CAPÍTULO 18 - LUA E ANCESTRALIDADE

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O TEMPO É UM ALVO LÍMPIDO EM TODAS AS NOSSAS CERTEZAS, resta aceitar a sua faca afiada ou quem sabe revidar num trabalho duro e incerto, onde nossa única opção é continuar em frente e aprender com nossas falhas, somos a soma de tudo o que passamos na vida e como reagimos aos obstáculos que nos impedem de sermos plenos.

Oyá e Obá nunca se aceitaram e nem se suportavam, isso era nítido, não precisavam disfarçar. mas ambas reconheciam o valor de cada uma. Se respeitavam e delimitaram os limites de convivência.

Obá a instruiu pessoalmente em todos os meandros do culto da ancestralidade feminina, esperando que a jovem ao tomar conhecimento desse poder tivesse uma mudança de personalidade, que ela ficasse mais comedida, mais sóbria, mas dois meses foram o suficiente para que Oyá de posse de seus dons se tornasse uma das mais destacadas sacerdotisas das Geledés, quanto a mudança de comportamento que a mulher mais velha esperava isso não ocorreu. Ela demonstrava um talento natural para o comando dos espíritos, que Obá reconhecia. Mas detestava a impulsividade e o orgulho que emanavam da jovem, a achava uma doidivanas, esperava que a lição que lhe dera, de que ela não era invencível, que sempre existia alguém mais forte, fosse de suma importância.

Os dias logo em seguida a derrota de Oyá na justa, foram de um treino pesado onde a mais velha a instigava ao seu limite, o esforço se viu rapidamente no corpo da neófita: músculos firmes nos braços e coxas mais torneadas, que contrastavam com seu rosto afilado e alegre. Amanhecia sempre com o corpo doído, mas não se queixava nunca. Obá a admirava por sua tenacidade, mas, como a mesma era sempre sisuda, eram seus olhos que expressavam alguma emoção.

O término de seu aprendizado foi brusco. Numa manhã, Obá chegou para seu grupo e falou que Oyá iria ingressar de vez no grupo, para tanto ela deveria confeccionar a sua máscara e roupas cerimoniais para que pudesse participar da próxima cerimônia antes da Lua Cheia dali a sete dias, pois logo em seguida, ela iria sair em desafio por cidades distantes. Já fora avisava inclusive que Ogyan, um dos mais conhecidos Guerreiros Brancos, a estava esperando e tinha aceitado lutar com ela. Falou isso com os olhos estreitos brilhando e o Sol refletindo-se em seu corpo negro luzídio.

Oyá discretamente admirava sua força, mas a achava enfadonha com sua mania de ser sempre correta em tudo, ela a irritava com sua fala comedida e calma, essa mania de sempre ser a mais forte, de se provar superior aos homens, mas temia seu humor que escondia águas calmas na superfície, mas com correntes caudalosas e profundas em seu interior, que poderiam fazer qualquer um ser puxado para suas profundezas.

O grupo de 14 mulheres era diferente entre si, algumas eram simpáticas com ela, quase todas eram da mesma idade de Obá, todas na faixa de uns 30 e poucos anos, algumas eram fugitivas que encontraram segurança no grupo, todas tinham o celibato como uma norma de vida e metade eram virgens, incluindo a líder, pelo pouco que conseguira pesquisar entre as que se dispunham a falar. Fora o estilo de vida de Obá, que inspiraram-nas a juntar-se numa sociedade que imprimia medo em muitos povoados e principalmente entre os homens. Escutara algumas histórias que seu pai contou e conhecendo-as agora achou que eram mais lendas do que fatos.

Estavam reunidas em círculo embaixo de um Apaoká (Jaqueira) grande e frondoso, no chão alguns frutos estavam espatifados devido a queda, o cheiro doce da jaca impregnava o ambiente. Todas prestavam atenção no que sua líder falava.

- Pois bem! Quem tem algo a dizer a respeito da entrada de Oyá em nosso meio? Preciso deixar isso acertado, pois partirei em poucos dias para Ejigbô onde me encontrarei com o Rei de lá, o guerreiro Ogyan. Precisamos fazer os preparativos para o ritual, quando a Lua estará Cheia. - Falou apressadamente, Oyá percebeu que ela estava ansiosa, quase excitada com da perspectiva da luta iminente, ela ainda não entendia o porque desses desafios a esses guerreiros todos, mas sabia que a fama de Obá estava correndo o mundo. Compreendia que ela precisasse se afirmar dessa forma por causa de sua insegurança, era como se a mesma não quisesse ser reconhecida como feminina e somente a força poderia tirar da cabeça de todos o que ela era de fato: uma mulher!

Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora