Capítulo - CXXI

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– Onde exatamente você quer chegar com isso? – perguntou o interrompendo, havia sido extremamente rude da parte dele pedir para que Anahí não estragasse as coisas como Angelique havia feito.

– A profissão dele é o mais importante para ele, sempre foi, Alfonso sempre quis ser o melhor em tudo o que fazia, por isso sempre foi muito focado nos estudos, mas quando Clara nasceu, ele precisou rever suas prioridades, e acabou deixando algumas coisas de lado... Não sei se ele te disse, mas ele ganhou uma bolsa de estudos para fazer uma pós graduação dele na Alemanha, ele sempre quis isso, mas ele não pode fazer porque precisava cuidar da filha sozinho... Então o deixe chegar onde ele quer... Mulheres normalmente possuem um ideal romântico de casamento e filhos e, não que eu ache isso uma grande bobagem, mas acho que essa não é a prioridade na vida da maioria dos homens. Alfonso sempre deixou claro que o mais importante para ele é a sua profissão, então não queira mudar isso, eu espero que você não tenha planos de construir uma família com ele, porque isso só acabaria com o futuro brilhante que ele terá na medicina.

– Nós podemos construir uma família sem que ele precise abandonar sua carreira brilhante. – disse ironicamente, ainda chocada com o que Marcelo acabara de lhe dizer.

O barulho de um trovão fizera Anahí gritar assustada, o clima que durante o dia fora quente, agora havia se transformado, e uma forte chuva começara a cair.

– Poder até podem, embora eu duvide muito que ele queira construir uma família, e você não vai querer um marido que não esteja presente na sua vida. – ele voltou a coçar sua nunca, agora falando mais alto por causa do barulho da chuva. – Anahí, porque é que você acha que médicos normalmente só se relacionam entre si?

– Eu não sei. – ela deu de ombros, sua conversa com Marcelo parecia ter tomado o rumo que ela tanto temia.

– Porque não há tanta cobrança, um entende o cotidiano do outro, entende se o outro não estiver presente em festas de aniversario, jantares em família, datas comemorativas, ou qualquer outra dessas bobagens que normalmente são importantes para as outras pessoas.

– Eu já disse para ele que eu não me importo com isso. – ela disse, sabia que os pais de Alfonso achariam que ela não era boa o suficiente pra ele, afinal, ela também achava isso.

– No começo é tudo lindo, você vai achar que aguenta se ele faltar ao seu aniversario, que não vai se importar se ele desmarcar aquele jantar importante em cima da hora, ou se ele combinar de sair com você e te deixar esperando porque não conseguiu te avisar que precisaria ficar até mais tarde no hospital. Isso nunca dá certo, Anahí. É por isso que médicos só se relacionam entre si.

– Eu posso suportar isso. Alfonso vale esse sacrifício. – ela disse, mantendo seu olhar firme, não queria transparecer que o que Marcelo dissera a havia abalado.

– Não estou dizendo que você não pode suportar, só estou te alertando sobre como as coisas são.

– Não precisa se preocupar. – ela disse ironicamente. – Sei como as coisas são. – disse, querendo se afastar de Marcelo, aquela conversa só servira para deixá-la ainda mais insegura.

– Imagino que você saiba a importância que o sobrenome dele tem. – ele disse, parecendo não se importar com o desconforto de Anahí.

– Eu sei. – disse, temendo o que viria a seguir.

– Eu não sei se ele chegou a te dizer, mas ele foi deserdado, tirando o sobrenome dele, ele não tem direito a mais nada do que essa família tem, nada do que eu e a mãe dele construímos ficará com ele. – disse, embora não fosse verdade, já que não tivera coragem de tirar o nome de Alfonso de seu testamento.

– Ele me disse isso, eu sei que ele foi deserdado. – disse, logo entendendo o que Marcelo queria com isso, e ela não podia negar que se sentira ofendida por ele imaginar que ela estivesse com Alfonso apenas por interesse.

– Ele te disse isso antes ou depois de vocês começarem a namorar? – perguntou.

– Antes, logo quando nos conhecemos. – disse para que Marcelo soubesse que ela não estava com Alfonso por causa de quem ele era. – Quando nós começamos a sair eu nem sabia que ele era um Herrera Rodriguez, e isso de verdade não me interessa.

– Você não sabia quem ele era? – perguntou curioso.

– Não, Alfonso é uma pessoa incrível, ele é gentil, educado, se preocupa com os outros, é atencioso, e é um ótimo pai, ele é tudo o que uma mulher poderia querer, ele não é o sobrenome que tem, ele é muito mais do que isso, ao contrario de você, que tem um sobrenome importante mas me parece ser desprezível. – disse, quando não aguentou mais se segurar, se afastando de Marcelo que ficara imóvel a encarando surpreso.

Anahí precisava ficar um tempo sozinha, precisava pensar sobre o que Marcelo acabara de lhe dizer e pensar no rumo que teria o relacionamento dela com Alfonso. Assim que ela saíra da cozinha, escutou Claudia e Alfonso conversarem animadamente em alemão sobre a pesquisa que estavam fazendo, fora então que ela começara a pensar que talvez Marcelo tivesse razão, ela e Alfonso pertenciam a mundos diferentes e queriam coisas diferentes, seria impossível um dos dois não saírem machucados daquela relação, que provavelmente não daria certo. Anahí e Alfonso eram muito diferentes, ela queria formar sua própria família, ter mais filhos, queria ter ao seu lado um homem que a respeitasse, a valorizasse e a amasse. Já ele, parecia focado apenas em sua profissão, não queria formar uma família, ter mais filhos ou se casar, a única coisa que lhe interessava era se tornar famoso em sua profissão, fora então que a realidade a atingiu, e ela percebera que talvez Claudia tivesse razão quando dissera que ela não era boa o suficiente para Alfonso.

Anahívoltou para a cozinha para não ter que passar por Claudia e Alfonso, e assimque viu Marcelo parado no mesmo lugar, agora tomando uma xícara de caféenquanto observava Claudia e Alfonso, ela soube que precisaria sair daquelacasa, precisava pensar um pouco, e ali, com Marcelo a enchendo de perguntas eela sabendo que Claudia era o tipo de mulher que deveria estar ao lado deAlfonso, ela não conseguiria colocar seus pensamentos em ordem, e antes quepercebesse o que estava fazendo, ela já havia apertado o botão que abria aporta automática da cozinha e estava do lado de fora, debaixo da forte chuva quecaia e não parecia que pararia rapidamente. 

Mentiras (finalizada)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora