A Hora das Bruxas - IV

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Eu podia ouvir a apreensão na voz de Kat quando expliquei tudo a ela por telefone, mas por algum motivo ela não reclamou ou ordenou que voltássemos imediatamente. Mais tarde ela ligou para Naomi e as duas conversaram por cerca de duas horas, com Naomi enfurnada na Sala Secreta.

Tudo parece suspeito, mas eu tenho mais com o que me preocupar. Contanto que não me culpem por qualquer coisa que aconteça nesta viagem, que foi minha ideia, cada uma pode fazer o que quiser.

Quando finalmente reúno forças para me levantar e ir arrumar minha mala, encontro Tatiana andando em círculos pelo antigo quarto de Kat, onde estávamos dormindo. Ela está resmungando e enrolando e desenrolando o dedo na corrente de seu colar de almandina.

– Algum sinal de Naomi? – Pergunta, quando eu entro.

– Eu nem sabia que ela estava desaparecida. – Digo.

Tatiana para de andar e aperta a pedra no pingente com tanta força que seus dedos perdem o resto da cor.

– Desde ontem à noite. – Ela explica – Ela saiu à meia noite e hoje de manhã não estava aqui.

– Por que ela deixou a casa tão tarde? – Pergunto.

– Foi encontrar uma bruxa na cidade. – Tatiana diz, hesitante.

Congelo onde estou, prestes a abrir minha mala.

– A coisa exata que Kat pediu que ela não fizesse?

Tatiana suspira e se joga na cama frágil, que solta um gemido.

– Naomi vinha procurando essa bruxa desde que chegou a Graz. – Ela diz. – Ela tem uma ideia na cabeça, Louise e eu tenho a sensação de que ela está prestes a colocar ela em prática.

Me sento também. Não apenas porque eu acho que o que ela está prestes a me contar vai me causar um choque, mas porque outra onda de tontura e náusea me atingiu. Eu não me sentia assim desde que era humana e começo a me preocupar com a intensidade da sensação.

– O que vocês não estão me contando? – Pergunto, fechando as mãos em punho para me concentrar.

Tatiana hesita. Não porque parece notar algo de errado, mas porque deve ter feito uma promessa a Naomi. O tempo suficiente para que eu pare de ver estrelas se passa até que Tatiana resolve que é um tempo desesperado e ela precisa tomar decisões desesperadas e me conta absolutamente tudo que Naomi contou a ela. O plano de quebrar o feitiço e desconectar seu sangue do nosso ou pelo menos descobrir como fazer isso para ter uma vantagem sobre o resto do Exército e a opção de fugir e desistir da guerra que nos dizem diariamente que é impossível desertar.

– Ela quer fazer as pazes com o Inferno? – Pergunto, quando Tatiana se cala. – Levantar a bandeira branca e seguir em frente como uma vampira completa?

– Se isso a mantiver viva e segura, é possível. – É a resposta que recebo. Quando eu reviro os olhos, Tatiana completa: – Ela nunca teve a chance de escolher, Louise. Ela disse a Kat que queria uma vida simples e segura e Kat deu de presente a ela o exato oposto. Ela tem o direito de se sentir sobrecarregada pela guerra e querer uma opção.

– E por que ela não nos disse exatamente isso? – Pergunto. – Com ou sem opção, durante todo esse tempo, cada segundo desde que ela foi transformada, ela foi nossa irmã. Nós estávamos nessa juntas, mesmo com medo. Se ela queria encontrar uma forma de fugir, seja do feitiço, da guerra, de Persephone, do Inferno ou do que quer que fosse, nós deveríamos fazer isso juntas.

– Isso é fácil de dizer como alguém que sabe o que uma família significa. – Não percebi Naomi chegar, mas é ela quem diz isso. Ela vai até sua mala e a abre sobre a cama, falando enquanto joga seus pertences lá dentro. – Eu não soube enquanto sentia e não sei agora. Estou ligada a vocês, por sangue e por feitiços, mas não da forma natural e automática em que você é ligada a Juliana, em que Kat é ligada a Ellie ou até como Kaylee era ligada a Amelie. O mundo como conhecemos está acabando, Louise. Eu não devo a vocês toda minha lealdade apenas porque o sangue de Kat corre nas minhas veias.

As Crônicas de Kat - A História CompletaWhere stories live. Discover now