"Já está acabado." Resmunguei. Não era oficial, nenhum de nós disse que acabou, mas até um cego vê e até um burro percebe que acabou.

Porém, a reação que obtive, tanto da minha mãe, como do meu pai, foi a mais inesperada. O meu pai finalmente tirou as mãos da cabeça e olhou para mim como se tivesse acabado de dizer que estava a pensar ir para um bar de meninas fazer a dança do varão e a minha mãe ficou até sem saber o que dizer, como se quisesse muito uma coisa que, depois de ter, afinal não queria.

"Ele teve a coragem de te deixar depois de descobrirem?" Indagou o meu pai, com uma pitada de irritação e ultraje nas suas palavras. "Aquele traste abandona a minha filha quando estão no mesmo barco? E pensar que eu falei com ele hoje sobre futebol, ele não merece que..." E calou-se, fechando as mãos em dois punhos e respirando fundo.

"O que é que aconteceu?" Perguntou a minha mãe.

Não foi para isto que me tinha preparado. Quer dizer, eu nem para o sermão me havia preparado, mas uma imagem da situação tinha, pelo menos, passado pela minha cabeça. Isto não. Eles estão a deduzir que o Zayn me deixou, por terem descoberto, e o meu pai parece querer matá-lo enquanto a minha mãe parece... chocada?, preocupada?

"É uma história longa." Teria de recuar até a uma festa depois de um baile de finalistas de uma turma de Ciências do secundário de há cinco anos atrás. Que incluía algo de que eles odiavam falar: a Anna.

"Eu não acredito." Exclamou a minha mãe, deixando-se cair sobre uma cadeira junto da mesa, mas logo se voltou a levantar, mais determinada do que antes. "Não, isto não fica assim, a minha menina não vai arcar com as consequências todas, ninguém vai estragar a vida de outro filho meu outra vez."

Claro que eles pensam o pior, claro que eles o querem matar. Depois de a Anna poder estar grávida de outra pessoa após cinco anos e meio de relação com o Mark e de estarem noivos, qualquer coisa é possível na cabeça deles.

"Ele não.." O que é suposto eu dizer? "Ele não me deixou porque descobriram; descobriram precisamente no momento em que ele me estava a deixar."

As lágrimas subiram-me aos olhos. Não sabia qual o adjetivo descrevia perfeitamente o meu eu de agora, contudo era claro. Eu estava destroçada. E o pior é saber que a culpa é minha.

"Eu escondi-lhe coisas." Prossegui, aguentando os olhos abertos o máximo de tempo que conseguia, pois as lágrimas iriam escorrer no momento em que eu pestanejasse. "E a Madison arranjou maneira de ele descobrir que eu lhe escondia coisas."

Nunca queremos escolher, ficamos sempre divididos entre ser leal a uma pessoa ou ser leal a outra, mas lá no fundo escolhemos, mesmo que não queiramos, mesmo que nem reparemos que os estamos a fazer. Não queria escolher entre ser fiel ao Zayn, entre ser leal ao Louis, mas escolhi, escolhi ser leal ao Louis, e isso magoou o Zayn. E se eu tivesse escolhido o Zayn, magoaria o Louis. Meti-me numa grande salgalhada e nem me apercebi, só quando já era tarde.

"Bella." Lamuriou-se a minha mãe. "E agora?"

E comecei a chorar. Não por estar destroçada, mas porque, talvez pela primeira vez a sério na minha vida, eu não sabia o que fazer e é algo que nos abala, é um terramoto sob nós, chegar ao fim de quase 18 anos de decisões tomadas previamente pensadas, com os prós e os contras calculados, com os dez anos vindouros planeados... e, puff, não sei nem o que fazer nos próximos dez segundos.

"Eu não sei." Comecei a respirar como se os meus pulmões fossem um carro a fazer paragens bruscas umas atrás das outras, inspirava cinco vezes seguidas, como se me faltasse o ar, e expirava tão rapidamente que nem despejava o ar todo. "O direitor quer falar connosco e eu não sei o que vou fazer, porque pensei que se algum dia isto acontecesse, nos iríamos apoiar um ao outro, mas correu tudo tão mal e ele agora nem consegue olhar para mim e eu não sei o que fazer."

Physical Education Teacher Z.M.Where stories live. Discover now