E não sobrou nenhum - III

Começar do início
                                    

– Pierre foi para Bucareste logo cedo. – Sophie diz. – Ele continua não suportando o cheiro das plantas.

É, acho que isso faz sentido.

– E onde está todo resto da casa? – Pergunto.

– Algumas já saíram, outras estão dormindo. – É a vez de Kat responder. – Acredito que Louise ainda esteja lá em cima.

Sua sessão de estudos é tão metódica que até mesmo suas respostas são coordenadas.

– Certo. Irei atrás dela. – Digo, começando a fazer o caminho de volta, mas elas já estão com a cabeça nas frutinhas novamente.

Começo a fazer o caminho de volta, mas ao passar por uma das paredes, noto colada nela uma página de um diário que eu li e que evocou todo tipo de fúria em mim. Arranco a página da parede violentamente e carrego ela para o andar de cima. Alex se senta na cama quando eu abro a porta outra vez. Ela nota que estou abalada, mas apenas aceita as frutas em silêncio. Ela não consegue evitar encarar a folha de papel na minha mão, à qual eu mesma olho, mas sem vê-la de verdade.

Ninguém nunca vem aqui. À exceção de Pierre, que possui uma amizade inusitada com minha irmã, e Louise que gosta de mim demais para não vir ao lugar onde eu passo mais tempo, nenhuma das outras moradoras da casa se arrisca a entrar no quarto de Alex. Isso me surpreendeu no começo – eu achava que a atração da curiosidade seria violenta e que eu precisaria afastar todo mundo de perto de Alex. Depois, começou a fazer sentido.

Não existe bizarrice que o Exército já não conheça ou maluquice exótica que surpreenda qualquer uma de nós. Não existe um bom motivo para que qualquer uma que não seja eu e Louise procure uma cura para Alex e eu sei que a ajuda de Kat, Ellie, Sophie e Kaylee é por boa vontade. Tem muita coisa acontecendo e muita coisa ainda está por vir. Ninguém precisa de mais uma preocupação, algo que não diz respeito ao Destino delas. Então, eu entendo o motivo de ninguém querer vir até aqui.

É por razões parecias que eu nunca quero ir lá embaixo.

17 de julho

Olívia

Com um puxão pela gola da camisa, Louise me levanta e me atira no chão. Dói, mas não tanto quanto costumava doer. De repente, percebo que estou entediada. Dolorida também é claro, mas principalmente entediada e é isso que me faz dizer "Chega" a Louise e terminar nossa brincadeirinha violenta.

– Não existe chega em uma batalha, Olívia. – Louise responde, suada e cansada, mas ainda em posição de batalha. – Se você pede pelo fim, o que você recebe é a morte.

Senhor, sim, senhor. – Zombo. – Eu estou ficando terrivelmente entediada desse jogo repetitivo. Você é mais alta e mais forte do que eu, sempre consegue me derrubar.

– E você ainda não aprendeu a usar seu peso e altura a seu favor, e é por isso que não pode parar agora. – É a resposta disso até agora.

– Nem para beber alguma coisa? – Pergunto, com um sorriso amarelo.

Louise pondera.

– Se fizermos uma pausa agora, continuaremos depois até depois que o sol se pôr. – Ela responde. – Até você conseguir me derrubar.

– Ei, eu já consegui derrubar você! – Rebato, mas já estou andando de volta para a casa.

– Uma vez! Semanas atrás. Foi mais por despreparo meu do que por preparação sua.

Não posso nem discutir com isso. Tudo que sei é que não vejo essas sessões de treinamento com os mesmos olhos que Louise. Ou talvez, veja. Louise vem para cá para fugir dos estrategistas de guerra, do caos do parasita infernal e de discussões sem sentido. Eu, venho para fugir do tédio e de uma guerra que me deixa confusa. Preciso fazer alguma coisa, mesmo que não ache que algum dia estarei pronta para um embate físico.

Conforme nos aproximamos da casa, notamos um movimento incomum. Para começar, três carros iguais estão parados na entrada dos fundos. Isso já indica que não são visitantes comuns – o que nunca temos. O que quer que seja, nem eu, nem Louise fomos informadas com antecedência. Assim que chegamos à entrada, encontramos Kat e Ellie carregando os carros com alguns dos nossos pertences e com as caixas das tramazeiras que ainda sobraram.

– O que aconteceu? – Louise pergunta quando paramos ao lado do carro onde Ellie arruma as coisas.

– Aí estão vocês! – É a resposta dela. – Corram para pegar o que consideram importante, nós vamos voltar para Piatra Neamţ.

Começo a fazer exatamente isso, mas Louise me segura pelo ombro.

– Você não respondeu à minha pergunta. – Insiste para Ellie.

Ellie lança um olhar desamparado em nossa direção, mas Kat acabou de sair da casa de novo com uma pequena maleta na mão e entende a cena que está acontecendo na mesma hora.

– O parasita se manifestou novamente e começou a clamar por Persephone. – Kat responde. – Disse que apenas ela pode salvá-lo. Ele está morrendo, Louise, e vai levar Alexandra junto. Além disso, quando ligamos para Persephone, ela disse que já sabe o que vai acontecer e quando vai acontecer. Temos que voltar.

– Você está falando da morte de Ch...? – Começo, mas Kat me interrompe:

– Temos até o dia depois da próxima lua cheia. Três dias. Precisamos ir.

As Crônicas de Kat - A História CompletaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora