Rastro de Fumaça

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          Após Senhor Brayan sair para se encontrar com a pessoa que havia lhe mandado a mensagem, tive um mau pressentimento, como se estivéssemos mandando-o para uma armadilha. Eu e minha irmã queríamos acompanhá-lo no encontro, mas Senhor Dragão proibiu qualquer um de ir, foi a primeira vez que ele havia demonstrado tanto interesse em alguma coisa.

          Conforme o tempo passava, minha preocupação com Senhor Brayan aumentava cada vez mais. Senhor Dragão também parecia ter ficado preocupado, pois ordenou que Senhor Sombra realizasse o reconhecimento ao redor da torre de onde a mensagem havia vindo. Não demorou muito, porém as notícias não fizeram com que eu me sentisse melhor.

          — Aparentemente houve uma luta ao redor da torre. Vários soldados do Divino mortos com uma arma cortante, sinais de impacto pesado em vários pontos da parede da torre e formações pouco naturais na areia. Não há sinal de Brayan ou qualquer outra pessoa viva na torre ou nos arredores.

          Meu coração pareceu diminuir. Como havia temido, o encontro tinha servido de armadilha para Senhor Brayan, que teve de lutar por sua vida contra vários soldados do Divino. Provavelmente ficando gravemente ferido e tendo que usar cada fibra de seu ser para derrotar os inimigos, seu corpo dolorido e sua respiração pesada, sangue escorrendo de ferimentos em seu abdômen e um corte na cabeça. Mas ele não poderia estar morto, Senhor Brayan era forte demais para isso.

          Senhor Dragão deveria ter pensado em algo semelhante, simplesmente indo em direção à torre. O resto da guilda o acompanhou, todos preocupados à sua maneira. Mas algo na expressão de Senhora Tigresa me chamou a atenção, seu olhar dava a impressão de que ela estava se divertindo mais do que o de costume com a situação. Senhora Tigresa tinha a mesma expressão no rosto quando resgatou Senhor Brayan do porão na casa de tortura, e quando relatamos o que havia ocorrido no laboratório do diretor na escola de magia. Sempre senti que Senhora Tigresa era perigosa, mas ver seu interesse em tudo o que acontecia com Senhor Brayan só me deixava ainda mais apreensiva.

          Ao chegarmos à torre, a guilda separou-se, procurando por qualquer indicação de onde Senhor Brayan poderia estar. Assim como Senhor Sombra havia relatado, havia vários corpos de soldados pela areia e marcas de impacto na parede da torre, como se alguém tão forte quanto o Senhor Dragão tivesse a atacado.

          Senhora Tigresa foi até a entrada da torre, parecendo observar alguma coisa conforme colocava sua mão através da porta antes de puxá-la de volta. Estava curiosa quanto ao que ela estava testando, mas decidi que seria melhor não me aproximar.

          — São bastantes corpos. Talvez um pelotão. Acha que o Brayan matou todos eles sozinho?

          Minha irmã havia se aproximado de um dos corpos e começou a cutucá-lo com a ponta de seu cajado. Ela estava fazendo o seu melhor para manter as aparências, mas eu a conhecia o suficiente para dizer que ela estava preocupada.

          — Senhor Brayan é um lutador capaz, mesmo que esses soldados tivessem o ferido, a vitória ainda seria sua.

          — Brayan não foi ferido — disse Senhor Sombra, que estava observando as formações de areia, provavelmente tentando descobrir como a luta havia decorrido. — As espadas dos soldados estão todas limpas, eles morreram antes de conseguir usá-las.

          Minha irmã pareceu ficar um pouco aliviada, mas não conseguir impedir que uma pontada de desapontamento se formasse em meu peito. Sensação que foi substituída por raiva assim que percebi que Carina, que estava parada próxima à parede em silêncio, havia começado a sorrir largamente após escutar as palavras de Senhor Sombra. Quando recuperássemos Senhor Brayan, seria necessário fazer com que minha irmã se confessasse o mais rápido possível antes que a maga o corrompesse mais.

          Senhora Boneca parecia ainda mais preocupada. Desde o dia em que Senhor Brayan havia ficado ferido na Cidade Acorrentada, ela tinha se apegado a ele, sempre o observando de longe enquanto ele treinava e sendo a primeira a se voluntariar para cuidar de seus ferimentos. Quando Brayan foi capturada pelo Resquício na casa de tortura, foi preciso que Senhor Dragão a impedisse de destruir mais de metade do labirinto procurando por ele.

          Senhor Dragão também parecia mais apreensivo do que o de costume, porém ele não havia se mexido desde que chegou, ajoelhando-se próximo a uma pilha de pedras e as observando intensamente. Curiosidade tomando o melhor de mim, me aproximei o suficiente para perceber que era um túmulo, uma lápide de pedra com o nome Luan Valafern gravado nela.

          Reconhecendo o nome da pessoa que havia mandado a mensagem ao Senhor Brayan, senti como se várias perguntas começassem a se formar em minha cabeça: quando ele havia morrido? Quem havia o enterrado? Que mensagem ele havia deixado para Senhor Brayan na torre? Senhor Dragão provavelmente sabia as respostas, mas algo em sua expressão deixava claro que ele estava incomodado com a situação também.

          — Você o conhecia, Senhor Dragão? — Foi a única coisa que consegui perguntar.

          — Ele foi meu mestre.

          Sua voz ainda estava monótona, Senhor Dragão esmagou uma pedra que estava segurando, talvez para conter suas emoções diante da morte de um conhecido. Mas não tive mais chances de fazer perguntas, pois Senhor Sombra se aproximou com outro relatório.

          — Conseguir achar um rastro, provavelmente de uma das pessoas que lutou aqui. Não consegui reconhecer nenhuma característica do corpo, dado que estava usando uma armadura de placa completa.

          — Algum detalhe especial na armadura?

          — A frente do peitoral estava adornada com o que parecia ser a imagem de um leão com a boca aberta.

          Senhor Dragão ficou quieto por um instante, mas logo voltou a falar.

          — A armadura era dourada?

          — Preta.

          Novamente, silêncio. Desta vez, quase consegui ver uma das mãos de Senhor Dragão tremer um pouco, o que queria dizer que ele provavelmente conhecia a armadura ou a pessoa a usando.

          — Onde acha que essa pessoa está indo?

          — Pela direção, provavelmente para a fronteira com as terras do Divino.

          Senhor Dragão não perdeu mais nenhum segundo, dando uma última olhada no túmulo antes de se levantar e ir até a entrada da torre. Os outros membros da guilda perceberam o que ele estava fazendo e foram até ele, esperando pelas próximas ordens.

          — Nós vamos seguir a pessoa na armadura negra. Gêmeas, quero que vocês cuidem dos corpos dos soldados. Não quero que nenhum rastro da existência deles perto dessa torre, corpos, equipamento e até mesmo o sangue, tudo precisa desaparecer. Sombra, mantenha vigia sobre todo o território que conseguir cobrir. Boneca, ele ainda está no mesmo lugar que a última vez?

          Senhora Boneca pareceu ficar surpresa com a pergunta, mas logo balançou a cabeça afirmativamente com mais energia do que o normal.

          — Ótimo. Nós vamos seguir em direção às terras do Divino em passo acelerado e tentar chegar lá antes da pessoa na armadura negra. De lá, vamos ir até uma das instalações do Divino próxima da fronteira. Nós vamos precisar de ajuda se quisermos impedir que uma guerra comece.

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Estrela MortaWhere stories live. Discover now