Capítulo - CXI

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            Anahí e Manuela estavam sentadas no corredor, em silencio, já haviam desistido de tentar falar com Alfonso, e agora esperavam a hora em que ele decidisse sair do quarto. Assim que elas escutaram o barulho da chave girando na porta, se levantaram, esperando Alfonso, que saíra andando em passos largos, sem nem ao menos olhar para as duas.

Alfonso fora até a sala onde ele e Manu costumavam treinar quando ele ainda morava naquela casa, era uma sala ampla, com vários equipamentos de luta e sacos de pancadas pendurados em vários cantos. Ele tirou sua camiseta a jogando no chão, e começou a socar um dos sacos, sem luva, queria realmente descontar em algo a raiva que sentia de Marcelo, precisava extravasar, e a dor que sentia em sua mão ao socar aquele saco de pancadas, o ajudava a dar vazão a sua raiva; fora então que Manuela e Anahí entraram na sala.

Anahí ficou parada na porta, olhando assustada para Alfonso, que golpeava o saco de pancadas com raiva, enquanto Manuela correu até o mesmo e tentou puxá-lo, para que ele não acabasse se machucando.

– Alfonso, pare por favor, você vai se machucar, se lembre do que aconteceu da ultima vez. – ela disse desesperada ainda tentando puxar Alfonso, que golpeava o saco de pancadas com toda sua força.

– Se você não se afastar, vai acabar se machucando. – Alfonso disse, sem parar de golpear o saco de pancadas, sua mão já estava marcada, mais alguns socos e ele acabaria como da ultima vez, com a pele de sua mão cortada e sangrando.

– Por favor. – ela pediu desesperada, dessa vez se posicionando contra o saco de pancadas, se Alfonso desse mais um soco ali, o saco de pancadas a atingiria. – Por favor. – ela voltou a pedir, Alfonso se afastou do saco de pancadas e respirou fundo, em seguida se virou e deu um ultimo soco, com toda a sua força, em outro saco de pancadas que havia naquela sala.

– Você precisa aprender a externar sua raiva, Alfonso. – disse Manuela, quando Alfonso se permitiu cair no chão, exausto e suado, suas mãos estavam incrivelmente inchadas, se Manuela não o tivesse parado, sua mão agora estaria como da ultima vez.

– Era o que eu estava tentando fazer. – disse Alfonso.

– Mas há maneiras de fazer isso sem se machucar. – Manuela parecia preocupada.

– Não comece com isso de novo. – pediu Alfonso, ainda ofegante.

– Vou começar sim, vou começar quantas vezes forem preciso. – ela disse séria, o puxando pelo braço para que ele se levantasse. – Vamos, levante.

– Eu não vou fazer nenhuma dessas suas palhaçadas de respirar fundo e manter a calma. – ele avisou, e apenas se levantou para que ela parasse de lhe puxar.

– Respire fundo. – disse Manu. – Vamos lá Alfonso, você precisa cooperar.

– Eu já disse que não vou fazer isso. – ele disse quando Anahí, ainda assustada, se aproximou dele, parou ao seu lado, encostando sua mão no braço dele, e em seguida respirou fundo.

– Sua vez agora. – ela disse sorrindo.

– Ótimo, um incentivo é sempre importante. – Manu sorriu para Anahí, e em seguida,

dando-se por vencido, já que sabia que as duas não desistiriam, Alfonso respirou fundo.

– Isso, ótimo, agora grite, o mais alto que você puder. – ela disse.

– Isso é ridículo. – ele disse, e agora que a adrenalina havia baixado, começava a sentir sua mão doer e latejar.

– AAAAAAAHHHHHHH. – Anahí gritou. – Vamos Alfonso, é sua vez.

– Eu não vou gritar. – ele disse convicto e Anahí apertou a mão dele, que estava inchada e dolorida.

– PORRA! – ele gritou de dor, sentindo sua mão latejar.

– Você gritou. – ela sorriu, fazendo Manuela rir.

– Você quase me deixou sem uma mão. – ele disse, fazendo Anahí rir.

– Como você é dramático. – ela ainda ria, mas estava preocupada com Alfonso, ela nunca o vira daquela forma, tão fora de si.

– Ótimo, vamos aproveitar que os dois estão aqui, e vamos iniciar uma terapia de casal. – disse Manuela animada.

– Por favor, me diga que você não deu trela para ela. – disse Alfonso, olhando para Anahí, já mais calmo.

– Talvez eu tenha conversado com ela. – disse Anahí.

– Nós conversamos. – contou Manuela animada. – Vamos lá Alfonso, eu já sou quase uma psicóloga, só faltam alguns semestres para eu me formar, preciso treinar com alguém. – ela pediu.

– Ótimo, eu sou quase um cirurgião cardiovascular, depois que você treinar sua terapia comigo, eu treino uma cirurgia real com você.

– Se você me garantir que eu saio viva dessa, por mim não tem problema. – respondeu Manuela.

– Você é doente. – disse Alfonso se afastando dela. – Annie, não dê mais trela para ela, ela não tem limites, daqui a pouco vai achar que é sua amiga intima. – ele disse pegando sua camiseta que estava jogada no chão.

Já havia começado a anoitecer quando voltaram para o hotel junto com as crianças, Alfonso ainda não sabia se as coisas entre ele e Anahí haviam se acertado, ou se ela só agira daquele modo porque Manuela estava por perto. Depois de jantarem e darem banho nas crianças, já estavam exaustos, precisavam descansar e não viam a hora daquele dia acabar.

Alfonso soube que Anahí ainda estava brava com ele quando ela disse para dormirem em quartos separados, ela com Enzo e Alfonso com Clara, que não gostou muito da ideia, e logo começou a reclamar porque queria dormir com a Anahí, assim como havia feito na primeira noite que passaram no hotel.

– A gente pode trocar uma vez, você dorme com a minha mamãe e eu com o seu papai, dai você finge que tem uma mamãe e eu finjo que tenho um papai. – disse Enzo, e aquilo partira o coração de Anahí.

– Por favor. – pediu Clara olhando para Alfonso do modo que sempre fazia quando queria alguma coisa. Anahí e ele se olharam, como se estivessem decidindo o que fazer.

– Tudo bem. – Alfonso concordou com a ideia das crianças. – Qualquer coisa chame o papai, e se comporte, nada de ficar fazendo bagunça a essa hora. – ele disse, conhecia muito bem sua filha para saber que se dessem trela, ela demoraria a dormir.

– Boa noite. – ela disse abraçando Alfonso quando ele a pegou no colo, e beijou sua testa.

– Qualquer coisa chame a mamãe, ou pode pedir para o Alfonso, não precisa ficar com vergonha. – disse Anahí, ajoelhada em frente a Enzo.

– Tudo bem. – disse Enzo tranquilo. – Boa noite.

– Boa noite, meu amor. – ela o abraçou.

– Vamos campeão. – disse Alfonso, dando a mão para Enzo. – Boa noite, Anahí. – ele disse, sabia que seria difícil dormir sem ela ao seu lado.

– Boa noite, Poncho. – ela disse, e ele sorriu ao ouvir seu apelido, talvez ela não estivesse mais tão brava com ele.

Mentiras (finalizada)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora