Capítulo - LXXXVII

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Durante todo o caminho até o hotel, Perla quis saber um pouco mais sobre Anahí, e como Alfonso e ela haviam se conhecido, evitando qualquer tipo de comentário que pudesse fazê-lo desistir de beber com ela, depois perguntou sobre Marcelo – já que sabia que a relação de Alfonso com ele estava cada dia pior –, Alfonso apenas se limitou a responder que as coisas continuavam iguais.

Assim que entraram no bar do hotel, Alfonso pediu um Whisky puro, e Perla um Martini, conversaram sobre assuntos do cotidiano, como trabalho, e o mestrado que Perla concluíra há alguns meses.

– Queria ser tão inteligente como você e ter entrado para faculdade ao 16 anos, assim aos 27 anos eu já teria tomado algum rumo na minha vida.

Já haviam pedido mais uma bebida para cada e, conversavam sobre planos futuros, Perla queria abrir um hospital veterinário, já Alfonso, só queria que sua mãe aceitasse sua transferência e que Marcelo parasse de se intrometer em sua vida profissional.

Depois de conversarem sobre diversos assuntos sem importância e, terem bebido mais algumas doses e misturado bebidas, Alfonso já estava um pouco alterado, e Perla voltara com suas indiretas, já que esperava que assim ele respondesse ao seu interesse.

– Acho melhor eu parar de beber. – disse Alfonso, terminando sua ultima dose.

– Só mais uma rodada. – disse Perla. – Ou se você preferir, podemos ir para um quarto, assim aproveitaríamos melhor a noite.

– Não estou tão bêbado assim, isso não vai acontecer. – ele riu, se levantando.

já eram quase uma da manhã quando Perla foi embora, depois de Alfonso levá-la até a entrada principal do hotel, e ela entrar em um taxi. Só então Alfonso foi até o quarto em que estava hospedado, demorou um pouco para chegar já que caminhava cambaleando, um pouco alterado pelas doses de bebida que havia consumido.

Assim que entrou na suíte onde dormiria com Anahí, tentando fazer o mínimo de barulho possível e sem acender a luz para não acordá-la, ele acabou esbarrando nas malas e fazendo barulho.

– Merda. – disse quando escutou Anahí se mexendo na cama, para logo em seguida acender a luz do abajur, e ele sorriu ao ver que ela estava dormindo entre Enzo e Clara.

– Você demorou, estava correndo até agora? – perguntou, esfregando os olhos, sonolenta, e em seguida olhou para Alfonso, como se o estivesse analisando. – Você está bêbado?

– Eu corri e depois vim até o bar do hotel, não estou bêbado, só bebi um pouco.

– Você estava com a Perla? – perguntou e Alfonso assentiu, um pouco tonto por causa da bebida. – Vocês parecem ser bem íntimos. – comentou, embora suspeitasse que Perla fosse lésbica, ainda havia algo nela que fazia com que Anahí quisesse que Alfonso ficasse longe dela.

– Íntimos? Como assim íntimos? – perguntou confuso. – Não somos íntimos. – negou balançando sua cabeça, e voltou a sentir tontura.

– Você está mais bêbado do que eu pensei. – disse ao ver Alfonso se desequilibrar ao pegar sua mala. – Eu te liguei varias vezes, você disse que voltaria logo.

Anahí ficara preocupada quando Alfonso demorou a chegar, chegara até a pensar que algo havia acontecido, quando lhe ligou por inúmeras vezes e, as ligações caíram na caixa postal.

– Não estou bêbado. – reclamou. – Eu desligo o meu celular quando vou correr.

– Você poderia ter me ligado e dito que demoraria, fiquei preocupada com a sua demora. – sua voz estava baixa para não acordar as crianças.

– Detesto dar satisfação do que eu vou fazer. – disse, estava cansado, sua cabeça girava e ele não queria conversar ou discutir agora, as únicas coisas de que precisava, era um banho quente, e se jogar em sua cama para dormir.

Anahí estranhou o jeito como Alfonso a respondera, mas preferiu não falar nada sobre isso, as crianças estavam dormindo, e ela não queria começar uma discussão da qual Alfonso dificilmente se lembraria na manhã seguinte, e ela provavelmente sairia magoada.

– Eu fiquei preocupada, você estava bravo por causa da briga com o Marcelo...

