Capítulo 72 - Água-gelada

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— Bom dia Defiance! — gritava o homem de chapéu amarelo em um dos poucos momentos em que podíamos vê-lo sóbrio. E era nesses minutos em que a movimentação no forte começava. 

O Pancinha começava cedo a preparar o café e a servir os pães que ele havia assado na tarde do dia anterior, com a minha ajuda, devo dizer. Quatro fatias de pão com manteiga e duas xícaras de café com leite. Essa era a medida do meu café da manhã, sentado na ponta esquerda da mesa do meio. Só não gostava quando um soldado sentava bruscamente no meu banco, fazendo chacoalhar a xícara na minha mão. As vezes o homem de chapéu amarelo passava perto de mim e eu também não gostava do cheiro dele. Quando isso acontecia, o Pancinha olhava pra mim com um sorriso e um movimento de cabeça que eu não entendia. O que alguém quer dizer, levando o queixo para frente e a nuca para trás várias vezes ?

Se cada soldado devia usar um uniforme padrão, a proposta não tinha sido tão aceita pelos homens do general. Alguns tinham a cor desgastada demais enquanto outros dobravam as mangas conforme o próprio gosto. Outros usavam peças rasgadas ou porcamente costuradas. Isso irritava.  — Nem tudo pode ser controlado ao mesmo tempo — dizia o general que concedia liberdade aos soldados que lhe obedeciam em coisas mais importantes.

Eu gostava dos cavalos. Animais altos e fortes que me olhavam com grandes olhos de criança. Você sabia que um cavalo com um ano e meio de idade já está correndo por aí enquanto carrega um humano nas costas ? E eu gostava da Clotilde que era dócil e trabalhava bem. Eu e ela enchíamos a caixa d'agua todas as manhãs. Atrelava a mula no engenho, levávamos um pouco mais de uma hora para fazer com que a agua do poço chegasse até o reservatório alto que ficava no meio do pátio.

Eric tinha uma rotina acelerada de estudo e treinamento mas aos domingos tínhamos tempo de explorar as terras ao derredor. O Pancinha nos deixava levar alguma comida. O rio Água-gelada, como era chamado pelos índios da região, encontrava o grande Rio-abaixo. Do alto das montanhas podíamos ver um grande Y que a junção dos rios formava. Algumas vezes cruzávamos por vaqueiros que levavam a boiada de um lugar para o outro, o que eu achava sem sentido. Por que levar tantos animais de um lado par o outro, e depois trazê-los de volta? Bem, eu era uma criança ainda e entendia pouco da vida e das necessidades dos outros. Acho que naquele tempo eu não sentia necessidade de algo e muito menos pensava sobre a necessidade das outras pessoas. Eu gostava de nadar no Rio-abaixo mas não no Água-gelada e entendia porque os antigos moradores daquelas terras lhe deram esse nome.

Era o meu segundo mês ali e ainda não sentia saudades de Branca e do Senhor M.


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⏰ Última atualização: Nov 12, 2017 ⏰

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