CAPÍTULO 19 - COURO E CHIFRES

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Aos poucos uma a uma, as Geledés foram se aquietando e em pouco tempo estavam dormindo profundamente também.

O silêncio da floresta era quebrado de vez em quando pelo farfalhar do vento nas folhas, um ou outro animal ao longe, o crepitar da fogueira que as aquecia e o ressonar da respiração tranquila de cada uma. Tudo sugeria paz.

Asas silenciosas bateram pousando numa árvore gigante nos arredores, um Iroko de tronco gordo e cheio de entradas sinuosas em seus veios de madeira. Somente os olhos da coruja gigante eram visíveis, suas plumagens eram uma extensão da noite escura. A visão da ave de rapina era primorosa, ela enxergava detalhes como se estivesse a poucos centímetros de qualquer objeto ou presa que se movesse, mesmo na escuridão, ela era uma das predadoras soberanas nesse meio ambiente.

Um movimento mas embaixo a fez girar sua cabeça um pouco mais para o norte, num ângulo impossível e endireitou seu corpo retesando-se alerta, avistando o macaco que comia pequenos insetos. Ele ainda vestia os mariwôs coloridos que Oyá tinha amarrado em seu corpo como uma saia, maior do que ele. Ela sentiu o cheiro do sangue e da carne fresca que ele emanava e se lançou em queda livre abrindo suas enormes asas devagar. O Ijimerê distraído só sentiu o perigo quando as garras afiadas agarraram seu corpo como um torno cruel e ele tentou gritar, assustando a noite espessa.

Voando rápido ela se lançou aos céus carregando o símio que tentava em vão se livrar daquele abraço mortal. A coruja então triunfante chilreou alto. rasgando a Lua cheia com suas asas. Outras duas aves igualmente gigantes se encontraram com ela em pleno ar e juntas puxaram cada uma para um lado a carne do símio, que silenciou morto, rasgando o pobre e indefeso macaco em pleno ar com suas garras.

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O sono pesado e o sonho começou quase que imediatamente à Oyá ter dormido e foi compartilhado por todas as Geledés como uma rede.

Caminhavam por uma terra seca, de um cinza sem vida, não existia nenhuma vegetação. Colunas de uma fumaça escura eram visíveis no horizonte, mas não sabiam precisar o que causava isso. árvores estavam ressecadas, só os troncos negros como se estivessem calcinados eram quebrados pelo vento forte que levantava a poeira e a cinza que sujava o corpo e entrava nos olhos de todas elas.

Estavam juntas, assustadas, famintas e com sede. Magras e abatidas. Farrapos vestiam seus corpos esquálidos. Abutres voavam no céu sem nuvens. O Sol e a Lua estavam juntos quase se tocando. A luz era intensa e deixava a todas e tudo sem sombras.

Um gemido estrangulado saiu da boca de Obá. Ela era uma sombra do que tinha sido. Havia um desalento no olhar dela.

Tropeçavam em corpos secos de animais, não existia nada visível em quilômetros. A luz amarelada dos astros incidia em cima de suas cabeças, era como se fosse um meio-dia perpetuamente. O calor toldava o horizonte para onde seguiam sem rumo.

Se aproximaram do que parecia uma cidade, a fome era demais, não sabiam quanto tempo estavam andando, nem a quanto tempo tinham comido ou bebido água, só sentiam a opressão em suas cabeças, nas suas bocas ressecadas e em seus estômagos.

A cidade estava desabitada, como tudo o mais. Desolação muda. Nada. Nenhum sinal de qualquer pessoa ou ser vivo. Nem alimento. Nem água.

O que teria acontecido para que isso acontecesse? E porque estavam vivas, se não existia vida alguma em lugar algum? Era um castigo?

Uma a uma. Aos poucos as 15 mulheres foram caindo no meio do caminho. Tentavam se ajudar, mas depois desistiram. Era penoso ajudar outra pessoa, carregá-la, quando se estava tão fraca. Morriam, desistiam. Seguiam sem olhar pra trás depois de um tempo.

Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)Where stories live. Discover now