Capítulo 40

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Sabia exatamente o porquê de Louis me ter arrastado para aquele lugar. O espaço exalava harmonia e conforto, algo de que precisava... Aquele café já se tinha tornado numa segunda casa para nós... Já presenciámos gargalhadas e palavras amigas aqui mesmo neste lugar, já vivemos muito apenas com uma chávena de café à nossa frente. Não era apenas um café, tinha-se tornado no café, aquele a que recorríamos quando algo estava menos bem, aquele a que recorríamos quando nos queríamos ver.

A mesa onde estávamos instalados era igualmente a mesma de sempre, a mesa mais discreta, encostada a um canto com uma janela de lado onde podíamos observar a rua agitada. A chuva ainda não cessara, no entanto, isso não parecia acalmar as ruas de Nova Iorque. Contrariamente a ruas desertas e monótonas, podíamos observar pessoas a correrem de um lado para o outro, tentando fugir à chuva, chamando táxis e correndo para as estações do metro. Às vezes, gostava de me sentar ali naquela mesa, depois de um dia stressante de trabalho, e ficar sozinha e tranquila a observar o mundo exterior, a imaginar onde a rapariga de fones nas orelhas iria, ou até se o homem de fato e mala de trabalho iria para casa ter com a sua família. Devo admitir, que já ali perdi muitas horas, explicadas depois a James por horas extra de trabalho, porque ninguém iria acreditar na sanidade mental da rapariga que ficava horas sentada numa mesa de café a fazer absolutamente nada.

"Bom dia." A voz acolhedora da rapariga faz-me sair dos meus pensamentos, um sorriso é esboçado por ela quando nos reconhece. "O que vão desejar hoje?"

"Eu nada, obrigada..." Respondi melancólica, melhor do que outrora, mas ainda não completamente bem. Mas será que algum dia realmente ia estar?

"Eram dois cappuccinos, por favor." Louis pede educadamente, a rapariga assente e retira-se. O meu sobrolho levanta.

"Dois? Alguém está com falta de cafeína." Digo-lhe, gozando com ele.

"A quem o dizes, por isso é que pedi um para ti, parece-me que alguém não dormiu muito hoje." Os cantos dos meus lábios arrebitam, ainda bem que ele me fez sair de casa. "Agora vamos ao que interessa." Louis diz abrindo a sua pasta e tirando uns papéis do seu interior. "O que podemos usar no dia do julgamento?"

"Louis, quantas vezes te tenho que dizer que o julgamento é um julgamento de revisão e não para reabrir o caso..." Bufo irritada, apenas queria beber o cappuccino que Louis havia pedido para mim, sem falar, sem falar especialmente sobre isto.

O meu maior medo é que toda esta tentativa me traga ainda mais desgosto e mágoa. Louis sabe que isto não passa de um tiro no escuro, e eu também o sei. Mas, a partir do momento em que eu me atirar de cabeça a esta última tentativa, vai sempre crescer esperança em mim, talvez seja por isso que estou tao relutante em relação ao assunto...

"April, eu conheço-te e sei que se não fizeres esta última tentativa vais te arrepender todos os dias da tua vida..."

"Pronto, está bem!" Meio que grito.

A rapariga atenciosa e simpática traz os nossos cafés, colocando-os em cima da mesa. Fito a chávena atentamente, o coração desenhado com espuma no mesmo fazia-me pensar o quão ridículo é toda esta situação. A pessoa que eu mais amo vai morrer, e eu estou noiva de outro homem, homem esse que nem sabe de metade do que está a acontecer.

"Portanto, achas que podemos apresentar alguma pista nova?" Louis questiona-me depois de dar um gole no seu cappuccino.

"Nós não temos muitas provas em concreto, só passam de especulações..." Admito derrotada. "Achas que a Molly estaria interessada em testemunhar na audiência?" Pergunto-lhe referindo-me à prostituta.

"Quando ela me ligou parecia estar bastante aterrorizada, acho que ela faria qualquer coisa para sair daquele beco... Mas eu pretendo voltar lá o quanto antes, para falar com o chulo, pode ser que a consiga tirar de lá..." O seu olhar entristece.

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