ficar quieta, por mais que lhe fosse difícil esse estado. Era livre e se quisesse nenhuma parede lhe prenderia, mas queria fazer as coisas certas, lembrou-se do curandeiro Osanyn e em Aroni, preferiu concentrar seus esforços em desvendar aquela trama e fazer quem estava por trás dela pagar caro.

No fim da semana seguinte, depois de rolar por todos os lados, resolveu dormir no chão, de frente a entrada, como medida de segurança, caso fosse pega de surpresa, sentia que os acontecimentos queriam determinar a sua perdição completa. Estava esperando por tudo, desde o exílio até a pena de morte. Não confiava em ninguém. Fosse qual fosse a sua sentença, não era de baixar a cabeça para ninguém, muito menos para um Rei, que por acaso era seu marido.

Cada vez que pensava sobre sua situação sentia-se furiosa, algo crescia em seu peito, como ondas quentes que a queimavam dentro de sua cabeça. Ogum demonstrava que não confiava nela e Oyá reconhecia a maestria das outras esposas de Ogum. Fora ingênua demais, sua necessidade de pertencer a algum lugar a fez abrir sua guarda para uma inimiga ardilosa. Logo ela que já tinha enfrentado tantos obstáculos mais poderosos em sua curta vida, fora enganada por uma mulher. A raiva toldava seus pensamentos, fazendo-a alterar sua respiração. Na semana em que ficou confinada naquele quarto, o clima ficou nublado e chuvoso, uma garoa fina e fria caia por toda região como extensão de seus sentimentos. Não tentou controlar os elementos, mas não deixou que uma tempestade trouxesse maiores prejuízos ao reino.

Ogum só veio lhe ver uma vez até então e relembrando sua visita, sua angústia só fez aumentar. Ele chegou numa manhã acompanhado por dois Conselheiros, o velho sacerdote e o agora general Uru, que foi promovido depois da aventura com os vampiros, por indicação dela, a qual Ogum acatou de pronto. Encontraram-na sentada no chão com as pernas cruzadas, a comida intocada novamente. Vestia um axó (vestido) amarelo simples, sem enfeites, apenas argolas grandes nas orelhas.

Ogum e os homens aproximaram-se solenes dela, esperaram-na levantar-se e aproximar-se deles. Mesmo estando presa ali ela tinha o porte altivo e imponente. Sua face estava serena, embora com as sobrancelhas levantadas em expectativas. O Onirê ao vê-la sentiu a força de seu desejo percorrer seu corpo e sentiu falta de abraçá-la, mas precisava manter-se no papel de regente de um reino importante, mesmo amando-a como a própria vida.

_ Mojubá meu marido! Senhores! - Falou respeitosamente, esforçando-se por parecer verdadeira.

_ Mojubaxé! - Falaram ao mesmo tempo. Ogum baixou sua vista e manteve o controle sobre si falando: _ Minha Rainha, sabes que estás enclausurada aqui por medida de contenção, pois foi lançada sobre vós uma acusação séria: assassinato! Adanna e Késia propagaram aos quatro cantos que foi você que matou Osidewá.

_ Eu digo e repito meu Senhor: Eu não a matei! Nunca me indispus contra ela, muito pelo contrário, sempre a achei pacifica, era a única de suas outras esposas que eu simpatizava. Isso é uma conspiração contra mim, contra nosso casamento Ogum. Eu lhe garanto: nunca mataria uma pessoa indefesa. - Falou e ao lembrar da imagem tétrica da defunta baixou sua cabeça.

O sacerdote então passou a falar:

_ Rainha Oyá. A senhora bem sabe que a causa da morte da jovem foi envenenamento e esse método é usado por mulheres. Não quero com isso dizer que foi a senhora que cometeu tal crime. Se olharmos por esse lado, devemos considerar como suspeitas as suas outras esposas Onirê.

Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora