𝟒𝟐. 365 dias

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Naquele dia, a cidadezinha de Ellijay amanheceu mais fria do que o normal, porém não o suficiente para cancelar a consulta semanal de Steve

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Naquele dia, a cidadezinha de Ellijay amanheceu mais fria do que o normal, porém não o suficiente para cancelar a consulta semanal de Steve.

Ele praticamente praguejou quando recebeu a mensagem via SMS de confirmação, esperando que surgisse algum dano irreversível no carro da sua terapeuta.

Ele atravessou o percurso até Atlanta sem se preocupar com o caminho que decorou após alguns meses fazendo o mesmo trajeto, e desde o seu ponto de partida – exatos uma hora e vinte minutos –, Steve se encontrava parado na calçada, em frente ao prédio de seis andares que ele aprendeu a repugnar.

Em passos alongados, Steve atravessou a catraca da recepção sem precisar se identificar, graças a sua frequência ao local e o porteiro que preenchia seu turno diariamente, e entrou no elevador, observando a cor azul reluzir ao redor do botão ao pressionar o número quatro.

Quando as portas se abriram, Steve ignorou a sensação de inquietude crescente em seu peito e se concentrou no calafrio que o ar-condicionado causou contra a sua pele ao entrar na recepção do consultório; a máscara da sua melhor versão de impassibilidade vestida em seu rosto.

A direita do balcão da recepcionista, que sempre tinha um sorriso singelo, independente da hora do dia, havia uma enorme parede de vidro refletindo a paisagem da cidade. A sala de espera tinha paredes amareladas, poltronas aconchegantes de tons neutros, um purificador de água em um canto e uma mesa de centro com revistas sobre possíveis looks natalinos do ano passado que ele já tinha lido repetidas vezes apenas para matar o tempo.

— Senhor Evans — a recepcionista o cumprimentou pelo sobrenome falso, entregando o formulário para ser assinado — Como sempre pontual.

Não é como se ele tivesse outra opção.

Como o habitual, Steve rolou os olhos rapidamente pela folha, fingindo checar os dados falsos que ele forneceu para a sua vida de fachada, e rasurou uma rubrica sobre a linha no rodapé da página.

— Eu sempre venho, não é? — a mulher sorriu, recolhendo a folha de papel assinada.

— Pode entrar. A doutora Brown já está a sua espera.

Steve agradeceu mentalmente, sem pretensões de se esforçar para ser simpático. Não estava apto a esperar mais tempo por aquela tortura que durava cerca de cinquenta minutos.

— Evans — cordialmente, a terapeuta o recepcionou assim que notou a presença dele em seu consultório.

— Senhora Brown... — ele a cumprimentou no mesmo tom.

— Sente-se, por favor.

Ele respirou fundo exalando o desconforto que impregnava o ar daquele cômodo e sentou-se no estofado cinza de três lugares, de frente para uma poltrona marrom, onde a terapeuta costumava se sentar.

RUN with ME | romanogersWhere stories live. Discover now