Capítulo 8

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A campainha tocou pela quarta vez consecutiva num espaço de 5 minutos. Estavam a testar um novo toque, mais moderno e menos irritante, e isso era a justificação para a campainha estar constantemente a tocar. Entretanto, eu tentava descobrir a combinação do meu cacifo, porque era a primeira vez que estava a precisar dele neste ano letivo e falhava-me a memória. Era qualquer coisa como 27-8-12, mas não estava a funcionar e estou em frente deste cacifo que se recusa a abrir desde que o primeiro dos quatro toques da campainha soou.

Atrás de mim, uma multidão começou a formar-se subitamente e quando desisti de descobrir a combinação, virei-me para trás para ver um enorme círculo de pessoas em volta mesa da funcionária. Todos falavam do mesmo, do que tinha ocorrido, mas com todas estas vozes misturadas e um quinto toque prolongado da campainha, eu não consegui perceber nada. Só mais tarde, quando se abre caminho para alguém passar, é que vi uma rapariga loira sentada de cabeça para baixo na cadeira da funcionária; como a sua cabeça não estava virada para mim, não conseguia reconhecer a cara da rapariga, mas ela parecia-me estranhamente familiar. Quando o círculo volta a fechar, fiquei presa no seu interior, por me ter aproximado de mais, e antes que tentasse sair, vi o professor Malik junto da rapariga, a mexer-lhe no pescoço, a abrir-lhe um dos olhos e sabe-se lá mais o quê.

"Não adianta, chame a ambulância." Disse ele para a funcionária deste pavilhão.

A mulher não perdeu tempo em pegar no telefone fixo na sua mesa e marcar o número de emergência enquanto o professor Malik pegava cautelosamente na rapariga e o círculo se abria de novo.

"Qual é o nome da rapariga? Veja se ela tem família na escola."

"Martha Evans, Sr. Malik."

O quê?

Foi como um choque; lembrei-me automaticamente da roupa que ela tinha vestida hoje e até o cabelo ondulado dela reapareceu na minha memória. Inconscientemente, dei um passo em frente, e o professor logo olhou para mim. Passa a vida a chamar-me Evans, certamente associou a Martha a mim quando, para além de ter o mesmo sobrenome que o meu, ela é loira e tem olhos azuis, aquilo de que tanto falamos há duas semanas atrás, numa aula de apoio.

"Não precisa de procurar por família na escola, tenho aqui a irmã mais.."

"Velha." Completei, tocando com a minha mão na face pálida e gélida da minha irmã mais nova. "Vais levá-la para onde?"

"Para a enfermaria."

À medida que íamos atravessando os pavilhões pelo seu interior para sairmos do outro lado da escola, em frente do pavilhão gimnodesportivo, mandei uma mensagem ao Mark a perguntar onde estava, explicando o que tinha acontecido a seguir, mas ele respondeu a dizer que teve um furo e que estava no McDonald's com uns amigos, a três quilómetros da escola, ainda que fosse tentar ir ter ao hospital... onde o meu pai trabalha. Isto vai ser interessante.

"O que lhe aconteceu?" Questionei, demasiado preocupada. Ela desmaiou... não está propriamente a morrer.

O professor Malik pousou-a num banco almofadado comprido na enfermaria e abriu a persiana para que pudéssemos ver a ambulância quando ela chegasse.

"Não estava com ela, apenas me foram chamar. Ela alimenta-se em condições?"

"Ela é meio que... vegetariana." Repliquei e ele revirou os olhos. "Só o é há pouco tempo."

"Quando uma pessoa decide virar vegetariana do nada, tem de ter a noção de que tem de ingerir muito mais comida, porque aquilo que dá mais energia é a carne e o peixe, coisa que, pelos vistos, ela não come. Há quando tempo é que ela decidiu ser a favor dos animaizinhos indefesos?"

Physical Education Teacher Z.M.Where stories live. Discover now