– Esqueça isso. – ele a interrompeu, não queria voltar a falar sobre sua briga com Marcelo. – Antes de tudo isso começar eu disse que minha única regra era que você não se intrometesse na minha briga com o Marcelo, então faça o que eu lhe pedi. – Alfonso fora mais ríspido do que pretendia, e Anahí novamente estranhara o modo como ele falara.

Anahí ficara sem reação, não sabia o que responder para Alfonso, que a cada vez que falava, elevava seu tom de voz, o que a fizera se lembrar de quando Rodrigo chegava bêbado em casa, quando ambos ainda eram casados, e se encolher na cama, assustada, embora soubesse que Alfonso nunca lhe faria nada.

– Eu vou tomar um banho, estou cansado, amanhã conversamos. – disse, quando Clara se mexeu na cama, e ele sorriu ao ver Anahí a acariciar, para que ela não acordasse.

– Você demorou, ela começou a chamar por você, e acabou dormindo aqui. – Anahí explicou quando viu que Alfonso as olhava.

– Obrigado por cuidar dela, eu vou dormir no outro quarto, assim que eu sair do banho venho pegá-la para dormir comigo.

– Deixe-a dormindo aqui, se você levá-la para o outro quarto ela vai acabar acordando.

Depois que Alfonso saiu do quarto, Anahí não conseguiu voltar a dormir, ela já estava acostumada a dormir em seus braços, já que com o mesmo, se sentia protegida, e saber que essa noite não o teria ao seu lado a fazia perder o sono.

Anahí ficara preocupada e assustada com a briga que ele tivera com Marcelo, e queria que ele conversasse com ela sobre isso, que contasse como se sentia, queria que ele a deixasse lhe ajudar, assim como ele a havia ajudado e, queria que ele confiasse nela assim como ela havia aprendido a confiar nele, mas sempre que ela tentava forçá-lo a conversar, ele se esquivava, se irritava e parecia atordoado. Anahí pensou que Alfonso voltaria mais calmo depois de ter ido correr, já que sempre lera que exercícios físicos ajudavam a relaxar, mas isso não acontecera, Alfonso voltara bêbado e parecia não ter se acalmado, e a surpreendendo e assustando, até a tratara de forma rude.

Depois de muito se revirar na cama e perceber que não conseguiria dormir, Anahí decidira se levantar, com medo que as crianças acordassem; saíra do quarto e fora até a varanda da sala, que possuía uma vista incrível da cidade, mesmo de noite, respirou fundo e fechou os olhos, deixando a brisa suave tocar em seu rosto, colocou as mão em seus ombros, dando a si mesma o abraço que precisava, então se permitiu chorar, mesmo que se sentisse uma idiota por isso, voltara a se sentir insegura, estava cheia de duvidas e, não sabia como faria para que elas fossem respondidas já que Alfonso parecia que não iria ceder.

Anahí não culpava Alfonso pelo jeito como ele havia agido, não o culpava por ter tentado se esquivar de conversar com ela, usando o sexo como sempre fazia, não o culpava por ter ido correr com Perla para tentar extravasar a raiva que sentia, e não o culpava por ter chegado bêbado e ter sido rude com ela, pois ele a havia avisado, havia dito que a partir do momento em que ele estivesse perto de casa, ele se transformaria em outra pessoa, havia avisado que ele não a trataria da mesma forma como a havia tratado quando eles estavam na casa dos pais de Anahí, mas ela não imaginava que tudo isso fosse acontecer logo no primeiro dia.

Respirando fundo e secando as lagrimas que teimavam em cair, ela se sentia uma tola por se permitir chorar por tão pouco, mas as vezes sentia como se não conhecesse Alfonso de verdade, e o pior de tudo, sentia que ele não queria que ela o conhecesse.

Sua vida havia mudado tanto, em tão pouco tempo, ela havia voltado a sorrir, voltado a se gostar, voltado a acreditar no amor, e a se sentir especial, tudo por causa de uma ideia maluca e de quinze segundos de coragem insana, que a fizeram ligar para Alfonso.

– Espero que eu não seja o motivo da sua insônia. – ela escutou aquela voz e respirou fundo se perguntando a quanto tempo Alfonso estava lá, a observando.

Mentiras (finalizada)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora