𝟑𝟎. De coração aberto

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Steve tinha acabado de sair de uma reunião com a Maria, longos minutos revezando entre preencher o estômago com um prato de espaguete com almôndegas e ditar todos os detalhes do dia anterior a partir do momento em que Natasha entrou no carro, além...

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Steve tinha acabado de sair de uma reunião com a Maria, longos minutos revezando entre preencher o estômago com um prato de espaguete com almôndegas e ditar todos os detalhes do dia anterior a partir do momento em que Natasha entrou no carro, além de lidar com um sermão colossal que recebeu pelo vacilo que causou.

Ainda que Maria não o culpasse diretamente pelo ocorrido, ouvindo tudo o que ele tinha a dizer com cautela e entendendo boa parte da situação, Steve compreendia as entrelinhas, sendo astuto em lê-la corporalmente. A face, por mais neutra que ela estivesse, denunciava que certa proporção daquele caos pertencia a ele, afinal era o responsável pela vida de Natasha enquanto estiveram fora, e por muito pouco, ele falhou naquela missão.

Não foi preciso que determinadas palavras fossem pronunciadas. Para Steve, aquilo não seria capaz de mudar o sentimento de culpa que o atordoaria dali por diante, como se estivesse afundando em areia movediça, o engolindo centímetro por centímetro.

— Você está bem? — Maria sibilou após encerrar o assunto, o tom de voz oscilando entre autoridade e preocupação. Steve percebeu que ali ela não era mais a encarregada da missão e sim uma amiga.

— Tirando a fome sem fim e o frio que parece estar alojado em meus ossos, é, está tudo bem.

— Vocês tiveram sorte — ela admitiu, as costas contra a bancada de mármore enquanto os braços se mantiveram cruzados contra o peito — Natasha teve sorte.

— Como assim?

— Quem seria louco o suficiente para pular de uma ponte por ela? — era uma pergunta obviamente retórica — Convenhamos... todos nós amamos a Natasha, mas existem limites.

— Não foi nada demais.

— Então você faria isso por qualquer um? — Steve ponderou por alguns instantes, a única pessoa vindo em mente sendo a sua mãe.

— Eu não pensei muito bem quando agi — disse simplório, sendo parcialmente verdadeiro.

— E graças a sua falta de juízo, ou delírio momentâneo, ela está viva — Maria deixou um afago sobre o ombro dele — Estamos te devendo uma.

Quando Steve finalmente se viu sozinho na cozinha, notou como o corpo pesou, a adrenalina se esvaindo aos poucos e o cansaço tomando conta dos seus músculos. Estava acordado a mais de vinte e quatro horas e por mais que desejasse estar acomodado em sua cama no andar superior, ainda havia muito o que ser feito para que não ocorresse nenhuma outra catástrofe durante a transferência.

Com todo o caos que aconteceu, aquele chalé não era mais seguro.

Após deixar escapar um suspiro pesado, Steve encarou a paisagem através da janela sobre o fogão de seis bocas da cozinha; o sol começando a desaparecer na linha do horizonte, deixando para trás um céu pintado com tons de cinza e azul-escuro, compatíveis com a tempestade que planejava voltar a cair. Quando os olhos começaram a insistir em fecharem, ele deixou a louça suja no lava-louça e repetiu o ato de Maria, deixando a cozinha para trás.

RUN with ME | romanogersWhere stories live. Discover now