Capítulo 29 - Shangri-la, parte 1

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Andei

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Andei. Andei muito. Andei muito tempo. 

— Que horas são?
Olhei o relógio que era do meu pai.
— Quase cinco e meia.
— Então é hora do chá das rosas — disse o Sábio Lendário.

Não, ele não estava lá, mas eu podia ouvir sua voz.

— Nada de chá por enquanto.

O sol batia no meu rosto. Tudo que eu via torna-se castanho à medida que o sol queimava a terra. Meus olhos encheram-se com a areia, a medida em que eu olhava para a  terra devastada, tentando descobrir onde estava.

Como pensamentos dentro de um sonho, eu vi um córrego amarelo.

Lavei  a cabeça do Barão, que estava machucado. Eu também estava. Meu corpo reclamava e eu queria ignorar aquelas reclamações infernais.

— Acho que você deveria fazer uma pasta com plantas e colocar nos seus machucados e também nos machucados do cão — disse-me o Mago Barulhento — Você sabe como fazer. Me lembro de ter visto seu pai fazendo pra você, quando você cortou a perna naquela pedra afiada perto da cachoeira.

Eu peguei algumas folhas e mastiguei durante um bom tempo. Mastiguei sem engolir. Isto foi bom.  Tirou o gosto de sangue de minha boca. Esfreguei a pasta no machucado do Barão e também nos meus. 

O sol foi embora e as estrelas e uma grande lua de verão me acompanharam. As estrelas, a lua e o Barão. Meu amigo Barão. Ele não merecia aquilo. O que foi que ele fez? Um bom cão, o Barão.

A noite ia arrastando-se, como se cada segundo fosse alguma coisa pesada, que necessitasse de um empurrão para ceder lugar ao seguinte, em uma imagem azul escura tatuada de prata. Muito longe eu  avistava uma montanha.

Escutei um barulho muito alto. Um monstro vindo em minha direção. Me escondi atrás de um arbusto enquanto ele passava. Um longo, esfumacento e barulhento trem e seus muitos carros. Todos os carros se pareciam iguais. Mas de dentro de um deles, alguém pulou, rolando, rolando até chegar perto de onde eu me escondia.

 — Puxa! Desta vez foi mesmo difícil. Ei garoto, tudo bem?
— Não. Meu cão está machucado.
— Sou um cigano vivido e amistoso a seu dispor. Deixe-me ver estes ferimentos. Bonito colete, mas ficaria melhor se o usasse aberto assim como eu faço.

O homem com lenço laranja na cabeça olhou a cabeça do Barão e eu experimentei desabotoar o colete. Gostei.

— Qual o seu nome?
— Jeff. Jeff White.
— Hum... Ok. Mas vou chamá-lo de Jeff Iago.
— Por que?
— Para um cigano, significa Jeff, aquele que venceu. Você pode sempre se apresentar assim sempre que encontrar outro cigano. Para onde você está indo?
— Não sei.
— Então vamos juntos! Se importa de eu tocar meu violão?
— Achei que os ciganos tocassem alaúdes.
— Bom, tocamos também. Tocamos o que estiver a mão. Uma vez, toquei com um pinico. Já ouvi histórias de que o Grande Tayrone tocava até o próprio ar.
— E você? Qual o seu nome?
— Ninguém sabe o nome do cigano e ninguém ouve seus suspiros solitários. Cruzamentos, vem e vão e o cigano voa de costa em costa, conhecendo muitos, amando poucos, trazendo tristeza, se divertindo.
— Você não tem casa?
— Claro que tenho! Eu sempre corro pra casa, para a doce Melissa. Oh doce Melissa! Minha casa é onde ela está. Em meus sonhos mais profundos o cigano voa, com minha doce Melissa.

E então ele começou a cantar e a tocar uma canção de amor que falava sobre sua amada e doce Melissa. Eu pensei que seria bom ter alguém assim, pra quem voltar.

Continuamos a andar e a andar. Passado algum tempo desapareceu o luar, e com ele o espectro distante da montanha. E a escuridão, o frio e a ventania foram aumentando até o raiar da manhã. Ao aceno desta calou-se o vento, deixando o mundo imerso numa compassiva quietação. Eu estava em uma vale e a minha frente, tornou a aparecer a montanha, cinzenta a princípio, depois prateada e afinal rosada, quando os primeiros raios do sol lhe feriram o vértice.
Conforme o sol subia, o próprio vale tomava forma, revelando um fundo de rochedos e cascalho que subia em encosta inclinada. Não era uma cena hospitaleira mas tinha um toque esquisito de beleza, uma qualidade rígida.

Caminhamos em direção da montanha e a subimos com convicção. A subida tornou-se mais abrupta e então o tempo se enuviou e uma bruma prateada obscureceu a paisagem. Dos campos de neve, lá em cima, vinham sons de trovões e avalanches e o ar esfriou. Rajadas de vento, acompanhadas de chuva e neve, encharcaram-nos, aumentando enormemente o nosso desconforto. Principalmente nas minhas costas. O próprio Cigano sentiu, em dado momento, que seria impossível ir muito mais longe. 

§

fim da parte 1/3

fim da parte 1/3

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Jeff mais leve que o arOnde as histórias ganham vida. Descobre agora