Capítulo - XC

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– Você está gelada. – ele disse abraçando Anahí, quando ambos precisaram separar seus lábios para tomarem o ar que já lhes faltava. – Vamos entrar. – disse a puxando pela mão, entrando na sala e fechando a porta da varanda. – Temos duas opções, posso tirar as crianças da nossa cama e as levar para o outro quarto, ou então dormiremos em uma cama de solteiro no quarto das crianças, você escolhe.

– Não quero correr o risco de acordá-los.

Anahí estava deitada sobre Alfonso, que passava sua mão pelas costas dela, a acariciando, a cama era pequena para ambos, mas naquele momento ambos nem se importaram com isso, já que assim, estavam tão próximos que um podia sentir o calor do corpo do outro.

– Eu te amo. – ela disse timidamente, e ele abriu um enorme sorriso, beijou sua testa, mas nada respondeu, embora sentisse o mesmo, aquele era um passo muito grande para ele.

Anahí não esperava que Alfonso dissesse o mesmo, porque sabia que aquilo seria de mais para ele, ela sabia como ele era, e sabia o quanto era difícil fazer com que ele falasse sobre seus sentimentos, mas ela também não esperava que ele permanecesse em silencio, sem nada responder.

Com Alfonso afagando seus cabelos, Anahí não demorou muito a dormir, e ele aproveitou para observá-la, e quando ele já estava quase dormindo, Anahí começou a se debater e a gritar, o assustando.

– Tire suas mãos de mim! Não encoste em mim. – ela gritava, se debatendo e começando a suar. – Não, por favor.

Rodrigo estava furioso, Anahí podia ver isso em seus olhos, ele se aproximou dela, que logo sentiu o forte cheiro de álcool vindo dele, Rodrigo havia quebrado sua promessa e bebido mais uma vez, ele apertou com força o braço de Anahí, que tentou se soltar, mas não conseguiu, já que era bem mais forte que ela.

– Por favor, por favor. – pediu desesperada, já sabendo como aquilo terminaria.

– Se você gritar será pior. – ele a apertou com mais força. – Eu te disse que não vou tolerar que você fique conversando com qualquer homem que vê, você é minha, e já devia saber disso.

– Eu não estava conversando com ninguém. – disse desesperada, Rodrigo sempre enxergava as coisas de modo distorcido. – Apenas perguntei para o porteiro se você havia saído há muito tempo, por que eu tentei te ligar e só dava na caixa postal.

– Você sabe que eu detesto dar satisfação do que eu vou fazer.

– Eu só queria saber onde você estava...

– Cale a boca. – mandou, acertando o primeiro tapa em seu rosto, e quando ela se virou para encará-lo, seu rosto havia se transformado, não era mais Rodrigo quem estava lá, bêbado, a apertando e gritando com ela, agora era Alfonso.

– Não! Não! Não! – ela gritou desesperada. – Não Alfonso!

– Annie. – ele tentou acordá-la, preocupado com os gritos dela. – Pequena.

Anahí acordou assustada e se afastou de Alfonso, o que fez com que ela quase caísse da cama, mas Alfonso fora rápido o suficiente para agarrá-la pela cintura, impedindo que ela caísse.

– Me solta! – gritou desesperada, ainda sem entender o que havia acabado de acontecer.

– Calma. – ele pediu quando a puxou de volta. – Está tudo bem.

– Tire a mão de mim! – pediu e assim que Alfonso a soltou, ela se levantou da cama, ainda chorando.

– Pequena. – ele disse se sentando na cama, com medo de se aproximar de Anahí, que fora para a outra cama de solteiro que havia no quarto, com a cabeça entre os joelhos e segurando suas pernas perto de seu corpo.

– Pequena. – ele voltou a chamá-la, agora se levantando da cama e se aproximando dela com cautela. – Foi só um pesadelo, está tudo bem, eu estou aqui com você. – disse se sentando ao lado dela, mas com receio de tocá-la. – Foi só um pesadelo. – repetiu, agora levando sua mão até as costas de Anahí, a acariciando. – Você sempre tem pesadelos? – perguntou preocupado, se lembrando de quando Anahí acordara chorando quando ambos ainda estavam na casa dos pais dela.

Anahí afirmou balançando a cabeça, aquilo era frequente em sua vida, embora ela soubesse que não eram apenas pesadelos, e sim lembranças.

– Quer conversar sobre isso? – perguntou, e ela negou balançando a cabeça. – Tem certeza? Falar as vezes faz bem.

– Se fizesse bem você falaria quando eu peço. – retrucou.

– Touché! – ele disse, depois dessa não havia como convencê-la a falar sobre seus pesadelos.

– Não volte a beber, por favor. – pediu, ainda chorando. – Por favor.

– Você está assim por minha culpa? – perguntou se sentindo a pior pessoa do mundo, vê-la assim e saber que ele era o responsável por isso, era uma das piores sensações que já havia sentido. – Você disse "não Alfonso" enquanto estava dormindo, esse pesadelo tem a ver comigo?

– Se você não me conta as coisas, se você não confia em mim, porque eu tenho que te contar e confiar em você? – perguntou mais ríspida do que desejava.

– Porque eu me preocupo com você. – disse, esperando que assim ela se desarmasse.

– E eu me preocupo com você! – ela rebateu.

– Tudo bem, faremos um trato, me conte sobre seus pesadelos, e em seguida eu te conto qualquer coisa que você quiser saber sobre mim. – disse, sabia que esse seria o único jeito de fazer Anahí lhe contar com o que havia sonhado.

– Qualquer coisa? – ela perguntou, voltando a olhar para ele, já um pouco mais calma.

– Qualquer coisa. – ele já começava a se arrepender do que havia dito.

– Até mesmo sobre sentimentos? – perguntou esperançosa.

– Até mesmo sobre sentimentos, embora eu ache que eu já tenha deixado claro o que eu sinto por você.

– Não é quanto a mim que eu estou falando, quero saber como você se sente em relação a briga com o seu pai.

– A briga com o Marcelo. – ele a corrigiu.

– Se eu te contar sobre os meu pesadelos, você vai conversar comigo? – perguntou.

Alfonso passou a mão em seus cabelos, visivelmente nervoso, em seguida respirou fundo e fechou seus olhos, fora então que Anahí percebeu que aquele assunto para Alfonso, era tão doloroso quanto era para ela falar sobre Rodrigo.

– Temos um acordo? – ela perguntou.

– Temos um acordo. – ele disse, sem saber se estava preparado para isso.

Mentiras (finalizada)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora