Demorou pouco mais de um dia para chegarmos à base da guilda do Dragão. Eu imaginava que o local não deveria ser longe, já que as gêmeas haviam nos encontrado um dia depois de Dragão enviar a mensagem, mas mesmo assim, a viagem demorou um pouco mais do que eu esperava. O local era uma construção grande, porém boa parte dela estava desabada ou com partes da parede e teto faltando. A arquitetura era simples e possuía três andares. O símbolo da realeza de Célbia estava gravado em uma das paredes próxima à entrada, agora quase totalmente apagada pelo tempo, indicando que aquele local costumava ser um estabelecimento sob o comando do governo.

          — Este local costumava ser um manicômio até cerca de sessenta anos atrás. O local foi fechado quando descobriram que os doutores estavam realizando experimentos nos pacientes. Depois disso, a realeza de Célbia decretou o fechamento de todos os manicômios do reino e encaminhou os pacientes para órgãos da igreja — explicou Dragão, acho que ele gostava de explicar as coisas.

          — E vocês todos vivem aqui? O lugar parece que vai desabar a qualquer segundo.

          — E o que você esperava? Que um grupo de criminosos comprasse uma mansão em uma cidade bem localizada? Esses são os caras que nos contratam — disse Cavala.

          — Nós costumamos mudar de base de tempos em tempos. Não é bom para uma guilda de Amaldiçoados ficar em uma mesma localização por tempo demais — explicou Coque.

          Após essa explicação, nós entramos no manicômio não-tão-abandonado. O local estava tão acabado por dentro quanto por fora. Vegetação crescendo pelas suas paredes, partes do piso arrebentadas e um teto tão cheio de buracos e rachaduras que parecia estar pronto para ceder a qualquer momento. Era surpreendente como alguém conseguia viver ali.

          Olhando em volta, reparei que algumas das decorações haviam ficado no local, parecendo até que bem conservadas. Uma em especial, a estátua de uma mulher usando um vestido roxo escuro, com uma máscara de ferro que cobria seu rosto completamente, me chamou a atenção. Só a aparência dela era aterrorizante, como que os médicos do local achavam que era uma boa ideia ter uma estátua daquelas logo no seu hall de entrada? Eu fiquei olhando para ela um pouco, minha impressão não melhorando quando ela começou a se mexer... Espera, a estátua estava se mexendo!

          Eu dei dois passos para trás, surpreso. Consegui escutar a Cavala rindo em algum ponto ao meu lado. Por acaso aquela estátua era alguma espécie de pegadinha? Foi então que Dragão decidiu se pronunciar.

          — Essa é Boneca Morta, uma de nossas companheiras de guilda.

          Boneca Morta? Aquela que Coque disse que era gentil e gostava de crianças? Eu sabia que a Coque não era uma fonte confiável de informação, mas eu não esperava que ela conseguisse acertar tão longe da marca! A Amaldiçoada à minha frente estava vestida dos pés à cabeça, não mostrando um milímetro de pele sequer. E, tirando sua silhueta, não havia indicação nenhuma de que era humana, para começo de conversa.

          A Boneca se aproximou de mim, foi então que reparei que ela segurava algo. Um tanto quanto apreensivo, eu olhei para o objeto que ela carregava. Era uma bandeja prateada e, em cima dela, havia vários biscoitos com gotas de chocolate, como aqueles que as mães faziam para suas crianças. Pego de surpresa, novamente, olhei para o... a máscara de Boneca.

          — Er, esses são para mim?

          Boneca balançou a cabeça, como se estivesse concordando. Bem, não seria eu quem arriscaria irritar uma pessoa tão assustadora, então peguei um biscoito e o levei até minha boca, dando uma mordida.

Estrela MortaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora