𝟐𝟗. Zona de segurança

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Contra as janelas da cabana, a chuva se tornava cada vez mais forte, abafando o estalar contínuo das labaredas que queimavam a lenha na lareira

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Contra as janelas da cabana, a chuva se tornava cada vez mais forte, abafando o estalar contínuo das labaredas que queimavam a lenha na lareira. Do lado de fora, trovões e estrias de raios cortavam o céu com tons de cinza e azul tempestuoso da manhã.

Natasha se encolheu sobre o tapete desgastado da sala quando um estrondo a atordoou, imaginando o quão ruim seria se não tivessem encontrado aquele lugar antes de serem atingidos pela tempestade que sequer demonstrava sinais de que daria uma trégua pelas próximas horas.

Steve estava na cozinha, ainda que ela não fosse capaz de vê-lo por completo; uma parede dividindo os dois cômodos, apenas a sombra do seu corpo surgindo esporadicamente através da porta aberta. O cheiro forte e inebriante de café não demorou a atingir o seu olfato, imaginando o homem robusto diante do fogão, preparando os grãos torrados no coador para preencher as xícaras com o líquido escuro.

Natasha estremeceu ao sentir uma brisa fria atravessar sorrateiramente as frestas da janela, puxando a gola do suéter dois números maior do que o seu tamanho, em uma tentativa de acalentar o frio em sua face e uma tosse persistente.

Talvez uma pneumonia estivesse corroendo os seus pulmões. Aquele seria um ótimo momento para ter a Maria por perto.

— Aqui... — seus olhos correram em direção a voz de Steve, que se aproximava com duas canecas nas mãos — Cuidado para não se queimar. Está bem quente.

Ela apenas sorriu, alcançando a superfície de porcelana sem conseguir esconder o suspiro de satisfação que lhe escapou ao sentir o calor acalentar suas palmas gélidas.

— Maria terá que dar uma olhada em você — Steve sibilou após ouvi-la tossir mais uma vez.

— Não é nada demais.

— Eu até aceitaria isso se você não tivesse se aventurado em um incêndio há três meses atrás.

Tudo estava tão caótico que ela tinha esquecido daquele mero detalhe. Desde o atentado ao Seattle Grace, os seus pulmões não eram os mesmos. O primeiro mês foi o mais difícil de lidar: tosses secas que arranhavam a sua garganta e uma falta de ar que parecia corroê-la por dentro, além dos inúmeros antibióticos e das horas em nebulização.

Se sentia sortuda por ter Maria ao seu lado para acompanhá-la. Sendo uma excelente médica cardiotorácica, ela foi crucial para a sua melhora. Natasha nem gostaria de imaginar o quão furiosa ela ficaria quando soubesse que todo o seu trabalho e esforço tinha ido direto para o ralo. "Morrer" afogada não fazia parte do tratamento médico.

— Ok — era apenas uma resposta para acalma-lo diante de tantos problemas, ainda que soubesse não ser o suficiente para convencê-lo.

Ela o observou andar até a janela, pela enésima vez. Os olhos azuis celestiais por trás dos fios rebeldes de seu cabelo comprido buscando, através do vidro molhado, sinais de que aquela zona de segurança que haviam encontrado estava com os minutos contados.

RUN with ME | romanogersWhere stories live. Discover now