Capítulo 31 - Shangri-la, parte final

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O quarto era  bem simples

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O quarto era bem simples. Uma cama com lençóis e travesseiros verdes. Um teto azul. Tomei um banho num água gelada e apaguei enquanto olhava o azul claro do teto.

Acordei ouvindo o tinir de um sino grave. Minhas costas doíam muito. Outros pontos escuros na minha pele também doíam quando eu os apertava. Não podia apertá-los. Eu queria só virar meu rosto para a parede e voltar a dormir, mas o Barão veio lamber minha orelha.

- Vamos lá para o jardim Jeff Iago!

O Cigano vestia roupas limpas e coloridas. Muito coloridas. E carregava sobre os ombros seu violão com um lenço vermelho amarrado nas atarraxas. Tinha certeza de que se eu perguntasse sobre o lenço ele me diria algo sobre sua Melissa.

No meio de um corredor tinha outra escada de pedra que subia rumo ao teto, passando por um pequeno quadrado em céu aberto e que dava para um jardim amplo e florido, escavado na rocha. Um fio de água corria na parede de pedra ao fundo, alguns bancos de madeira sobre tapetes rosas feitos pelas pétalas caídas dos ipês que habitavam o jardim, pessoas observando flores e alguns animais recebiam a luz do sol de maneira receptiva e contemplativa. Grandes águias sobrevoavam o céu acima de nós.

Eu diria que todos estavam em silêncio. Mas um tipo de silêncio parecido com o silêncio de um sonho.

Acho que o Cigano não gostava de tanto silêncio.

- Veja Jeff Iago, um waheela está vindo para cá!

E começou a tocar e a cantar uma canção alegre.

Eu gosto de sonhar
sim, sim, bem no meio de Shangri-lá
Em uma nuvem de suspiro eu voo pra qualquer lugar
pra bem longe, pra perto, rumo às estrelas fora daqui

Bem, você não imagina o que poderíamos encontrar
Por que você não vem comigo em uma viagem
num tapete branco e mágico
sobre os pelos macios de um waheela veloz?

Bem, você não sabe o que poderíamos ver.

Tenho estado atordoado e confuso por tanto tempo não é verdade?
Que tal você me contar seus sonhos e me esclarecer com sua a fantasia?
Na noite passada eu segurei na lâmpada,
então eu desejei que pudesse ficar
mas alguém tomou a lâmpada de mim

e eu olhei em volta e uma vela derretida foi tudo o que encontrei.

Por que você não vem comigo em uma viagem
num tapete branco e mágico
sobre os pelos longos de um feroz waheela?

Feche seus olhos, olhe para dentro,
deixe a musica te levar
pelos jardins de Shangri-lá.

O animal gigante e de pêlos brancos, longos e macios veio em nossa direção com ar de curioso. Barão se escondeu atrás das minhas pernas. O waheela chegou bem perto de mim e me cheirou. Em seguida me deu uma grande lambida que quase me derrubou. Encostou a cabeça em meu peito e eu acariciei sua cabeça. Nunca tinha visto nada igual. Um misto de urso pardo com lobo, branco como a neve e com pelos longos. Um porte assustador mas ao mesmo tempo gracioso. Maiores que um cavalo de batalha e cheirosos como um cão filhote. Depois ele também cheirou o Barão que ficou com medo de começo mas depois abanou o rabo muitas vezes. O waheela deu um grunhido alto que ecoou pelo jardim e foi respondido por outros muitos sons, alguns bem distantes e outros nem tanto.

- Igual eu imaginava! - Gritou o Cigano.
- Vejo que o Babusho gostou de vocês - disse o homem que havia nos recebido- sua música é um tanto quanto fora do comum neste jardim. Ainda não tenho opinião formada sobre ela. Vou meditar a respeito.
- Não existe vida sem música. A música é inseparável da vida. Mesmo o silêncio tem a sua música. Todo cigano sabe disso ao nascer.
- Meditarei sobre suas palavras, nobre visitante. Meu nome é Kuot e eu sou um aluno mestre.

Kuot falava de uma maneira mansa, suave e pausada, quase como se não conseguisse pensar com fluência.

- Você é mestre de que ? - perguntei.
- Não sou mestre. Sou um aluno mestre. Sou um aluno preparado para aprender da forma com que espera-se que um aluno aprenda e também capacitado a repassar o que aprendo da maneira com que se espera que um aluno compartilhe do conhecimento com seus irmãos.
- Então, quem é seu mestre?
- Não temos mestres aqui em Shangri-lá. O maior de nós é o menor de nós.

"O maior de nós é o menor de nós". O que significava isto que Kuot me dizia?

- Babusho é o líder dos trinta valentes. Ele acaba de dizer aos trinta que vocês são aceitos aqui. Se ele diz isto, eu concordo com seu julgamento. Todos em Shangri-lá fazem algo. Alguns de nós são encarregados de fazer nada, mas apenas aqueles que realmente conseguem fazer isto. Mas afinal, qual será o trabalho de vocês?

Não entendi. Eu não sabia fazer algo e também nem sabia fazer nada. Eu nem queria fazer nada. Eu ia dizer isto mas o Cigano se adiantou e disse com uma voz teatral: - Nós somos artistas. A nossa retaguarda trazemos muita alegria e em nossa despedida deixamos para trás recordações adocicadas. Felizes os que nos recebem em sua terra!

Não fazia sentido.

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Jeff mais leve que o arOnde as histórias ganham vida. Descobre agora