CAPÍTULO 11 - A REUNIÃO NAS ÁRVORES

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Ela envia pesadelos, enfraquece os corpos, doenças acometem o corpo e o espírito, dores exaltam a barriga, levam embora os olhos e falta de ar aos pulmões das pessoas, febres, dores de cabeça, não deixa que as mulheres engravidem e não deixa as grávidas darem à luz, miséria, rancor e morte são suas dádivas. Tudo é pretexto para que Iya Mi se ofenda. Como é muito astuciosa, para justificar sua cólera, ela institui proibições (ewô) que não propaga de boa vontade, pois assim poderá alegar que os homens as transgrediram e assim os poderá punir com rigor, mesmo que as proibições não sejam violadas, seus filhos os Ajoguns são enviados para destruir e matar indiscriminadamente quem atenta contra essas proibições.

As feiticeiras ficam ofendidas se alguém leva uma vida muito virtuosa, se alguém é muito próspero, feliz e junta uma fortuna honesta, se é por demais bela ou agradável, se goza de muito boa saúde, se tem muitos filhos, e se essa pessoa não pensa em acalmar os sentimentos de ciúme dela com oferendas em segredo. É preciso muito cuidado com elas.

Quando as Iya Mi reúnem-se, elas levam uma vítima ou o sangue de uma pessoa e comem as entranhas e bebem juntas o seu sangue. Seguem o cheiro do rastro do sangue do fígado e do coração no corpo humano, especialmente apreciados como iguaria por elas, pois são centros de poder (Axé), pois fazem circular a energia no corpo, direcionando-as em toda a matéria viva.

Só existiu um homem que conseguiu apaziguá-las e contê-las, descobrindo assim suas fraquezas: Orunmilá, o maior Babalawô (adivinho) da Terra (Aiyê) e por isso é a pessoa mais odiada por elas desde sempre.

Todas que iam chegando se posicionavam ao redor da fogueira pequena, o fogo as dizia que estavam em sua absoluta quantidade, sem uma só faltar, o que a Iyalodê (Chefe feminina) iria trazer com certeza poria fim ao sistema que tanto queriam derrubar: o poderio masculino dos funfun (Brancos) e reescrever a vida de acordo com suas ordens: As teorias do Caos e da Incerteza demonstraram a saga do Cosmo que organizou-se ao desintegrar-se, aniquilando a antimatéria pela matéria, a autodestruição de numerosos astros, colisão de galáxias, elas sabiam que o que existia podia ser destruído e portanto faltava pouco, a Chave seria importante, além das mulheres de grande axé (força) que estavam nascendo e que eram parte delas, suas filhas, pois todas as mulheres eram suas filhas, toda mulher era uma Ajé (Feiticeira)!

O guincho alto faz paralisar a respiração e o vento quente. Quando todas ergueram suas cabeças e olharam para cima viram contra a escuridão da noite asas grandes desenhadas pela luz escassa que penetrava sua escuridão densa, aos poucos as árvores agitaram-se quando elas aplainavam e com o vento produzido de sua movimentação. Devagar e elegantemente a grande coruja negra desceu, espalhando folhas verdes, quebrando pequenos galhos e quase apagando a fogueira. O animal era grande, via-se que era antinatural uma ave ter um tamanho daqueles. De uma asa a outra deveria ter uns quatro metros, sua cabeça era de uma coruja normal, mas seus olhos eram fundos, com um amarelado que jorrava uma luz fraca; seu bico media uns trinta centímetros e era fino e agudo como uma faca. Seu peito era forte, bem como suas pernas que terminavam em garras grandes que fechadas poderiam esmagar a cabeça de uma pessoa. Ela trazia um corpo humano que pelo visto estava vivo. Um homem! Elas perceberam antegozando de prazer e seus olhos brilhavam com uma luz incomum, vítreos, refletindo o fogo que nessa hora se tornava azul.

O animal grande conforme mudava para sua forma anciã fazia com que quem não a conhecia tivesse medo, as mais novas ainda tinham o respeito que o temor incita aos inseguros. Ela via as asas se transformarem em um manto gasto encobrindo seus longos braços magros, suas mãos esquálidas continham braceletes de bronze e seu pescoço longo era carregado de colares de búzios, seus seios murchos chegavam até seu umbigo. Todas reverenciavam a Iyálodê (Senhora Chefe). Depois de todos os cumprimentos ela se dirigiu ao centro da clareira e ficou em frente ao fogo, que lhe iluminava os olhos com um azul sobrenatural.

Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora