Quando finalmente se dá autorização para podermos circular pela sala (como se isso já não estivesse a acontecer), a maioria da turma estava de pé, a ler as histórias, a dár-lhes um enredo credível, a planear a peça, mesmo que não tivessem a certeza de qual seria a sua história, afinal dois grupos poderiam querer o mesmo tema. Quando a Carly e a Miranda migraram para as mesas junto da janela para falarem com o Toby, o Professor Malik chamou-me, no meio da confusão sonora.

"O gimnodesportivo está literalmente fechado. Amanhã vamos ficar a preparar o campo. Portanto, vamos adiar a aula de apoio?" Perguntou.

Não tinha pensado nisso, para ser sincera.

"Não sei..." Encolhi os ombros. "Mas se calhar é melhor."

"Tens uma irmã chamada Catherine?"

Perplexa, voltei-me para ele.

"Sim... como é que..."

"Estava uma rapariga na festa da minha irmã igualzinha a ti e depois soube que se chamava Catherine Evans. Decidi perguntar."

Não eram apenas as parecenças entre mim e a Martha que chegavam a ser ridiculamente assustadoras: as minhas com as da Catherine eram do mesmo género. Nunca hei de perceber como é que nós, sendo filhas de pais diferentes, somos um reflexo ligeiramente distorcido umas das outras.

"Sexta feira vamos para minha casa de novo. Apanho-te em casa às duas e meia."

"Duas e meia?" Tão cedo!

Mas ele não me respondeu.

***

"Pretendes seduzir alguém, Bellinha?" Perguntou a Carly.

"Juro que não posso ouvir mais comentários destes." Resmunguei, começando a tirar o disfarce de halloween no balneário.

Era uma tarde de Quarta-feira chuvosa e fria, o que implicava o aquecimento ligado nos balneários femininos. Como líder da lista, a Carly estava a fazer... nada, bom, ela não estava a fazer nada. Os outros estavam a montar as coisas no campo do gimnodesportivo, e nós estávamos a experimentar os nossos disfarces. Enquanto eu vinha de Dorothy Gale, a Miranda tinha um disfarce de Catwoman, e a Carly, claro, o típico dos típicos: um disfarce de Bruxa. E, embora o meu disfarce fosse o mais discreto (por mais incrível que pareça), eu é que estava a ouvir este género de comentários.

"Bella, quem é ele?" Indagou a Miranda, mas pelo olhar que ela lançou à Carly e pelo seu ar sério, ela não parecia estar a brincar.

Elas pensam que há um... ele?

"Ah... ninguém..."

"Então porque andas sempre tão distraída ultimamente? Parece que estás sempre na lua, até mesmo nas aulas."

Com o disfarce na mão, encarei o tecido azul ciano e refleti perante as palavras dela. Eram completamente falsas. Não andava distraída, muito menos por causa de um rapaz qualquer, apenas tenho a mente cada vez mais cheia, como uma caixa a abarrotar que só vai funcionar bem quando a fecharem. É assim que me sinto, uma caixa a abarrotar que tentam várias e várias vezes fechar para que funcione, mas que nunca vai fechar devido ao excesso de conteúdo dentro de si*. É impossível pensar em trabalhos para Educação Sexual que para nada valem, ao mesmo tempo que tenho de me preocupar com as notas para a Universidade, com os problemas da Lista que nos garantem uma boa viagem de finalistas, e ainda juntando mais o facto de ter de andar às escondidas com um professor para aqui e para acolá, sem os meus pais e amigos saberem. (*Quem não se sente assim?)

E elas ainda acham que dentro desta minúscula caixa a transbordar de ocupações, eu ainda teria tempo para um rapaz?

E mesmo que tivesse, seria quem? Não é que seja uma perita no amor e em todas essas tretas, mas não pareço estar minimamente apaixonada por ninguém que conheça. Se aparentasse estar, seria pelo Harry, mas toda a gente sabe que não.

Physical Education Teacher Z.M.Where stories live. Discover now