Olho-lhe o rosto mais uma vez, sem me puder conter, pego no seu corpo demasiado magro e puxo-a para mim. Seguro-a fortemente no meu colo, compaixão, desgosto, mágoa, culpa... é tudo o que posso sentir.

"Desculpa... Desculpa, Molly..."

***

"Louis? Louis Tomlinson?" Uma enfermeira interrompe os meus pensamentos, a minha atenção é de imediato desviada para aquela senhora. "Foi o senhor que veio com a Molly?"

"Sim, sim fui." Tento não me engasgar com as palavras que saem atabalhoadamente da minha boca. "Como é que ela está?" Questiono extremamente preocupado.

"Estável por agora, no entanto ela tem vários ossos partidos e algumas hemorragias internas. Esperamos que elas sarem com o tempo, contudo se tal não acontecer pode precisar de ser operada." A enfermeira aparentemente simpática diz. "A Molly está inconsciente e vai ser em breve vista por um neurologista, tem várias concussões na cabeça e queremos ter a certeza que não há nenhum dano cerebral."

"Posso vê-la?" Quero vê-la com os meus próprios olhos, quero ver como está. Eu apenas quero olhar para ela...

"Lamento, mas o senhor não é familiar da Molly, pois não?"

"Não, sou um... ... amigo." Debato-me não sabendo bem o que responder. Na verdade, eu não lhe sou nada... Sou um mero conhecido que a viu umas duas vezes...

Penso agora nisso, eu de facto não a conheço, contudo sinto que a conheço. Sinto que aquela rapariga me é familiar, que me é algo. Que aqueles cabelos loiros e os seus olhos chocolate já estiveram perto de mim mais do que apenas duas vezes...

"Lamento, mas apenas familiares podem vê-la."

"Por favor, ela não tem mais ninguém, deixe-me vê-la..." Quase que imploro. A enfermeira parece debater-se sobre a sua decisão de me deixar entrar ou não.

"Talvez eu possa abrir uma exceção, mas só desta vez..." Ela olha para mim de uma maneira carinhosa. Sorrio-lhe em forma de agradecimento.

Caminhamos um pouco, cada passo meu mais aflito do que o outro. Cada metro percorrido mais exasperante do que o anterior. A agitação que me rodeava era esquecida pelo meu destino, Molly. Os médicos e enfermeiros a correrem a meu redor pareciam andar em camara lenta devido à rapidez dos meus pensamentos. Os gritos de desespero e os choros de sofrimento pareciam meros sussurros, enquanto flashes da prostituta me apareciam diante dos olhos. Finalmente a enfermeira que me indicava o caminho parou, acordo dos meus pensamentos quando percebo estar agora num corredor mais calmo, onde toda a agitação foi trocada pelos ensurdecedores bips das diversas máquinas médicas. Olhei pelo vidro que se encontrava à minha frente, um vidro grosso e fosco, que apesar das suas características dava para ver o seu interior perfeitamente.

Vi-a. Vi o seu corpo deitado na cama hospitalar. Observei o seu rosto adormecido e cansado. Respirei fundo, com esperança que tal afastasse as lágrimas que ameaçavam descer pelos meus olhos. Tão frágil, tão sozinha...

"Pode entrar se quiser." A senhora olha para mim com olhos doces e abre a porta do quarto, depois abandona o local dando-me privacidade.

Debato-me, não corro para dentro do quarto como pensei que fizesse. Não entrei de imediato, não corri para junto dela. Ao invés, fiquei ali, parado, a observá-la. Pergunto-me o que estou aqui a fazer, pergunto-me se estou a criar algum tipo de laço com a loira de batom vermelho. Pergunto-me porque estou junto de uma rapariga atrevida que ganha dinheiro com sexo. Pergunto-me porque lhe dei o meu número no dia em que a conheci, pergunto-me porque senti compaixão por ela. Pergunto-me porque não hesitei em ajudá-la quando ouvi a sua voz medrosa ao telemóvel... Pergunto-me porque é que ela estava ali deitada em vez de mim...

X Justice X || h.s.Where stories live. Discover now