Capítulo 17

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Até gostava de saber o que vai ele tentar ensinar-me nesta aula de apoio quando não sabe o que eu já sei. Não importa se ele disse que eu estava de parabéns e que devia continuar assim, eu fiz três jogos, correram todos muito bem e aposto que ele viu alguns momentos dos jogos aqui e ali e que, para ele, chegam. Bem, não chegam. Ele tem de saber o que eu consigo e não consigo fazer, para me fazer melhorar o que consigo e começar a fazer o que ainda não consigo. E é por isto que nesta aula de apoio tencionava fazer tudo na perfeição, para lhe arruinar os planos. Sim, quero arruinar o que quer que ele tinha pensado que podia ensinar, mostrando-lhe que eu já tinha aprendido.

O problema é que as probabilidades de isso acontecer são quase nulas. Os jogos correram como correram porque ninguém esperava que eu desse um salto do medíocre para o razoável, portanto subestimaram aquilo que eu sabia fazer, pensando que era um nada, quando era, pelo menos, alguma coisa. Quando estiver sozinha, com um professor reles e bipolar, que se importa tanto com a minha nota como um adulto se interessa pelo Noddy, a coisa vai dar uma reviravolta. Vou cair do Razoável, e nem sequer é para o medíocre; vou cair do Razoável para Miserável.

Como as divisões estavam ocupadas, tivemos de ficar com a Sala de Dança, de novo. Nada preparada para mais cem minutos de esforço e dedicação contra a minha vontade, cheguei à sala de dança e ele já lá estava a... fazer... cenas...

Nos espaldares ao fundo da Sala de Dança, de costas para mim, o Professor Malik estava agarrado ao último degrau, a elevar o corpo e, depois, deixando-se cair, e isto sendo repetido inúmeras vezes, sem parar, sem parecer cansado, sem fazer esforço algum. Com receio de que ele dê pela minha presença observadora, decido bater com a porta de betão, que produziu um basqueiro tremendo que se fez ecoar por toda a sala. Com efeito, ele virou-se para trás e deixou-se cair no chão, batendo com as mãos uma na outra como se se tivesse agarrado a uma superfície cheia de pó e o estivesse, agora, a sacudir.

"Cinco minutos, à volta da Sala, ainda tenho de te dizer como começar?"

Inspirei fundo e comecei, então, a correr em volta da sala, enquanto ele improvisava um campo de futebol com dois pares de cones cor-de-laranja e uma bola preta e branca. Quando o apito soou, dando fim aos cinco minutos, eu parei e senti-me super contente quando reparei que a respiração totalmente descontrolada e o coração que batia na minha garganta de outrora era, agora, uma respiração ligeiramente acelerada, ainda que calma. Eu já aguentava os cinco minutos a correr sem me cansar, e, se continuar assim, a modalidade do final do período vai ser canja!

"Desculpa lá, esqueci-me das horas e correste sete minutos."

Parei bruscamente no meio da sala, chocada com as suas palavras e admirada com o significado delas... eu estava muito melhor do que acreditava que estava.

"Correr aos Domingos de manhã é uma ajuda preciosa, eu sei." Acrescentou ele, com a bola debaixo do seu pé esquerdo, entre os dois cones cor-de-laranja da sua baliza. "Coisa que tu ainda não sabes fazer, de modo nenhum, é passar a porcaria da bola. Sempre que passavas a bola, davas-lhe um biqueiro e a pessoa a quem a bola era destinada que a fosse buscar. Os teus colegas não são cães, não podes simplesmente atirar-lhes a bola e dizer Busca."

Revirei os olhos. Quando é que eu fiz isso? Ou algo minimamente parecido?

"Não podes chutar com os dedos, principalmente com o grande. Algum dia isso corre mal e vais acabar por chutar o chão."

"Eu já vi montes de pessoas chutar assim." Defendi-me, com os braços cruzados, sabendo perfeitamente que a razão estava do meu lado.

"O que tu vês é pessoas a enfiar o pé debaixo da bola e a chutá-las depois. É isso que faz a diferença entre jogar futebol e jogar bowling, onde tu chutas com os dedos e a bola parece um íman e mal se afasta do chão."

Physical Education Teacher Z.M.Where stories live. Discover now