Luan Valafern

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          Não muito tempo depois de ser mantido no chão pela força invisível, ficou claro que eu não conseguiria me libertar apenas com força bruta, então decidi que a melhor coisa a fazer era tentar me acalmar. O homem chamado Luan Valafern percebeu minha mudança e, de algum jeito, fez com que a força sumisse. Cansado de ficar deitado no chão, me sentei, meu corpo inteiro doía, como se tivesse acabado de levar a maior surra da minha vida.

          — Não posso dizer que aprovo da sua estratégia de combate, mas não posso negar que foi um pouco divertido ver você vencendo aquela menina. Embora pudesse ter evitado alguns ferimentos.

          Olhando melhor para o homem, ele parecia estar bem para lá dos quarenta, provavelmente nos seus cinquenta anos. Seu físico era bem forte, diferente do Dragão, que era mais fino, ele parecia uma parede de músculos. Ou pareceria, se não fossem a falta de um braço de uma perna, o que fazia com que ele sustentasse metade de seu corpo com uma bengala improvisada. Mas o que mais me chamava a atenção era seu rosto. Não apenas seu tom de cabelo se parecia com o meu, mas algumas feições também eram semelhantes.

          — Bem, para tirarmos o óbvio do caminho, você já deve ter notado que somos parentes.

          Apenas confirmei com a cabeça. Talvez o nome dele fosse mesmo Luan Valafern, embora eu nunca tivesse ouvido falar de tal pessoa antes. Alana raramente falava dos maus pais e nunca mencionou nenhuma outra família. Talvez estivesse esperado que eu perguntasse algo, mas era óbvio que, se eu tivesse outros parentes, teriam sido eles que ficariam comigo após meus pais sumirem, não uma amiga da família.

          Mas aqui estava uma pessoa com meu sobrenome em uma torre no meio do nada, que havia me chamado através de uma mensagem telepática. Não era exatamente o que eu chamaria de uma reunião familiar convencional.

          — Bom. Isso prova que você tem dois miolos funcionando. Fiquei preocupado quando soube que passou sua vida inteira naquela escola. Eles têm um jeito de fritar seu cérebro.

          Luan virou-se, dando pequenos saltos em direção a uma escada do outro lado da torre, parando um momento na frente do primeiro degrau antes de suspirar e se virar para trás.

          — Sabe, a maioria das pessoas ofereceria ajuda para um aleijado poder subir escadas.

          Embora ainda não estivesse confortável com a situação, podia dizer que, se ele me quisesse morto, teria feito isso enquanto eu estava preso ao chão. Sem precisar temer pela minha vida, pelo menos por enquanto, me levantei e fui ao encontro de Luan, passando seu braço pelo meu ombro enquanto o ajudava a subir as escadas.

          Ele era mais pesado do que parecida, provavelmente para cima de cem quilos, mas pelo menos parecia acostumado a subir as escadas com uma perna só.

          — Sabe, é bom ter um pouco de companhia. Eu recebo cartas de vez em quando, mas não faz bem passar tanto tempo sozinho. Você começa a ficar um pouco maluco quando não vê uma única pessoa depois de algum tempo.

          Ele falava em um tom casual, embora continuasse olhando para frente enquanto subíamos. Com a proximidade, não pude evitar de olhar para seus ferimentos. Eles estavam escondidos por panos amarrados ao seu redor, mas esses mesmos panos pareciam um tanto úmidos, como tivessem sido molhados não muito tempo atrás.

          Desviei meus olhos rápido, no entanto, já que não seria educado ficar encarando um ferimento daqueles tão abertamente. Indiferente dos motivos pelos quais ele havia me chamado aqui, não acho que ele gostaria de se lembrar de como havia os conseguidos.

Estrela MortaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora