Capítulo 32

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Harry POV

Olho mais uma vez em redor. As paredes brancas acinzentadas nunca mais me iriam assombrar, nunca mais me iriam sufocar. Na verdade, era difícil acreditar que isto iria mesmo acontecer, que provavelmente era um tiro no escuro, mas eu não aguento mais. Este cheiro, estas pessoas intoxicam-me, fazem-me não saber quem sou. Uma coisa eu sei, este sítio mudou-me. Já não sou quem era. O Harry outrora feliz e brincalhão, o Harry doce, todos esses Harry desapareceram. O sofrimento faz mudar, a dor faz mudar, o amor faz mudar. Custa-me saber que agora não passo de uma espécie de fantasma, frio e vazio, a tentar seguir de novo.

Custa-me acima de tudo, não ter uma despedida adequada. Dói não poder olhar outra vez para April, dizer-lhe tudo o que lhe queria dizer, sentir o seu cheiro, mesmo que fosse a última vez... Eu não sei o que o futuro me reserva, eu não sei se vou poder começar do zero ou não, não sei se vou voltar a ver a minha Julieta... Talvez seja altura de deixá-la ir, de parar de ser egoísta. Gostando ou não, eu não sou homem para ela. O nosso amor iria arruinar-lhe a vida, eu quero muito tê-la, poder dizer que a amo, mas ela não iria merecer isso. Alguém lhe pode dar muito mais do que eu alguma vez lhe poderia dar... Talvez seja mesmo altura de refletir sobre o assunto, de me afastar de tudo durante um tempo... De deixá-la ir... Até já Julieta...

A minha mente divaga agora para a minha mãe e para Gemma. Não sei se alguma vez elas me irão perdoar, se algum dia vão acreditar em mim... Não passo de um homem solitário, sem família, sem amigos, sem ninguém... O barulho da porta acelera o meu coração. Era agora... ... eu não estava preparado...

"Pronto?" Zayn pergunta entrando na minha cela da ala psiquiátrica.

Fito-o, flasbacks da nossa adolescência pontapeiam-me o cérebro. Admito que talvez esteja a ser demasiado rancoroso, que devia perdoá-lo, que iria ser benéfico para os dois. Ele fez muita merda, mas a verdade é que ele também voltou de Londres... Mas não estou preparado para esquecer tudo, não agora. A raiva ainda é maior do que a vontade de ter um amigo. Eu não confio nele...

"Harry?" Chama-me avançando até mim. "Se queres faze-lo, temos que ir agora." Aproximo-me dele, a minha mente quer agradecer-lhe, mas a minha boca é demasiado teimosa e rancorosa para fazê-lo.

Ele retira umas algemas do bolso da sua bata, se queríamos tentar tudo isto teríamos que ser credíveis e respeitar as regras. Um recluso deve estar sempre algemado quando está fora da sua cela e da ala psiquiátrica.

"Porque voltaste de Londres?" Ganho coragem para lhe perguntar o que queria perguntar há já muito tempo, Zayn coloca as algemas nos meus pulsos, sinto o metal frio.

"Para isto Harry... Para te tirar daqui." Ele suspira apertando os objetos metálicos.

A sua resposta causou uma sensação estranha em mim.... Causou-me saudade. Talvez, talvez um dia eu consiga perdoá-lo.

***

O caminho que ambos percorríamos era longo. Mas mais do que longo, era monótono e duvidoso, como se ambos estivéssemos a entregar-nos ao suicídio. Se algo corresse mal, se de repente perdêssemos todo o controlo da situação, bastava uma bala. Uma bala que nos acertasse no peito, uma bala que iria acabar a nossa história...

Zayn levava-me pelo braço, ele parecia calmo. Apesar de todo o nervosismo que podia estar a sentir, ele conseguia esconde-lo na perfeição, acenava e cumprimentava os guardas que iam passando por nós, como se isto tudo fosse muito normal. E de repente, em vez de seguirmos em frente, de modo a ir pelo caminho desejado, Zayn olha em seu redor, certificando que ninguém nos vê e entra na casa de banho masculina.

Ele atira-me rápido lá para dentro, coloca o seu dedo indicador em frente aos seus lábios, dizendo-me para ficar calado. Decido proceder ao seu pedido, sem saber do que se estava a passar, do que ele estava a aprontar. Zayn, bate à porta de todas as cabines sanitárias e depois de concluir que não se encontrava ninguém no espaço, trancou a porta.

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