Capítulo 33

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April POV

Ainda não chorei. Preciso de chorar. É como se o meu corpo quisesse explodir, mas não conseguisse. O interior do meu carro está escuro, frio... Pingas começam a escorrer pelos vidros, pergunto-me quanto tempo demorará até cair uma carga de água.

Queria poder ser como uma nuvem. Que quando chega ao seu limite, explode e descarrega tudo o que a mantinha pesada e miserável. Gostava de conseguir fazer-me chover. Gostava de deitar tudo cá para fora, de gritar bem alto, de mostrar ao mundo o quanto estou a sofrer, a tamanha dor que me percorre. Gostava de ser como Niall. Alguém que não tem medo de perder a compostura, que tem facilidade em demostrar o que sente, o que lhe vai pela alma.

Estou no estacionamento do meu apartamento há demasiado tempo. Uma hora... Talvez uma hora e meia. Uma hora e meia perdida nos pensamentos que me percorrem a mente, a sentir-me dormente... A querer explodir e não conseguir... Quero e não quero entrar em minha casa. Quero e não quero que James lá esteja. Não quero ter que lhe dar qualquer tipo de explicação, falar sobre o assunto, mas por outro lado gostava que ele me ajudasse a rebentar, que me dissesse algo que me fizesse explodir em lágrimas sofredoras e doridas, tendo a esperança que depois me sentisse algo melhor. A chuva é agora um pouco mais intensa, a noite vai alta e escura...

Saio do carro. Não me mexo. Sinto a chuva fria a cair em cima de mim, a causar-me certas sensações que eu não conseguia identificar. Olho para cima, olha para o céu completamente negro, sem a presença de nenhuma estrela devido à luz citadina. Pergunto-me o porquê de a vida me pegar tantas rasteiras. Pergunto-me o que aconteceu para que tudo ficasse uma confusão. Tinha um bom emprego, sucesso, uma boa casa, um bom ordenado, um excelente namorado, uma boa família. Se Deus realmente existia, onde raio estava, agora que eu tanto precisava dele? O meu cabelo já encharcado ia-se colando à minha testa, a minha roupa colava-se ao meu corpo. A maquilhagem que tinha aplicado na minha face escorria pela mesma, deixando os meus olhos negros e miseráveis, deixando o meu interior parecido com o meu exterior.

***

O sítio onde vivo está silencioso e escuro. Deserto para ser exata. Vou deixando um rasto de água enlameada enquanto me dirijo vagarosamente para o meu quarto. Ele não está cá, no entanto, as roupas que vestia ontem estão sobre a cama ainda por fazer. Será que ele vai voltar? Na verdade, não me sinto minimamente preocupada com o assunto. É como se não me importasse... Pouso a minha mala num sítio aleatório e dispo a minha roupa suja e molhada. Abro o armário e visto algo mais confortável e quente, umas leggings pretas juntamente com uma sweater.

Cambaleio até à cozinha, olho em volta sem saber muito bem o que procurava. Os meus olhos fitam a garrafeira que possuía, dirijo-me rápido até ela. Fico aliviada, feliz até por ver uma garrafa de vinho tinto, a última garrafa de bebida alcoólica que tinha. Olho para a garrafa, reflito se deva bebe-la, se deva fazer o que me apetece tanto. E depois convenço-me a mim mesma que não faz mal. Não faz mal eu querer sentir-me melhor, mesmo que para isso eu tenha que me embebedar ou ficar ligeiramente alegre. Confesso que não é o ideal, talvez deva deitar-me, tentar chorar, dormir um pouco. Tenho quase a certeza que é isso que Niall está a fazer neste momento. No entanto, eu sei que não consigo dormir, nem chorar, por isso não vale a pena. Abro a garrafa com um saca-rolhas e retiro um copo de vidro, próprio para a bebida que ia ingerir, e ligo a televisão, sentando-me do sofá.

Encho o copo uma e outra vez. Não tendo pressas ao ingerir a bebida alcoólica, pelo contrário, deixava que o sabor se apoderasse da minha boca. E naquele momento, eu não estava a pensar em nada. Era como se estivesse vazia. Mas vazia é sempre melhor do que preenchida por uma dor avassaladora. Percebo já ter bebido mais de meia garrafa, para já ainda não sinto o efeito do álcool a apoderar-se de mim. Volto a derramar o líquido vermelho para dentro do copo e bastou mais meia hora para que a garrafa ficasse completamente vazia.

X Justice X || h.s.Where stories live. Discover now