Capítulo 38

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Paro estática em frente à porta do meu apartamento assim que oiço barulho a vir do interior. Um ambiente festivo e agradável parecia soar da minha casa, fico confusa. Serão James e os amigos a ver um jogo de futebol? Tudo o que eu menos queria neste momento era ter alguém em casa, incluindo James. O meu coração e a minha cabeça ainda tentavam assimilar tudo o que tinha acontecido. Só fizera meia dúzia de minutos desde que derramei a última lágrima, estou frágil, estou desolada, estou a morrer interiormente... E o pior de tudo não é sentir-me assim, é ter que abrir esta porta que se encontra à minha frente e colocar um sorriso no rosto, é mentir a James assim que ele me perguntar como correu o meu dia, é não poder desabar, é o fingimento.... Cheguei à conclusão que a minha vida não passa de fingimentos... Eu finjo estar bem, eu finjo ainda ser a mesma advogada que era, eu finjo amar James, eu finjo não amar Harry... Eu apenas finjo...

Engulo em seco quando sinto as lágrimas a voltarem, tento varrer todos os pensamentos da minha cabeça. Eu perdi, oh se perdi... E não foi uma derrota qualquer, foi a derrota. A derradeira derrota... Respiro fundo, tento ignorar estas memórias que me matam. Eu lá no fundo sei que isto vai acabar comigo, que me vai fazer bater no fundo do poço, mas eu não me posso dar a esse luxo, simplesmente não posso. A minha mãe precisa de mim, os meus irmãos precisam de mim... E isso também doí, dói saber que de certa forma muita gente depende de mim, porque neste momento, eu queria mesmo bater no fundo do poço. Eu queria que alguém me atirasse lá para dentro, que me deixassem ao escuro e sem comida. Gostava que o poço estivesse cheio de água para que quando eu caísse começasse a engoli-la, começasse a sentir os pulmões a deixarem de funcionar, gostava de me sentir a ir... a ir para junto dele...

Encosto a minha testa à porta de madeira, sinto-me a enlouquecer.... Recomponho-me, ou melhor, finjo que me recomponho, forço um sorriso falso e abro a porta, pronta para cumprimentar os amigos de James e me enfiar no quarto, dando a desculpa de que estava demasiado cansada.

Arregalo os olhos quando percebo que não são os amigos de James que habitam a minha casa. Vejo a mesa de jantar demasiadamente aperaltada, posta com a loiça mais glamorosa que podia ter em casa. Vejo James a falar animadamente com Niall e com o seu pai. Vejo os pais de James a brincarem alegremente com Lux. E naquele preciso momento, a única coisa que me apetece fazer é fugir. Fugir daquele ambiente familiar demasiado perfeito... O barulho da porta a fechar-se faz com que a atenção de todos seja direcionada até mim.

"Querida, ainda bem que chegaste." Norma, a mãe de James, abraça-me calorosamente, fazendo-me sentir desconfortável. Apenas lhe consigo esboçar um pequeno sorriso, olhando de imediato para James, pedindo-lhe explicações.

"Boa noite a todos..." Cumprimento todos... Niall fita-me atento e eu tenho quase a certeza que ele percebeu de imediato que não estou propriamente feliz. "James?" Pergunto arregalando a sobrancelha para que ele me explique o que está a acontecer.

"Surpresa." Ele limita-se a dizer-me sorridente e carinhoso. E, apesar de saber que ele só tinha boas intenções, eu senti pura e simples raiva dele. De facto, o dia escolhido não poderia ter sido melhor.

"Vou só pousar as coisas no quarto." Aviso todos os presentes. "James, vens comigo?" Digo calma e serena, sabendo que quando chegasse ao quarto provavelmente iria explodir, iria descarregar em James apesar de ele não ter culpa nenhuma. Ele apenas me amava...

Caminho silenciosa pelo corredor fitando o chão, James encontra-se adiante de mim, feliz e entusiasmado pela noite em família. Abro a porta do quarto, fito o mesmo, até aquele lugar tão familiar e tão pessoal me parecia triste, demasiado cinzento e sem luz. A cama de lençóis brancos e desajeitados faziam-me imaginar ali deitada, não por meras horas, mas por dias intermináveis. Faziam-me querer adormecer e sonhar, sonhar com uma vida aparentemente perfeita, sem dor e sem sofrimento, uma vida normal a que todos temos direito. Pouso a mala em cima da cama, adentro pela porta da casa de banho, coloco-me em frente ao lavatório fitando o meu rosto no espelho. Fito-o, fito-o sem retirar qualquer tipo de conclusão, era um rosto manchado de mágoa, manchado de solidão e apenas o mais distante é que podia não reparar nisso. Abro a torneira e passo água pela minha cara.

X Justice X || h.s.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora